sexta-feira, 1 de novembro de 2024

A Pepsi foi inventada em 1893 como "Brad's Drink" por Caleb Bradham, que vendia a bebida em sua drogaria em New Bern, Carolina do Norte.


Pode ser uma imagem de 2 pessoas e texto A Pepsi foi inventada em 1893 como "Brad's Drink" por Caleb Bradham, que vendia a bebida em sua drogaria em New Bern, Carolina do Norte.


Foi rebatizada de Pepsi-Cola em 1898, "Pepsi" porque foi anunciada para aliviar a dispepsia (indigestão) e "Cola" referindo-se ao sabor de cola. Alguns também sugeriram que "Pepsi" pode ter sido uma referência à bebida que auxilia na digestão, como a enzima digestiva pepsina, mas a própria pepsina nunca foi usada como ingrediente da Pepsi-Cola.

A receita original também incluía açúcar e baunilha. Bradham procurou criar uma bebida fonte que fosse atraente e ajudasse na digestão e aumentasse a energia.

Em 1903, Bradham transferiu o engarrafamento da Pepsi de sua drogaria para um armazém alugado, e a empresa Pepsi Cola foi formada em 16 de junho. Naquele ano, Bradham vendeu 7.968 galões de xarope. No ano seguinte, a Pepsi foi vendida em garrafas de 180 ml e as vendas aumentaram para 19.848 galões.

Na foto: o local de nascimento da Pepsi. 

A Guerra de Troia - Aquiles

 


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Os romanos descendem de um troiano ilustre, Eneias, herói da guerra de Troia. Assim, os troianos são meio que os antepassados dos romanos. então vamos por aí. Falarei de Eneias em um próximo post. Hoje, a bola da vez é Aquiles, aquele cujo calcanhar se tornou mais famoso do que a maioria das pessoas consegue sonhar para o resto de si. Desde o início, estava claro que Aquiles não era destinado a uma vida de obscuridade, nem de calma. Filho de Tétis, uma ninfa do mar com mais conexões divinas do que um político em época de eleição, e Peleu, um mortal que claramente jogou acima de sua liga, Aquiles estava destinado a ser algo mais desde o berço – ou, neste caso, desde a pia batismal onde sua mãe tentou torná-lo invulnerável, mergulhando-o no rio Estige. Claro, ela segurou-o pelo calcanhar, porque detalhes são importantes, especialmente se eles forem a única coisa entre você e a morte.
Criado por Quíron, o centauro sábio que sabia uma coisa ou duas sobre ser metade uma coisa e metade outra, Aquiles cresceu para ser o guerreiro que todos sabíamos que ele seria. Forte, rápido e incrivelmente bom em manter rancor, ele era o pacote completo. Quando a Guerra de Tróia começou, era óbvio que ele não ficaria de fora, embora sua participação tenha sido mais por causa de um juramento de lealdade do que por qualquer interesse pessoal em resgatar Helena, a rainha com um talento especial para iniciar guerras.
Aquiles brilhou na guerra, como esperado, até que Agamêmnon, o rei dos reis, decidiu que queria a prisioneira de guerra de Aquiles para si. Aquiles, em um movimento que surpreendeu exatamente zero pessoas que o conheciam, decidiu então que se sua honra não fosse respeitada, ele simplesmente não jogaria mais. Sentou-se à margem, deixando os Aqueus se virarem sem sua espada e sua ira, o que, como se poderia esperar, não foi muito bem para eles.
Eventualmente, depois de muita persuasão e a morte de seu querido amigo Pátroclo – porque nada diz "volte à guerra" como uma tragédia pessoal – Aquiles retornou ao campo de batalha, mais furioso do que nunca. Ele matou Heitor, arrastou seu corpo ao redor de Tróia com seu carro, e basicamente decidiu que a misericórdia era uma palavra que ele não tinha em seu vocabulário.
Mas, como todas as boas histórias de heróis, a de Aquiles termina em tragédia. Paris, assistido por Apolo, conseguiu fazer o impossível: acertar o único ponto vulnerável de Aquiles com uma flecha. O calcanhar. Ah, a ironia. Aquiles morreu, não por falta de força ou habilidade, mas porque sua mãe não quis molhar a própria mão no rio Estige...
E assim termina a saga de Aquiles: com um misto de glória e uma lição sobre a importância de prestar atenção aos detalhes. Mas, claro, a história é apenas uma parte da tapeçaria maior da Guerra de Tróia, uma peça no jogo dos deuses, e um prelúdio para as aventuras de outros heróis, como Eneias, que pegaria as rédeas de seu destino nas cinzas de Tróia e iria ao encontro do maior dos destinos: ser o ancestral de Romulo e Remo, os fundadores de Roma.
Edson Rodriguez, autor de PRIMA LANÇA escreveu este post

A Importância Estratégica do Reno para Cesar em 55 AC

 

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A Importância Estratégica do Reno para Cesar em 55 AC

No ano de 55 AC, Júlio César, então proconsul da Gália, enfrentou desafios significativos nas regiões fronteiriças ao longo do rio Reno. Este rio não apenas demarcava a fronteira geográfica entre os territórios romanos e as terras habitadas pelos povos germânicos, mas também representava uma linha divisória estratégica e cultural de grande importância. Militarmente, controlar o Reno significava proteger a fronteira norte da Gália contra incursões e invasões dos povos germânicos. Politicamente, demonstrava a força e a presença romana na região, consolidando a autoridade de Roma sobre as tribos gaulesas recém-conquistadas e dissuadindo possíveis alianças entre estas e os germanos.
Hipóteses de Comunicação entre Ariovisto e Vercingetorix
Embora não haja evidências concretas de uma aliança formal entre Ariovisto, o rei germânico, e Vercingetorix, líder gaulês que posteriormente lideraria uma grande revolta contra Roma, é plausível especular sobre possíveis comunicações ou tentativas de aliança entre eles. Ambos tinham motivos comuns para opor-se ao avanço e à dominação romanas na região. Uma hipótese seria que tais comunicações visassem estabelecer uma frente unida contra César, compartilhando estratégias e recursos em uma tentativa de expulsar os romanos da Gália (*). Da necessidade de defesa e vigilância contra as tribos germânicas, os romanos resolveram construir uma cidadela-fortaleza, na terra dos Úbios, exatamente ali, nas margens do imponente rio Reno.(**)
Ubiorum
Ubiorum, conhecido nas fontes históricas como a terra dos Úbios, refere-se a uma região e ao povo germânico que habitava próximo ao rio Reno, na área que hoje corresponde, em grande parte, ao oeste da Alemanha. Este grupo é particularmente notável por sua aliança e relação amistosa com o Império Romano, um aspecto que o distingue de muitas outras tribos germânicas da época.
Origem e Assentamento
Os Úbios eram originalmente um povo germânico que vivia na margem direita (leste) do Reno. Sob pressão de tribos mais agressivas e expansivas, como os Suevos, e procurando uma relação mais segura e estável com Roma, eles se realocaram para a margem esquerda (oeste) do rio, com a assistência dos Romanos, durante o final do século I AC. Esta mudança significativa nos assentamentos dos Úbios não apenas alterou a sua geografia física, mas também transformou sua identidade política e cultural ao longo do tempo.
Relações com Roma
A aliança com Roma começou sob a política de Júlio César, que procurava aliados na Germânia para estabilizar a fronteira do Reno e proteger as conquistas romanas na Gália. Os Úbios beneficiaram-se de sua cooperação com os romanos, recebendo proteção contra tribos hostis e participando do comércio e da economia romana. Em troca, forneciam informações valiosas sobre as regiões germânicas e atuavam como intermediários e guias.
Vida e Cultura
Sob a influência romana, os Úbios adotaram muitos aspectos da vida e cultura romanas, desde a arquitetura até práticas religiosas, embora também tenham mantido tradições germânicas. A convivência e a integração cultural entre romanos e germânicos nesta região são exemplos do processo de romanização, pelo qual populações locais adotavam elementos da cultura romana, ao mesmo tempo que influenciavam o império com suas próprias tradições.
Impacto Militar e Estratégico
Além dos aspectos culturais e econômicos, a colaboração entre os Úbios e os Romanos teve repercussões significativas no plano militar e estratégico. A posição geográfica dos Úbios, na margem oeste do Reno, proporcionou aos Romanos um ponto de apoio essencial, tanto para a defesa como para a expansão na Germânia. A presença de tropas romanas na região, juntamente com a fundação de fortalezas e acampamentos militares, como o de Bonn (Bonna), fortaleceu a fronteira do Reno contra incursões de outras tribos germânicas mais hostis a Roma.
Assimilação e Resistência
Enquanto muitos Úbios podem ter abraçado a romanização como uma oportunidade de ascensão social e econômica, é provável que também tenham existido elementos de resistência e preservação da identidade germânica(***). A assimilação cultural não foi um processo homogêneo; variava significativamente de um indivíduo para outro e entre diferentes estratos da sociedade. Festividades, práticas religiosas e a manutenção de nomes germânicos são exemplos de como os Úbios podem ter conservado aspectos de sua identidade original.
Legado
A história dos Úbios ilustra um exemplo de cooperação e integração entre povos germânicos e o Império Romano, destacando a complexidade das fronteiras imperiais e as relações dinâmicas entre conquistadores e conquistados. A região de Ubiorum, especialmente a cidade de Colônia, permanece um rico sítio arqueológico e um testemunho da herança romana na Alemanha.
A interação entre os Úbios e os Romanos, portanto, não apenas moldou o destino dessa tribo germânica, mas também teve um impacto duradouro na configuração cultural e política da região ao longo do Reno, deixando vestígios que ainda podem ser observados na moderna Colônia e além.
A pesquisa arqueológica na região que uma vez foi Ubiorum revelou uma rica tapeçaria de artefatos que atestam a convivência e a integração entre os Úbios e os Romanos. Desde restos de edifícios romanos, como templos, aquedutos e teatros, até objetos do cotidiano, como cerâmica, ferramentas e jóias, o legado material é um testemunho da influência romana na vida dos Úbios e de como eles adaptaram e integraram esses elementos em sua sociedade.
Conclusão
A história dos Úbios não é apenas a narrativa de um povo sob o domínio de Roma; é também uma história de adaptação, resistência e interação cultural. Embora o Império Romano tenha imposto sua estrutura política, militar e econômica sobre a região, os Úbios mantiveram uma identidade distinta e contribuíram de maneira significativa para o mosaico cultural do império. A análise da relação entre os Úbios e os Romanos oferece insights valiosos sobre as dinâmicas de poder, cultura e identidade na Antiguidade, ressaltando a complexidade das interações fronteiriças e a natureza multifacetada da romanização.
Texto de Edson Rodriguez - Se você chegou até aqui, obrigado, espero que tenha apreciado. Continue lendo para saber como e porque o texto foi elaborado.
Este texto nasceu da pesquisa histórica realizada para dar suporte ao romance PRIMA LANÇA. A seguir, algumas intersecções interessantes entre os fatos e o livro citado. Todo o material foi escrito pelo autor, Edson Rodriguez.
(*) A hipótese de comunicação entre Vercingetorix e Ariovisto é ideia minha, não há nenhuma menção histórica a respeito, mas é algo que poderia ter ocorrido. Eles viveram quase na mesma época, ambos foram inimigos de Cesar e lutaram contra ele em períodos próximos, sendo, ambos, derrotados, Ariovisto, em 58 AC e, Vercingetorix, seis anos mais tarde, em 52 AC. Ainda, no romance, Ariovisto é mencionado como chefe dos saguntos, mas, na verdade, ele era chefe dos suevos.
(**) O campo de Ubiorum realmente existiu (é onde fica hoje a cidade de Colonia, na Alemanha), mas só foi registrado em 39 AC, quando a tribo dos úbios entrou em acordo com as forças romanas estacionadas na margem esquerda do Rio Reno. Seu quartel general era Opido Ubioro (em latim: Oppidum Ubioru) daí o nome do forte. Quanto a essa parte da História, tomei a liberdade de “adiantar” um pouco as coisas, trazendo os fatos para um período anterior. Na verdade, o acerto entre os germanos úbios (a tribo de Hootha, que é um personagem fictício) e os romanos, no romance, chefiados por Sextus Herminius (também fictício), realmente ocorreu e a presença romana se estenderia por muito tempo naquela região, mas Cesar não teve nada a ver com isso, porque, nessa época, já havia sido assassinado.
(***) Não temos como saber a forma como romanos e úbios se aproximaram, mas em PRIMA LANÇA há um capítulo onde explorei essa situação, vejam o trecho a seguir:
“- Há mais um assunto, domines, - disse Tracius, o centurião prima lança ao conselho de guerra liderado por Cesar.
- Quem é esse? - perguntou Marco Antonio, antecipando-se.
- Um germano que aprisionamos uns tempos atrás mas liberamos em seguida, não precisávamos dele para nada mesmo. Assim a demonstração de boa vontade pareceu ser uma boa ideia - disse Sextus. - Vai ser interessante conversar com ele. Quer participar procônsul?
- Claro que sim! Tragam-no. Ele está aqui? – perguntou Cesar.
- Sim, vou mandar trazê-lo - respondeu o centurião.
O germano-úbio esperava encontrar-se com Sextus Herminius, assim, ao ser apresentado a Cesar, ele não pôde disfarçar o espanto, até porque os germanos não sabiam, até o momento, que haviam batalhado contra o famoso general, que fez algo inusitado. Ele disse a Hootha, em latim:
- Não se incomode comigo. Você veio encontrar Sextus, não é? Ele está aqui. Fale com ele.
- Não sou seu prisioneiro, Cesar? - Hootha perguntou, incrédulo.
- E porque seria? Você veio nos visitar para falar com um oficial de Roma - o procônsul respondeu. Prossiga. Não se incomoda se participarmos, não é? - perguntou jocoso.
Como Hootha não entendeu, Tracius Quinto, que falava o dialeto germanico, traduziu para ele. Hootha deu de ombros e virou-se para Sextus, ainda falando em seu latim estropiado.
- Não nos encontramos no combate. Sabe por quê?
- Não, germano, não sei - respondeu o oficial.
- Nós úbios não participamos da luta, foi por isso. Convenci meu povo a não combater Roma. Agora eu quero ver o quanto sua palavra vale - e o germano empertigou-se, orgulhoso.
Cesar pediu que repetissem a conversa para ter certeza de que havia entendido corretamente, mas não fez aporte algum, aguardando as palavras de Sextus, que discorreu de forma simples e objetiva:
- Preciso de suprimentos para a legião. Carne de boi, porco e cabrito, frutas e legumes frescos. O que você puder fornecer eu compro. Preciso de madeira também. E quero voluntários para servirem na 13ª. O serviço é de 25 anos e o soldo é de duzentos sestércios ou uma e meia medida de sal. Não há obrigação de fornecer voluntários forçados, que fique bem entendido. Só os que quiserem vir e tiverem aptidão física serão aceitos, isso está claro, germano?
Tracius traduziu as partes que Hootha não entendeu. O germano pensou um minuto e perguntou a Sextus:
- E o que teremos, romano?
- Pagarei pelos suprimentos o mesmo preço que pagamos usualmente aos nossos fornecedores na Gália. Em prata. E o mais importante de tudo, - continuou - seremos aliados. Seu amigo será meu amigo, seu inimigo será meu inimigo. Se atacarem você, atacarão a mim. Irei em seu socorro em toda e qualquer circunstância que você precisar, e espero a mesma coisa de você.
- Vocês sabem lidar com trigo e outras coisas melhor do que nós. E suas espadas são muito melhores que as nossas... Vai nos ajudar com isso? - Hootha perguntou.
- Há jovens entre seu povo que gostariam de entrar para a 13ª? - o tribuno perguntou, ao invés de responder ao chefe úbio.
- Não sei, terei que perguntar a eles - respondeu Hootha precavidamente.
- Quero jovens ambiciosos. Me consiga cem voluntários e eu lhe mandarei três fazendeiros experientes no cultivo de trigo, uvas e na fabricação de vinho para ensinar o que sabemos ao seu povo. Mandarei também meu mestre ferreiro ensinar a vocês como temperamos o aço. Temos um trato? - perguntou o tribuno, solene, enquanto Cesar, Aetius e Marco Antonio assistiam entre surpresos e deliciados (Cesar, particularmente) com o rumo da conversa.
- Me dê cinco dias para voltar com a resposta - disse Hootha.
- Está bem. Aguardo você em Ubiorum daqui a cinco dias.
Hootha virou-se e saiu em silêncio. Os romanos se entreolharam por um momento e em seguida todos riram alto e em bom som.
(trecho de PRIMA LANÇA)

O LOBISOMEM – Parte II

 O LOBISOMEM – Parte II


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By Edson Rodriguez
Vimos na Parte I a origem da lenda, com o castigo horrendo aplicado ao arrogante rei Licaão, por conta do seu banquete macabro oferecido a Zeus. Vamos continuar nossa jornada, indo agora para o meio dos antigos romanos, que herdaram muitas coisas tanto dos etruscos como diretamente dos gregos.
A Sombra que Permanece
A história de Licaão, portanto, não foi apenas um conto de advertência da Grécia Antiga, mas um mito que encontrou novas formas de expressão entre os etruscos e os romanos refletindo um fascínio compartilhado pela metamorfose e pela dualidade da natureza humana. Os etruscos nos oferecem a primeira visão de um lobisomem, um ser meio homem, meio lobo, na arte aqui apresentada, uma cerâmica do século V AC. Um homem com cabeça de lobo... parece bem familiar, não é?
Assim, nas sombras que se estendem desde a antiga Arcádia até a península itálica, a lenda de Licaão permanece, um lembrete sombrio e fascinante da fina linha entre o homem e a besta. E enquanto a noite cai sobre as ruínas de templos e tumbas, pode-se quase ouvir o eco distante de um uivo, carregando consigo a memória de um rei amaldiçoado e a origem sombria da licantropia.
A Transformação Romana: Do Mito à Lenda Viva
À medida que a noite desce sobre o império romano, uma nova página na história dos lobisomens é escrita, tingida com o sangue e a tinta dos antigos. A transição das lendas etruscas e gregas para o coração de Roma não apenas transportou o horror de Licaão através do tempo e do espaço, mas também o transformou, dando-lhe novas camadas macabras.
O Eco de Petrônio no "Satyricon"
No coração dessa transição está a obra "Satyricon", de Petrônio, uma narrativa escrita no tempo de Nero, que se desenrola sob o olhar atento dos deuses e dos homens, revelando uma cena que arrepia a alma. Ei-la aqui, na íntegra:
Trimálquio olhou para Niceros e disse:
“Você costumava ser melhor companhia em um jantar. Não sei por que você está mudo agora, sequer emite um som. Por favor, para me fazer feliz, conte-nos sobre sua aventura.”
Niceros, encantado com a amabilidade de seu amigo, disse:
“Que eu nunca ganhe mais um dinar se não estiver pronto para explodir de alegria ao vê-lo com tão bom humor. Bem, então será pura diversão, embora tenha medo de que seus amigos inteligentes venham a rir de mim. Ainda assim, deixe-os. Vou contar minha história. Que mal me faz a risada de um homem? Ser ridicularizado é mais satisfatório do que ser escarnecido.”
Assim falou o herói e começou a seguinte história:
“Quando eu ainda era escravo, vivíamos numa rua estreita. A casa agora pertence a Gavilla. Ali foi a vontade de Júpiter que eu me apaixonasse pela esposa de Terêncio, o estalajadeiro. Você se lembra dela, Melissa de Tarentum, uma redonda belíssima? Mas juro que não era uma paixão vil. Eu não me importava com ela dessa forma, mas sim porque ela tinha uma natureza bonita. Se lhe pedi alguma coisa, nunca me foi recusado. Se ela ganhasse duas moedas de asses, eu tinha um centavo. Tudo o que eu tinha, coloquei no bolso dela, e nunca fui enganado.
Pois, um dia seu marido morreu na fazenda. E assim arrisquei tudo para visitá-la: mas você sabe, amigos aparecem nas dificuldades. Acontece que meu mestre foi a Cápua cuidar de algum negócio bobo ou outro.”
“Aproveitei minha oportunidade e convenci um hóspede em nossa casa a vir comigo até a fazenda. Ele era um soldado, forte como um ogro. A lua estava brilhando como meio-dia. Passamos por um cemitério.”
“Entramos entre as lápides. O soldado se afastou para olhar os epitáfios, sentei-me com o coração cheio de canções e comecei a contar as sepulturas. Então, quando olhei em volta para meu amigo, ele se despiu e colocou todas as suas roupas na beira da estrada.”
“Meu coração estava pela minha boca, mas eu fiquei como um homem morto. Ele fez um círculo de urina em volta de suas roupas e de repente se transformou em um lobo.”
“Por favor, não pense que estou brincando. Eu não mentiria sobre isso por nenhuma fortuna do mundo. Mas como eu estava dizendo, depois que ele se transformou em lobo, ele começou a uivar e correu para a floresta.”
“No começo eu mal sabia onde estava. Depois subi para pegar suas roupas; mas todas elas se transformaram em pedra. Ninguém estava mais perto da morte de terror do que eu. Mas saquei minha espada e fui matando sombras até que cheguei à casa do meu amor.”
“Entrei como um cadáver, o suor escorria pelas minhas pernas, meus olhos estavam opacos, eu mal podia ser revivido. Minha querida Melissa ficou surpresa por eu ter saído tão tarde e disse:
“Se você tivesse vindo mais cedo, pelo menos poderia ter nos ajudado. Um lobo entrou na casa e atacou todas as nossas ovelhas. E deixou sangue como um açougueiro. Mas ele não nos fez de tolos. Embora tenha saído, nosso escravo fez-lhe um buraco no pescoço com uma lança.”
“Ao ouvir isso, não consegui mais manter os olhos fechados, mas ao raiar do dia voltei correndo para a casa de meu senhor Caio como um publicano defraudado.”
“Quando cheguei ao lugar onde as roupas foram transformadas em pedra, encontrei nada além de uma poça de sangue. Mas quando cheguei em casa, meu soldado estava deitado na cama como um boi, com um médico cuidando de seu pescoço. Eu percebi que ele era um lobisomem, e eu nunca poderia me sentar numa refeição com ele depois, não se tivesse me matado primeiro.”
“Outras pessoas podem pensar o que quiserem sobre isso; mas que todos os deuses me punam se eu estiver mentindo.”
Esta, caros leitores, é a primeira cena de licantropia da literatura universal e foi escrita há 2000 anos atrás...
Edson Rodriguez, autor de PRIMA LANÇA e CONTOS da NÉVOA, fez a pesquisa e escreveu este post.