quarta-feira, 22 de novembro de 2023

TAUNAY APAIXONA-SE POR UMA JOVEM ÍNDIA Alfredo d'Escragnolle Taunay, mais tarde Visconde Taunay, foi presidente da província do Paraná, entre 1885 e 1886

 TAUNAY APAIXONA-SE POR UMA JOVEM ÍNDIA
Alfredo d'Escragnolle Taunay, mais tarde Visconde Taunay, foi presidente da província do Paraná, entre 1885 e 1886


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TAUNAY APAIXONA-SE POR UMA JOVEM ÍNDIA
Alfredo d'Escragnolle Taunay, mais tarde Visconde Taunay, foi presidente da província do Paraná, entre 1885 e 1886. Em suas andanças pelos sertões brasileiros, em determinada ocasião, protagonizou um romance burlesco, conforme veremos:
Em relação aos costumes preservados por parte das tribos indígenas daquela época, alguns chocam a “visão de mundo” que Taunay tinha, intrínseca à sua formação e vivência. Em relação aos laços que unem pais e filhas, escreveu:
"D’essa submissão resulta a verdadeira venda que se executa entre o pai de uma mulher nubil e qualquer homem que a queira para companheira ou mero passatempo: ela sujeitar-se-á á imposição paterna, aceitando sem murmurar o esposo, que lhe apresentem ou despresando aquelle, cuja separação aconselharem."
Outros trechos permitem-nos pensar o quão Taunay olha esse “sertão distante, longínquo”, com o olhar do expedicionário-viajante-estrangeiro: “O casamento é ceremonia pouco usual [...]”; “Por dinheiro obtem-se mulher [...]”; “O genio dos indios do districto, em que o ciume é sentimento quasi desconhecido [...]”; “Aos 10 annos, mal apontam os seios, ainda não nubil, é a noiva entregue ao futuro marido [...]”; “Esse habito de entregarem meninas e homens é geral [...]”; “As mulheres envelhecem com extrema rapidez [...]”.
Entretanto mesmo sendo severo em relação a “aparência” do ponto de vista estético, em suas andanças pelos sertões brasileiros Taunay acaba se apaixonando por uma índia da tribo guaná, chamada Antonia, "filha de pai quiniquináo e mãe guaná, que sobre ser verdadeiro typo de belleza pela venustade de rosto, delicado da epiderme e elegancia de corpo, tinha summa graciosidade e donaire”, conforme escreveu.
A vivência na localidade de Morros e a paixão despertada por Antonia em Taunay o levou a viver uma “aventura nos trópicos”, ao se propor “tomar para si” a bela índia, a beleza selvagem, como registrado em suas Memórias:
"Era Antônia uma bela rapariga da tribo chooronó (guaná propriamente dita) e da nação chané.
Muito bem feita, com pés e mãos singularmente pequenos e mimosos, cintura naturalmente acentuada e fina, moça de quinze para dezesseis anos de idade, tinha rosto oval, cutis fina, tez mais morena desmaiada do que acaboclada, corada até levemente nas faces, olhos grandes, rasgados, negros, cintilantes, bôca bonita ornada de dentes cortados em ponta, à maneira dos felinos, cabelos negros, bastos, muito compridos, mas um tanto ásperos.
Sobremaneira elegante de porte, costumava trajar, com certo donaire, vestidinhos de chita francesa, quando não se enrolava à moda dos seus numa julata que a cobria tôda até aos seios.
Seu amigo e amante da índia, o Tenente Lili, mandara [...] buscá-la e aos parentes, de certo ponto além Aquidauana.
Tendo essa gente, ao cumprir a ordem recebida, subido a serra de Maracaju do lado do Morro Azul perto do pôrto do Canuto daquele rio, devia passar pelo acampamento de Chico Dias e depois pelo nosso, do João Pacheco, para descer o outro lado da cordilheira.
Era uma tarde e estava eu acocorado perto do còrregozinho do nosso abarracamento, quando vi chegar a anunciada caravana. Na frente, como é de rigor entre índios, o chefe, atrás a mãe, dando a mão a um filhinho, depois uma rapariguinha, quase moça feita, e afinal a Antônia, montada, esta, ou melhor escanchada, num boi manso.
Taunay se encantou com a imagem a sua frente: "E tão sedutora me pareceu que fiquei tolhido de surprêsa e admiração e de súbito in amado, achando-a muito, mas muito acima de quanta descrição me havia sido feita, até pela própria bôca do Lili, que se gabara, a mim, da formatura da amante.
Sabendo logo que essa gente pousaria perto, por causa da noite, chamei o sargente Salvador, já então meu factotum, e despachei-o a indagar quais os meios que poderiam impedir Miguel Ângelo (assim se chamava o pai) e a família que continuarem a viagem, mudando de intenções em relação ao Lili.
Verdadeiro rapto esbocei. A primeira conferência entre meu embaixador e o índio foi infrutífera, fazendo êste grande alarde não só do cavalheirismo e bondade do tenente, como da amizade que lhe dedicava a rapariga.
Voltando o Salvador à carga, patentearam-se mais algumas disposições no sentido de qualquer acôrdo. Entretanto, as exigências por parte do chefe da família não eram pequenas – um saco de feijão, outro de milho, dois alqueires de arroz, uma vaca para corte e um boi montaria – o que tudo importava, naquelas alturas e pelos preços correntes, nuns cento e vinte mil réis.
Além disto, pleno consentimento da Antônia, que não se mostrava assim, sem mais nem menos disposta, a deixar o Lili que a esperava impaciente."
Mas encantado pela “bela índia” Taunay aceitou as exigências: "Já noite fechada, fui ter com Miguel Ângelo para lhe significar que tudo aceitava, embora o meu intermediário se mostrasse positivamente indignado com semelhantes exorbitâncias. ‘Tôdas as índias juntas, objetava, e mais algumas brancas por cima, não valem todo êsse despotismo de cobreira!’.
A mor de vencer a relutância de Antônia, levara-lhe eu um colar de contas de ouro, que, em Uberaba, me havia custado quarenta ou cinqüenta mil réis. Foi argumento irresistível! Assim mesmo ela, ainda que tôda embelezada do apetecido ornato, adiou para o dia seguinte o sim, mas pediu para ficar desde logo com o fascinador colar.
Acedi de bom grado; mas o salvador se mostrou inflexível, tirando-lho das mãos: ‘Amanhã, amanhã - disse piscando um ôlho - conheço bem estas senhoras e as lograções que sabem pregar’. Vinte e quatro horas depois, todos os compromissos estavam saldados a contento das partes interessantes [...].
Taunay em seus relatos descreve os momentos de “convivência” com Antonia na região dos Morros, entretanto este “amor” é interrompido quando se viu obrigado a retornar ao Rio de Janeiro."
(Adaptado de: memorias.ufrj.com)

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