sexta-feira, 8 de setembro de 2023

FEB: FILHO CONTA A HISTÓRIA DO PAI, FERIDO TRÊS VEZES NA GUERRA

 

FEB: FILHO CONTA A HISTÓRIA DO PAI, FERIDO TRÊS VEZES NA GUERRA


João, com 15 anos

João Duran Alonso era nascido em Piracaia/SP, em 06 de novembro de 1920. Ele era neto de espanhóis e media 1,64 metros. O pai dele se mudou com a família para trabalhar com comércio em Bragança Paulista e desde criança, João o ajudava em uma quitanda, pequena mercearia familiar, vendendo bananas na rua. Era o filho mais velho de quatro irmãos.

Adolescente, foi trabalhar em uma fábrica de tecidos chamada Santa Basilícia. Tinha só 14 anos de idade. Ali conheceu Iracema, com que anos depois se casaria. Ficou no emprego até ter idade para se alistar na “linha de tiro” ou “Tiro de Guerra”, que era o formato de prestação de serviço militar da época, sendo administrado em uma parceria entre o Exército e as prefeituras.

Depois disso foi para a reserva e quando estourou a Segunda Guerra Mundial, foi convocado, em 1942. De Bragança, foi destacado para Lins, depois Caçapava e dali para a Itália. Serviu como cabo e, mais tarde, foi promovido a 3º sargento, comandante de grupo de combate em uma das Companhias do III Batalhão do 6º Regimento de Infantaria.

Onze soldados estiveram diretamente sob a responsabilidade de João, durante toda a guerra. Um deles, de nome Lindolfo, foi ferido em combate e carregado pelo 3º sargento, por nada menos do que 6 km até as linhas brasileiras.

Teve batismo de fogo no Vale do Serchio, esteve em Torre di Nerone, Monte Castello, Rocca Pitigliana e Montese, onde quando avançava com seus homens, entre Cota 824, Monte Buffoni e Cota 927, foram alvo de grande concentração de tiros de morteiro e artilharia alemã. Foi assim que João foi ferido, vítima de um estilhaço.

Ele podia ter retornado para a base de partida, para ser atendido, mas, recusou deixar os comandados, pediu apenas um curativo e continuou com seus homens, mesmo sob constante bombardeio. Mantiveram a posição que ocupavam e só saíram dali quando veio ordem superior. Por isso, recebeu a Medalha Cruz de Combate de 1ª Classe (ato de bravura individual) e mais a Medalha Sangue do Brasil (por ter sido ferido). Até o final da guerra ainda seria ferido outras duas vezes, sem precisar sair do front, com receio de ser afastado do grupo de combate dele, que ele tanto cuidava como se fossem irmãos.

A chegada

A guerra acabou e ele voltou para casa. Foram três dias de festa quando os soldados retornaram para a cidade deles em São Paulo, em 1945. O primeiro que recebeu João, foi o cachorro dele, chamado Kiki, conhecido na cidade e que gostava de passear pela estação ferroviária. No dia em que o trem com os expedicionários chegou a Bragança, Kiki correu procurando o amigo e foi o primeiro a encontrá-lo em uma das composições. Já em casa, passou a noite toda chorando na janela de João, emocionado e querendo o colo do tutor.

João (primeiro da direita agachado) e colegas de Bragança, no retorno para casa

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De volta à vida civil, com a terceira parte do pagamento que ele depositava na Caixa Econômica e mais o que o pai dele havia guardado de uma segunda parte que ia para a família do expedicionário, João montou um pequeno comércio. Porém, as coisas não iam muito bem e após alguns anos ele saiu do empreendimento para o serviço público, para trabalhar como avaliador da Prefeitura de Bragança Paulista.

Em companhia de um motorista, ele andava toda a região e era pessoa de confiança da administração.

O trágico fim

Antes da guerra, João sabia que tinha um problema digestivo que o acompanhava desde a infância, que um dia precisaria fazer uma cirurgia para resolver. Por ser uma cirurgia de risco e não afetar o desempenho dele como soldado, ignorou a doença e seguiu a vida.

Poucas semanas antes do falecimento. O menino é o João Filho, primogênito do pracinha, com as medalhas do paiEm um dia, à serviço da prefeitura, João parou para apanhar uma goiaba na beira do caminho, comeu e passou mal por conta do problema digestivo que sempre o acompanhara. As coisas se complicaram e ele precisou de uma cirurgia urgente. Não resistiu ao pós-operatório e faleceu aos 42 anos de idade, em 1962.

A viúva, Iracema Lopes Duran ficou com os dois filhos: um de 11 anos e outro que ia fazer quatro anos. A família ainda teve mais uma perda: o pai de Duran, que tinha câncer, faleceu uma semana depois do filho. Foram meses difíceis, com dificuldades financeiras e muita luta pela sobrevivência.

Coube ao irmão de João, chamado Sebastião, que tinha prometido tomar conta dos meninos, uma iniciativa brusca para solicitar ajuda do Governo. Ele escreveu uma carta para o Ministério da Guerra, em que dizia: paguem uma pensão para ajudar a família ou eles terão que vender as medalhas do falecido para honrar dívidas.

Medalhas de João, hoje em poder dos filhosA resposta veio em seguida: que anexassem documentos comprobatórios e entregassem na Associação de Ex-combatentes de São Paulo. Depois disso, Sebastião ainda precisou ir ao Rio de Janeiro, no Ministério da Guerra, para poderem ter direito ao auxílio. Assim foi feito e a família pôde ter alguma ajuda do Estado.

Os filhos cresceram e puderam estudar. Um se formou em enfermagem (Joel) e outro em psicologia (João Duran Alonso Filho); e os netos também tiveram uma vida melhor, sendo que há um deles fazendo doutorado (além dos dois filhos, são três netos: Juan, Jovan e Diogo).

Diploma que confirma o ferimento em combate

Joel, o filho mais novo, foi quem decidiu compartilhar a história do pai, como forma de tornar a história de luta dele conhecida. As fotos são do acervo de Joel e da família. Em Bragança Paulista há uma rua com o nome de João e em São Paulo (capital), uma praça.

Iracema, a viúva, descerra uma placa com o nome do marido.

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