Os formais e caros funerais de cães e gatos do período Vitoriano
Durante o início do século 19, não era incomum que os restos mortais de um cão ou gato amado fossem enterrados no jardim da família. No entanto, após a subida da Rainha Vitória no trono na década de 1830, a formalidade dos funerais de gatos e cães aumentaram substancialmente. Aqueles que perderam seus amados bichos encomendavam pequenos caixões elaborados; clérigos realizavam missas de sepultamento e pedreiros gravavam nomes nas lápides. Muitos na sociedade viam esses eventos como nada mais do que uma excentricidade divertida dos ricos, ou como uma peculiaridade ímpar das solteironas ricas. Já outros ficavam profundamente ofendidos que animais de qualquer espécie recebessem um enterro cristão.
Em março de 1894, vários jornais britânicos relataram a história de uma senhora ‘distinta’ de sobrenome Kensington, que realizou um funeral para seu gato, Paul. Um artigo do jornal Cheltenham Chronicle descreve que,
“Com a exceção de que a Igreja não prestou sua sanção, o sepultamento foi feito como o de uma pessoa humana de grande importância. Um importante agente funerário foi chamado e encarregado de realizar o funeral na forma mais ordinária; o corpo deveria ser fechado em uma concha que iria dentro de um caixão de carvalho. Havia os objetos usuais, incluindo uma placa em que estava escrito que Paul tinha dezessete anos e que fora o gato amado e fiel da senhora, e que agora lamentava sua perda em termos adequados. O caixão, com uma linda coroa de flores sobre ele, estava exibida na loja do agente funerários, onde era um objeto de intenso interesse e nem um pouco de diversão”.
Embora a missa do enterro de Paul não tivesse sido sancionado pela Igreja, isso não impediu que outros funerais de gatos adotassem um tom religioso. Uma edição de 1897 do jornal Daily Mail relata a história de um clérigo que realizou um funeral para seu gato. Em particular, esse gato é descrito como uma fêmea obesa, preta e branca, e conhecida por fazer caminhadas com seu dono. Após sua morte, o clérigo e sua família ficaram em luto.
No entanto, a grande maioria dos relatos históricos sobre funerais de gatos do século 19 são narrados com humor. Um artigo de setembro de 1885 do jornal Edinburgh Evening News relatou a história de uma velha mulher que queria dar a seu gato, Tom, um enterro decente. No entanto, uma multidão raivosa formou-se no cemitério, “gritando que era uma vergonha e uma desgraça enterrar um gato como um cristão”. Os resultados do tumulto foram extremamente desagradáveis: o caixão foi destruído, e o corpo do gato retirado. O tumulto ficou tão violento que a polícia teve que ser chamada para proteger o coveiro e a velha senhora, que conseguiu se apossar do corpo do gato.
De fato, muitos cemitérios não permitiam que animais de estimação fossem enterrados em solo consagrado. Assim, cemitérios de animais foram criados. Um dos mais conhecidos era o Hyde Park Dog Cemetery, um cemitério para cães inaugurado em 1881. Como o nome indica, este era um cemitério para cães, embora ele também tivesse aceitado cadáveres de macacos e gatos. Algumas inscrições desse cemitério são linda e tocantes:
“Em memória de nosso querido pequeno Bobbit. Quando nossas vidas solitárias acabarem e nossos espíritos se forem desta terra, nós esperamos que ele estará lá, esperando-nos para nos dar um ‘bem-vindo ao lar'”.
“Querido pequeno Pateta. Com 7 anos de idade. Durma pacificamente, pequeno”.
“Príncipe. Ele pediu por tão pouco e deu tanto”.
Outros cemitérios de animais existiram ao longo da Inglaterra vitoriana, tanto públicos quanto privados. Outros cemitérios famosos são o Cimetière des Chiens em Asnières-sur-Seine, em Paris, que data de 1899; já o maior e mais antigo cemitério de animais dos EUA é o Hartsdale, em Nova York, datado de 1896 – ele é hoje o local de descanso de mais de 70 mil animais. Já no Brasil, em 1895 foi fundada a UIPA – União Internacional Protetora dos Animais, no local onde hoje é o Parque do Ibirapuera; quase 30 anos depois, em 1920, a UIPA instalou um Cemitério Zoophilo, o primeiro cemitério de animais da Cidade de São Paulo e muito provavelmente do Brasil.
Sem surpresa, a maioria das lápides e monumentos em cemitérios para animais daquela época são para cães. Os cachorros eram animais extremamente populares durante o século XIX, visto como amigos dedicados e responsáveis, enquanto o gato ainda era, em certa medida, visto como manhoso e oportunista. Além disso, a Rainha Vitória amava cães, o que fortaleceu o papel desse animal como um companheiro real. No entanto, esse viés em favor dos cães não teve nenhum efeito sobre os criadores de gatos vitorianos: os funerais de gatos continuaram a serem pomposos quanto os de cães, e a reação do público era o mesmo quanto aos enterro dois animais: diversão, indignação e ocasional desprezo.
Bibliografia:
NASCIMENTO, Douglas. Hospital e Cemitério de Animais no Ibirapuera. Acesso em 26 de Janeiro de 2016.
MATTHEWS, Mimi. Cat Funerals in the Victorian Era. Acesso em 26 de Janeiro de 2016.
“Pet cemetery“. Acesso em 26 de Janeiro de 2016.
GEDGE, Matt. The Victorian Pet Cemetery of Hyde Park. Acesso em 26 de Janeiro de 2016.
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