PRATA PRETA
(Séc. XIX - XX)

Pense em várias pessoas berrando “Abaixo a Vacina”, “Abaixo a Vacina”, “Abaixo a Vacina”.
Naquele começo do século XX, o país vivia um período complicado nas finanças. Muito desemprego. Faltava educação. Moradia. Inflação altíssima.
Além de tudo, na capital, Rio de Janeiro, estava rolando surtos de diversas doenças. Entre elas, febre amarela e varíola.
Essa catástrofe, além de prejudicar o óbvio desenvolvimento da cidade, prejudicava a economia nacional. Menos exportações, menos gente vindo para o Rio de janeiro. A cidade era conhecida como “túmulo dos estrangeiros”.
Era preciso atacar os problemas. O presidente Rodrigues Alves atacou diversos campos, entre eles a saúde.
O sanitarista Oswaldo Cruz, que já tinha estudado na França, já era famoso, foi chamado para assumir a diretoria de saúde pública, em 1903.
Oswaldo Cruz tomou diversas medidas – muitas polêmicas.
Para conter a varíola, ele resolveu fazer uma vacinação. Vacinar todo mundo.
Em outubro de 1904, o Governo aprovou a lei da vacinação, ou seja, tudo limpo pro Oswaldo Cruz colocar em prática o plano de sair vacinando geral.
Ou você vacinava ou não podia se matricular em escolas, não podia viajar, não podia casar. E a população não ficou nada satisfeita com isso.
No bairro da Saúde, reduto de homens e mulheres vindos especialmente da Bahia, a resistência foi enorme. Principalmente porque esses homens temiam que suas mulheres se despissem para os agentes de saúde ao receber a vacina.
A população amotinada montou barricadas na Praça da Harmonia (Saúde), atacou o Moinho Inglês, na Gamboa e resistiu entrincheirada. Jornalistas, que visitaram as trincheiras na praia, na Rua da Harmonia e no Morro do Livramento, descrevem a “multidão sinistra, de homens descalços, em mangas de camisa, de armas ao ombro uns, de garruchas e navalhas à mostra, outros”. Havia até quem chamasse a região de "Porto Arthur", numa alusão à fortaleza russa que resistiu heroicamente aos ataques japoneses, na Guerra Russo-Japonesa.
Dentre os descontentes temos o mais notável e conhecido, Horácio José da Silva, vulgo Prata Preta, tido como o mais ousado líder das barricadas no bairro da Saúde. Jovem, alto e forte entrou para a história como uma figura destemida, que trabalhava como estivador e era exímio capoeirista e famoso entre os policiais.

Um fato folclórico, ocorrido durante a Revolta da Vacina, nas trincheiras da Praça da Harmonia, foi o tal "canhão rebelde", tão alardeado pela imprensa da época, insolitamente construído a partir de um poste de iluminação pública, derrubado pelo povo, e fixado sobre uma carroça, incapaz de dar um tiro sequer, mas que impunha respeito aos que de longe o viam. A Revolta foi debelada em 16 de novembro daquele ano, 1907. Prata Preta foi preso, depois de muita resistência e de ter matado um soldado e ferido outros dois. Duramente espancado, foi levado para o cárcere ainda com vida.
As notícias sobre sua prisão dizem que, mesmo depois de controlado por uma camisa-de-força continuou a insultar os praças e só escapou de ser linchado pelos policiais porque o chefe de Polícia da época os impediu.

Prata Preta foi desterrado para o Acre, em 25 de dezembro de 1904, no navio Itaipava, depois disso nada se sabe sobre seu paradeiro.

sábado, 30 de novembro de 2024

PRATA PRETA (Séc. XIX - XX)

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PRATA PRETA
(Séc. XIX - XX)