domingo, 27 de novembro de 2022

ANTONINA EM 1854 (PARTE 3)

 

ANTONINA EM 1854 (PARTE 3)



Charge denunciando o recrutamento forçado no Brasil do século XIX
As eleições de 1854 no paraná foram feitas sob a vigência da nova “Lei Regulamentar”, de 1846. Quem elaborava as listas e coordenava os trabalhos de votação eram as mesas eleitorais dos distritos. Cabia ao Juiz de Paz, juntamente com os eleitores de paroquia eleitos nas ultimas eleições montar as tais mesas. Como as mesas eleitorais escolhiam que podia e quem não podia votar, seu controle era disputado pelos partidos. Em Paranaguá o Juiz de Paz que enviou a lista de votantes era Manoel Antônio Guimarães, futuro Visconde de Nácar, destacado comerciante e membro do Partido Conservador. Nesta eleição Guimarães foi leito deputado provincial. Um dos seus genros um foi eleito deputado provincial e outro deputado geral.  Dizia-se, não sem razão, quem controlava a mesa controlava a eleição.
Em 1854 foram realizadas as primeiras eleições para senador da nova província. Como mandava a legislação, foi eleita uma lista tríplice, posteriormente enviada ao Imperador. O Senador vitalício escolhido foi o mais votado: João da Silva Machado, o Barão de Antonina. Nascido no Rio Grande do Sul, João Machado era envolvido com o comércio de tropas. Sua base era a região dos Campos Gerais, principalmente em Castro.
Não tinha nenhuma relação com a cidade que lhe conferiu o baronato. Aliás, seu título de barão foi resultado de sua lealdade ao poder imperial durante a Revolução Farroupilha e durante a Revolução Liberal de 1842. Foi também um grande incentivador da imigração alemã na província, que culminou com a fundação da colônia alemã de Rio Negro. Aos 72 anos e residente em São Paulo, esta eleição foi um momento alto de sua vida.
O poder na província do Paraná, assim como em todo o Brasil, era um privilégio dos mais ricos. As pessoas simples deveriam, neste contexto, procurar a proteção de um patrono a quem pudessem recorrer nas necessidades. As famílias mais poderosas tinham ao eu redor um grande número de agregados.
Um agregado era uma pessoa que, mesmo sem vínculos de sangue, fazia parte da família em troca de favores. Podia ser um pequeno agricultor que tinha autorização para ter sua terra na propriedade do senhor, ou algum trabalhador urbano avulso que fizesse pequenos serviços em troca de sustento.  As teias de patronagem da sociedade imperial procuravam abranger a todos, em complexas relações de favores e obrigações.  
Uma das maiores ameaças para os homens livres pobres era o recrutamento forçado. Por qualquer motivo – brigas, bebedeiras, ou vagabundagem – alguém podia ser enviado para servir seja no exército seja na marinha ou em alguma milícia. Este recrutamento forçado era utilizado com instrumento de barganha pelas autoridades, tentando conter a violência e garantir a lealdade das pessoas mais humildes.
Em geral, estes alistados a força não tardavam em desertar. O resultado é que a maior parte do trabalho policial era prender e remeter de volta estes desertores a suas unidades. Em novembro de 1854  (ver aqui) José Pereira, natural do Sambaqui, em Antonina, a pretexto de “mal comportado e vicioso” havia sido recrutado para a marinha.
Entretanto, a prisão de José Pereira havia se dado próximo de eleições, quando o recrutamento era proibido. Colocado no navio para o Rio de Janeiro, onde serviria na Marinha Imperial, José Pereira havia conseguido fugir. Agora, travava uma luta judicial para provar que não era desertor.
O transporte tanto dos recrutas quanto dos desertores – era tudo a mesma coisa – era feito da mesma forma que para os escravos.  Em 1855 o delegado de Policia de Antonina foi ressarcido pelo transporte de “recrutas e desertores” de Antonina para Paranaguá (ver aqui). Para tanto, o delegado José Dias Barbosa havia comprado correntes, gargalheiras, algemas e cadeados para o transporte. Foram transportados ao todo onze desertores e três recrutas (ver aqui). 
(Continua)

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