segunda-feira, 28 de novembro de 2022

RELEMBRANDO A FÁBRICA LUCINDA

 RELEMBRANDO A FÁBRICA LUCINDA

A história dos biscoitos e bolachas da fábrica Lucinda começou um pouco antes da sua criação em 191, conforme veremos:
Paulo Grötzner, seu fundador, nasceu em Curitiba em 15/05/1873 e, desde cedo estudou na Deutsche Schule (Escola Alemã). Ainda adolescente trabalhou na firma do sr. Eduart Engelhard, o qual fabricava cervejas e licores.
Aos 16 ou 17 anos foi morar em São Paulo com o objetivo de apreender os ofícios ligados à panificação e confeitaria. Lá permaneceu por três ou quatro anos como aprendiz e teve excelentes mestres.
Como bom trabalhador, na capital paulista começou pela base entregando pães e congêneres pelos bairros, conforme Atestado de Habilitação nº 1457, emitido pela Câmara M. de São Paulo, o qual autorizava-o a "Dirigir a Carrocinha de Padeiro nº 2198".
Além de ter sido um ótimo aprendiz, foi um empresário nato, fez contato com importadores, conheceu produtos e métodos de fabricação. Foi sobretudo um grande e perspicaz comerciante. Genial sob muitos aspetos.
De volta a Curitiba em 1895, Paulo estabeleceu sua primeira casa comercial na Praça Ozorio, esquina da rua Cabral, dedicando-se além da fabricação de pães e doces, à importação e comércio de produtos alimentícios e outros.
Em 1903, adquiriu a propriedade na Avenida João Pessoa nº 85 (atual Luiz Xavier), inaugurando a padaria Lucinda, onde teve um grande sucesso ao fabricar panifícios com base nos costumes alemães.
Na foto de 1904, vê-se a família Groetzner na sacada do edifício, com destaque para sua filha Lucinda, cujo nome seu pai deu a seus empreendimentos, em sua homenagem.
Com seu grande espírito empreendedor e o conhecimento dos costumes europeus, ele logo criou um sistema de distribuição do panifício através de carrocinhas, as quais podem ser vistas na foto.
Com o sucesso, Paulo comprou um sítio no bairro Juvevê onde montou instalações adequadas a uma grande fábrica que também levou o nome Lucinda.
O “Jornal Reclamo", em sua edição do dia 12 de Janeiro de 1914, publica uma reportagem promocional, abordando uma entrevista com Paulo Grötzner sobre a nova fábrica. A seguir dois destaques:
“A fábrica está estabelecida em uma bem acabada casa de madeira e cimentada por dentro, notando-se em tudo, esmerado asseio.”
Em um compartimento separado, está colocada uma enorme machina a vapor, ingleza, marca <Buston> da firma Procter & Comp. Cuja machina tem força de 20 cavallos.”
“Essa machina fornece também a luz elétrica durante a noite, ao estabelecimento e a vivenda particular do proprietário.”
“A fabrica occupa dois pavimentos: o térreo e o superior e possue differentes apparelhos systemas bem aperfeiçoados, para o fabrico das suas manufacturas: possue também um forno mechanico de mede 14 metros de comprimento, por 3,50 de largura. Esse forno assa 1200 kilos de biscoutos em 24 horas e a sua temperatura é graduada por um pyrometro: o seu valor está calculado em 24:000$000 !”
“A farinha destinada ao fabrico das bolachas, passa primeiramente por uma peneira automática, depois do que, passa por uma batedeira cylindrica, a fim de transformá-la em massa finíssima e com todos os necessários preparos e engredientes.”
“Para que a massa torne-se mais macia e de fino sabor é levada novamente a um outro cylindro automático.”
“Após a massa estar bem macia e em condições de ser moldada, é passada por outro cilyndro afim de extender-se e depois levada para uma enorme mesa. O aparelho cortador com feitios diferentes traz a marca <Bage- Borbeck>, que transforma em pouco tempo centenares de moldes exquisitos e delicados.”
Após relacionar produtos fabricados com seus nomes e preços, bem como tipos de embalagens, continua:
“Por ahi se vê que a fabrica Lucinda acha-se apparelhada para fazer concurrencia a qualquer praça, por mais exigente que seja, não só no Paraná, como nas dos demais Estados do Brasil”.
“Porém, seja-nos permittido referir que os impostos que sobrecarregam as suas indústrias manufactoras, são demaziados, alegações estas do laborioso industrial, que se vê onerado de tantos compromissos perante os differentes cofres arrecadadores.”
A reportagem finaliza:
“O Sr. Paulo Grötzner que na fabrica Lucinda impacou para mais de uma centena de contos de réis, deve merecer de nós, seus patrícios, o nosso apoio, devemos dar preferência aos seus produtos.”
“Biographar a vida do laborioso industrial é dizer que o Sr. Paulo Grötzner desde a sua juventude, isto é, desde que para o Paraná viera (?) se entregára de corpo e alma ao commercio na Capital. Principiando por simples caixeiro, sendo hoje, dono de uma fortuna invejável, conquistada a custa do seu trabalho honesto.”
“O Sr. Grötzner é o exemplo edificante do commerciante industrial.”
A fábrica Lucinda dedicou-se inicialmente à fabricação de biscoitos e bolachas. Em 1916, aumentou sua linha de produção com a fabricação de balas, caramelos, chocolates e confeitos e com a instalação de uma torrefação de café. Três anos depois, montou uma destilaria, iniciando a produção de bebidas.
Em 1925, instalou máquinas para a fabricação de macarrão e talharim. Nos mesmos moldes de outras indústrias auto- suficientes, como a Matarazzo, a Lucinda mantinha, além da linha de produtos, outras indústrias auxiliares, cuja produção era absorvida pela principal.
Contava com fiinilaria, carpintaria, marcenaria, fábrica de caixas e uma oficina mecânica completa, para a assistência ao maquinário. Assim, as caixas de madeira e latas de folha consumidas para o acondicionamento dos produtos eram de fabricação própria. Outra característica da indústria foi a manutenção de um armazém de secos e molhados, aberto em 1937, para atender aos seus empregados.
Contava com vendedores que recebiam por comissão e viajavam pelo interior do Paraná e Santa Catarina. Estes vendiam mercadorias produzidas ou industrializadas pela fábrica, apresentadas em um catálogo em papel couchê, com ilustrações coloridas de todos os produtos.
No início da década de 50, a indústria, agora dirigida pelos filhos do fundador, ocupava uma área dez vezes maior que a inicial e dedicava-se exclusivamente à produção de biscoitos, bolachas e massas alimentícias.
Localizada na Avenida Anita Garibaldi, a fábrica era constituída por um bloco principal, composto de vários pavilhões, e outras construções menores que circundavam o prédio. Dentro do espírito de indústria familiar, os proprietários mantinham algumas casas no terreno da fábrica que eram cedidas aos empregados mais antigos ou àqueles cujo trabalho exigisse uma maior proximidade com a fábrica.
Os produtos da Fábrica Lucinda marcaram época, e Paulo Groetzner se tornou um dos nomes mais expressivos do cenário industrial em Curitiba. A Fábrica de Biscoitos Lucinda funcionou sob este nome até 1980, ao ser incorporada pela indústria de alimentícios Tip Top. Paulo Groetzner faleceu no ano de 1933, em Curitiba e sua importância enquanto empreendedor foi reconhecida com a escolha de seu nome para o batismo de uma via da Cidade Industrial de Curitiba.
Paulo Grani

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As primeiras instalações da Fábrica Lucinda. Mesmo instalado nelas, Paulo permaneceu por um bom tempo com a Padaria Lucinda no centro de Curitiba.
Foto: Acervo Casa da Memória de Curitiba
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Nesta foto, vê-se as ampliações havidas pouco tempo depois.
Foto: Acervo Casa da Memória de Curitiba

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Vista aérea da fábrica Lucinda em seu apogeu nos anos 1940.
Foto: Acervo Casa da Memória de Curitiba

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Operárias trabalhando na secção de embalagem.
Foto: Acervo Casa da Memória de Curitiba

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Funcionários trabalhando na secção de balas.
Foto: Acervo Casa da Memória de Curitiba

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Funcionários trabalhando na secção de de fornos.
Foto: Acervo Casa da Memória de Curitiba

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Uma de suas logomarcas, faz menção à estrada de ferro Paranaguá-Curitiba.
Foto: Acervo Casa da Memória de Curitiba

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Em foto de 1904, a antiga Padaria Lucinda na av Luiz Xavier nº 85. A pequena Lucinda aparece na sacada, entre os pais.

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O casal Groetzner em foto feita num atelier de Hamburg, em uma de suas viagens de negócios.

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A família Groetzner chegando próximo ao sítio adquirido onde o grande empreendimento foi instalado no Juvevê (ao fundo uma olaria vizinha). Da direita para a esquerda, Paulo, Lucinda, Ida, Affonso e Alois.

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