RELEMBRANDO O GASOGÊNIO
Carro curitibano adaptado à gasogênio durante a Segunda Guerra Mundial.
(Foto: Acervo Paulo José Costa)
(Foto: Acervo Paulo José Costa)
RELEMBRANDO O GASOGÊNIO
Além da imensa perda de vidas inocentes e desastres indescritíveis, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ainda trouxe outros problemas para os países do nosso planeta. Um dos principais foi a escassez de combustíveis fósseis, o que obrigou nações com menos disponibilidade desse recurso, a adotar práticas diferenciadas para manter suas frotas e serviços funcionando. Uma dessas alternativas, muito utilizada no Brasil e em outros lugares, ficou por conta do gasogênio, uma mistura de gases, produzida a partir de processos de combustão incompleta que “quebrava um galho” para manter veículos funcionando.
Para quem é um pouco mais velhos, as fotos dos carros com equipamentos acoplados na traseira dos veículos, não é tão incomum. Mas para os mais novos, trata-se de um equipamento de outro mundo. Os motores dos automóveis eram adaptados para funcionar com a queima de carvão ou lenha, gerando gases como nitrogênio, hidrogênio, monóxido de carbono e metano. E tinha mais um detalhe: o movimento dos veículos não era automático, sendo que era preciso esperar de 5 a 10 minutos para que o gás, formado no interior dos geradores, tivesse força o suficiente para mover o motor.
No Brasil o gasogênio passou a ser utilizado em 1941, quando Getúlio Vargas ainda estava à frente do nosso país, se bem que alguns veículos já usavam um pouco antes.
Foi ele o grande incentivador do uso desse combustível para evitar que os transportes ficassem debilitados. Durante algum tempo, essa alternativa foi chamada de “gás pobre”, tendo em vista que os donos dos automóveis não gostavam de utilizar essa tecnologia, afinal, os motores perdiam potência e rendimento.
Visando convencer a população de que era melhor utilizar esse gás do que não ter a possibilidade de deslocamento, o governo encomendou um filme chamado “Nosso amigo, o Gasogênio”.
Como é possível analisar, tratava-se de um equipamento bastante caro e, com o passar do tempo, a situação causada pela guerra ficou ainda pior, quando os ânimos se acirraram ainda mais e a chegada de combustíveis fósseis ficou ainda mais difícil ao Brasil. A situação ficou tão grave que o governo baixou um decreto limitando a distribuição do combustível líquido, racionando suas quantidades e praticamente “obrigando” a instalação do gasogênio em ônibus, caminhões, etc.
Se por um lado era comum ver grandes tambores na traseira dos veículos, por outro várias pessoas passaram a deixar seus carros em casa, tendo em vista o alto preço para a instalação dos kits. Algumas empresas brasileiras, vislumbrando uma boa oportunidade de negócio, chegaram a copiar os kits estrangeiros para produzir similares por aqui e, assim, baratear o custo de sua instalação. Esses novos kits foram vendidos até em lojas famosas, como a Mesbla Veículos.
Por fim vale ressaltar que esse sistema não era bom. Estima-se que os motores dos veículos perdiam em torno de 35% de potência.
Uma carga “completa” de carvão rendia entre 100 e 200 quilômetros de autonomia.
A demora para o carro funcionar também era bastante chata, levando de 5 a 10 minutos para que o veículo pudesse funcionar e, dependendo do kit instalado, esse tempo poderia ser ainda maior. Essa época também foi marcada por curiosos hábitos dos motoristas, como o de andar com facões/machados nos carros para, em caso de falta de carvão ou lenha, cortar qualquer madeira que estivesse a mão para reabastecer o veículo.
Com o fim do período de guerra, o petróleo voltou a circular pelo país e o gasogênio passou a ocupar um espaço na prateleira da história do nosso país e das nossa cidades.
(Extraído e adaptado de: saopauloinfoco.com.br / fotos: internet)
Paulo Grani
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