MITOLOGIA GREGA:
NO REINO DAS SOMBRAS

MITOLOGIA GREGA:

NO REINO DAS SOMBRAS

Nas primeiras representações dos Infernos não existe qualquer conotação de castigo ou recompensa, como na doutrina cristã.

#Homero (séc. IX a. c.) descreve o Érebo como uma vasta planície subterrânea, onde os mortos vagueiam por toda a eternidade como sombras sem inteligência, sem dor nem alegria.

Apenas aqueles que cometeram grandes delitos sofrem castigos. E alguns privilegiados continuam a viver no mundo das sombras exercendo as mesmas atividades que realizavam sobre a terra: Orion, por exemplo, prossegue caçando após a morte.

Mas são exceções; a regra geral nessa concepção primitiva dos Infernos, é a apatia total dos mortos, a existência sem vontade, sem prêmio nem castigo.

Com o passar dos tempos, os gregos se organizaram em cidades, criaram um sistema de justiça, ordem e disciplina, julgando os criminosos e recompensando os benfeitores.

A partir dessa organização social, modifica-se o conceito dos Infernos, que passam a dividir-se em duas regiões distintas: de um lado, o Tártaro, lugar de expiação, onde os maus pagam suas culpas; de outro lado, os Campos Elíseos, ou Ilha dos Bem Aventurados, também imaginada nas profundezas terrestres, onde os bons usufruem as recompensas de suas ações.

Para decidir o destino eterno dos mortos, os gregos imaginaram um tribunal composto de três juízes - Minos, Éaco e Radamanto, e presidido pelo próprio Hades.

Antes de se apresentarem no tribunal, as almas percorriam longa trajetória.

Chegando ao Érebo, ofereciam um óbolo ao barqueiro Caronte.
Era uma moeda que seus parentes lhes haviam posto sob a língua, para pagar a travessia do Estige, o principal rio de acesso aos Infernos.

Os insepultos, que não levavam o óbolo, não podiam entrar na barca; ficavam chorando às margens do rio.

Essas almas, que posteriormente, em ato de desespero para alcançar os Infernos, lançam-se nas águas do rio infernal, permaneciam presas nessas águas por centenas, até milhares de anos, até que os deuses compadeciam-se, os livravam do rio e os colocavam ante ao tribunal para o julgamento final.

Pelas águas do rio, o barqueiro Caronte apenas comanda o ritmo e indica a direção; o trabalho de remar é realizado pelas próprias almas.

Após atravessarem o bosque de Perséfone, coberto de lodo, os passageiros transpõem os portões do Hades, guardado por Cérbero, cão infernal de múltiplas cabeças, filho do monstro Tifão e de Equidna.

Cérbero obedecia apenas as divindades infernais, mas em algumas ocasiões abrandou sua vigilância.

Psiquê amansou-o oferecendo-lhe bolos de farinha e mel; Hermes (Mercúrio) domou-o com o caduceu, sua 'varinha mágica'; Orfeu venceu-o ao som de sua lira; e Héracles, arrastou-o até a superfície terrestre.

Transposto o portão de Hades, as almas desembarcam e postam-se diante dos juízes.

Os que cometeram grandes crimes, especialmente contra os deuses, são condenados às penas do Tártaro.

Rodeados por uma enorme muralha tríplice, ao pé da qual correm as chamas do rio Flegetonte, padecem, entre outros, os Titãs e Gigantes, que lutaram contra Zeus; as Danaides, que mataram seus esposos; Sísifo, que enganara a Morte; Tântalo, que cometera sacrilégio.

O prêmio dos bons é a eternidade nos Campos Elíseos, lugar de temperatura amena, brisas suaves e constante felicidade.

Ali vivem os heróis, os favoritos do Olimpo, os que levaram uma vida de justiça e respeito às ordens divinas e dos homens.

Para manter sempre atuante o tribunal dos Infernos e sempre povoado o mundo das sombras, existe Tánathos, a Morte, principal auxiliar de Hades embora não estivesse submetido a ele.

Tánathos é o deus da Morte e descrito por Eurípedes (480-406 a. c.) como coberto de negro, passeando entre os homens com uma faca na mão.

Outros poetas, entretanto, descrevem-no com uma aparência menos sinistra e dotado de asas.

A atuação de Tánathos, porém, depende da vontade do Destino, força superior aos homens e aos deuses.

Quando Moros, o deus do Destino, decide que é chegada a hora final, Tánathos envia as Queres para executarem a determinação.

Essas divindades infernais apoderam-se do mortal designado, golpeiam-no e arrastam-no para o Érebo.

Quando o mortal apontado para morrer é um perjuro, ou cometeu crimes contra pessoas de sua família, Tánathos manda, em lugar das Queres, as Erínias (Fúrias).

Filha de Gaia fecundada pelo sangue de Urano, as Erínias figuram entre as mais antigas divindades dos gregos.

Eram imaginadas como três deusas negras, aladas, com a cabeleira eriçada de serpentes e portando tochas e açoites. Sentavam-se no umbral da casa do criminoso, e dali não se afastavam até enlouquecerem o culpado e levarem-no, sob suplício, aos Infernos. Mesmo que o crime tivesse sido involuntário o criminoso não escapava à fúria das Erínias.

Porque elas eram encarregadas de proteger a ordem social e punir todo o ato que desagregasse a família, considerada como o sustentáculo da sociedade.

Cabiam-lhes também impedir que adivinhos e profetas revelassem o futuro com muita clareza; não era conveniente que os homens conhecessem o porvir, porque isso representava uma perturbação da ordem. Mais tarde, as Erínias passaram a ser concebidas como executoras de castigos infernais.

Todo esse mundo sombrio era apenas imaginado pelos vivos, pois era vedada à sua penetração.

Na "Odisseia", entretanto, o herói protagonista consegue comunicar-se com as almas dos Infernos. Para tanto, dirige-se ao país dos cimérios, situado numa ilha ocidental, onde sempre era noite.

Para alguns poetas, essa região fazia fronteira com o Hades; para outros, era o próprio Hades, embora a maioria dos gregos localizasse os Infernos nas profundezas terrestres.

No país dos cimérios, Odisseu (Ulisses) abra uma vala profunda que banha com sangue de cordeiro e uma cabra negra.

O túnel subterrâneo transporta o líquido até onde as almas possam bebê-lo pois esta é a sua fonte de força.

A ideia de que os mortos precisam de alimentos encontra-se clara nos ritos fúnebres gregos.

Era costume realizarem grande libações nos cemitérios, jogando farinha e mel sobre os túmulos, na crença de que assim revigoravam as almas.

Embora não acreditassem, como os egípcios, que a vida continuava até fisicamente após a morte, também não consideravam que a morte constituísse um fim absoluto.

Extinguia-se a existência terrena, como processo natural, mas continuava a existência anímica, como processo ultraterreno.

O corpo não persistia, mas a alma e a sombra continuavam através da eternidade, alimentadas de farinha, de mel e do afeto dos vivos.

Hades, justamente, sintetiza, como mito, o conjunto de toda essa concepção grega sobre um mundo que só os olhos da mente poderiam ver, e do qual não era lícito ter outra experiência senão a da fé, da imaginação e da filosofia.

#mitologiagrega

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

MITOLOGIA GREGA: NO REINO DAS SOMBRAS

MITOLOGIA GREGA:NO REINO DAS SOMBRAS (adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});

Nenhum comentário:

Postar um comentário

MITOLOGIA GREGA:
NO REINO DAS SOMBRAS