Desvendando a intrigante evolução do namoro: dos tempos antigos à era medieval

Grécia e Roma Antigas

Para as sociedades greco-romanas, o casamento não era por amor; em vez disso, era visto como um dever legal para todos os cidadãos. Embora cada cidade e sociedade fossem politicamente e judicialmente independentes, há algumas similaridades entre elas que podemos usar para interpretar a sociedade mais ampla. Deve-se notar no início que as fontes e evidências que temos são das classes média e alta das sociedades greco-romanas. Embora possamos usá-las para sugerir interpretações, elas não são provas concretas de todas as classes sociais.

Na Grécia antiga, o casamento era atribuído à Deusa Hera e muitas cerimônias que aconteciam eram frequentemente durante o mês de Gamelion, que para o nosso calendário moderno corresponderia a janeiro-fevereiro. Durante essas celebrações, as pessoas faziam sacrifícios e durante isso, ela era invocada como a "preparadora do casamento" e "Uniter". Curiosamente, em Symphalos, uma área do nordeste da antiga Arcádia, Hera tinha três templos: O Pais ("Menina"), Teleia ("Realizada") e Chera ("Separada"). Para os gregos antigos, a "realização" da vida de uma mulher era seu casamento. Em termos de com quem as mulheres gregas estavam se casando, era culturalmente aceitável que as filhas se casassem com seus parentes, como tios ou primos, pois não havia leis envolvendo relações de sangue como encontramos durante o período medieval. Casar-se dentro de laços de sangue diretos, como irmãos, era desaprovado, mas ainda não havia leis contra isso.

**SEQ Figura/*ÁRABE 1 – Tondo de uma kylix ática de figuras vermelhas do Pintor Briseis datada de c. 480 a.C.**

Das fontes que temos, a maioria é de Atenas ou Esparta. Para um homem, o principal objetivo do casamento era ser monogâmico e produzir filhos legítimos e todos os esforços deveriam ser feitos para cumprir isso. Na antiga Esparta, se uma mulher não pudesse ter filhos com seu marido, ela poderia viver com outro homem e ter filhos com ele. Para uma criança ser um cidadão espartano legítimo, ela tinha que ser saudável e forte; era uma prática costumeira que se uma criança não fosse saudável, os pais poderiam deixá-la e abandoná-la. Por outro lado, para que o namoro e o casamento adequados ocorressem em Atenas, o casal tinha que ser cidadão ateniense e ter status "livre" - o que significa que não eram escravizados. Da mesma forma, na Roma antiga, o ato do casamento era inteiramente um dever legal que era exclusivamente para criar filhos; além disso, o casamento na Roma antiga era monogâmico e havia repercussão legal real para o adultério; o namoro era algo que era arranjado e esperado que ocorresse principalmente entre o pai da noiva e o noivo.

Em todas as fontes gregas antigas, os casamentos arranjados eram a norma esperada. Muitas vezes, eram os pais da jovem noiva e do noivo que arranjavam esses casamentos. O guardião da noiva era conhecido como kyrios no grego antigo, e ele anunciava que sua filha tinha permissão para se casar. Então era hora de os pretendentes em potencial competirem entre si em jogos, música e poesia para provar sua superioridade. Uma vez que esse pretendente fosse escolhido, ele participaria de um processo conhecido como engysis , onde eles apertariam as mãos e diriam frases rituais. Em Atenas e Esparta, esse processo de noivado era fundamental para a legitimidade de qualquer criança, pois eles poderiam perder o status hereditário se seus pais não tivessem participado da engysis. Em Esparta, assim como na engysis , havia também outra parte do noivado em que o futuro marido "apoderaria" da noiva. Em Esparta, uma noiva não viveria imediatamente com seu marido, em vez disso, ela coabitaria clandestinamente até que seu marido a trouxesse e sua mãe para sua casa algumas vezes.

Da mesma forma, na Roma antiga, a razão por trás desses casamentos arranjados era por razões políticas ou comerciais e alianças. Nossa palavra moderna "matrimônio" vem do latim "matrimonium", que captura os deveres de uma mulher em um casamento: ou seja, ser mãe ('mater') e produzir filhos legítimos. Novamente, fica claro aqui que qualquer cortejo entre o casal não era feito pelo casal; na maioria dos casos, a noiva tinha um dever a cumprir, e o noivo estava realmente tentando cortejar o pai para permitir que sua filha se casasse com eles. Deve-se notar que, como os gregos, a evidência do namoro romano é principalmente das famílias aristocráticas, pois seus registros são os que sobreviveram; até mesmo Agostinho se referiu a isso como um "costume romano" durante o século V.

***SEQ Figura/*ÁRABE 2 – Reynolds-Stephen, (1862-1943), namoro romano, óleo sobre tela***

Ao procurar uma noiva, em Roma, um futuro marido consideraria muitas coisas diferentes, mas havia três que eram as mais importantes: o dote, sua fertilidade e suas habilidades, como costura. Outro aspecto era a idade da garota; estamos familiarizados com a ideia de que as meninas eram casadas incrivelmente jovens, especialmente quando olhamos para a história antiga ou medieval. Embora essas meninas sejam jovens para nossos padrões modernos, eles frequentemente esperavam até que elas atingissem a maturidade sexual, que era por volta dos 14 anos, pois casar sua filha antes que ela fosse considerada velha o suficiente era desaprovado.

As meninas romanas também eram relativamente jovens quando eram casadas por seus pais. Como era costume nas regras de namoro romanas, o parente mais velho da família era conhecido como ' Pater Familias' e ele era quem tinha autoridade absoluta sobre seus filhos. Era seu direito buscar um bom par e, portanto, era o pai que deveria ser cortejado, não a futura esposa. No entanto, havia uma brecha que as filhas podiam usar se decidissem que não gostavam de seu par; se o futuro marido fosse considerado de mau caráter, a menina poderia recusar o par. Este é um exemplo de alguma independência que as mulheres tinham durante a Roma antiga, embora não se saiba com que frequência essas recusas eram aceitas.

Fora da exigência legal de casamento, a lei não estipulava como o casal deveria se reunir. Para muitos casais, eram os pais que faziam o "casamento" para os filhos. Também havia uma profissão a ser encontrada nesse "casamento" e era inteiramente composta por mulheres. No entanto, essa profissão não era vista com carinho e não era o principal modo de criar casais. Para os antigos romanos, não há muitas evidências dessa "profissão de casamento" como há para a Grécia antiga; qualquer casamento que acontecesse era feito pelos pais da noiva e do noivo, ou, mais frequentemente, pelo pai da noiva e do próprio noivo.

Casamentos antigos não são uma área bem estudada no discurso histórico, mas as semelhanças entre as sociedades greco-romanas provam que há algo global sobre o namoro que é mais antigo do que acreditávamos inicialmente. Embora algumas dessas semelhanças possam ser atribuídas a culturas semelhantes, acho que também há uma chance de explorar os sistemas sociais e políticos em que ambos estavam vinculados. A Grécia e Roma antigas eram politeístas e, frequentemente, esses deuses e deusas, e seus papéis, se sobrepunham, especialmente quando se tratava de mulheres e casamento. Portanto, não é muito absurdo supor que isso também se traduziria em casamento e namoro. Embora possa não seguir os padrões convencionais que vemos hoje, isso não significa que eles estejam errados, é uma parte da história que merece mais tempo e consideração.

Namoro Medieval

Quando começamos a nos mover para o período medieval, começamos a ver algumas mudanças nas ideias em torno do amor e dos casamentos. A Europa era um lugar tão vasto e multicultural e, portanto, vou me concentrar na Europa Ocidental na maior parte desta seção. A ideia de amor e relacionamentos no início do período medieval continuou muito parecida com seus predecessores; no entanto, tudo começou a mudar durante o século XII, quando a ideia de "amor cortês" começou a surgir no que seria a França moderna.

Para entender o clima em que os trovadores e o amor cavalheiresco estavam entrando, precisamos mencionar as convenções culturais da época. A Igreja administrava os casamentos e, embora eles não fossem assuntos de alta classe para todos, eram sacramentos religiosos importantes. Assim como os antigos greco-romanos, o casamento era um dever para a produção de filhos que eles, os pais, criariam como bons cidadãos religiosos. Apesar da natureza religiosa do casamento, não era necessário se casar em uma igreja — há casos de casamentos ocorrendo na beira da estrada, em um pub ou mesmo em casas de família. Isso era muito parecido para a Europa em geral e já era há algum tempo, no entanto, havia uma mudança acontecendo no continente que iniciaria uma mudança nos empreendimentos românticos.

Na Aquitânia, Provença, Champagne e Borgonha ducal, houve uma mudança cultural na literatura e na música com a representação do amor e do romance. Muitas vezes foi dito que Eleanor da Aquitânia é a mulher que deu à luz a "Corte do Amor" e, portanto, todo o conceito de amor cavalheiresco. Este não é necessariamente o caso, primeiro devemos olhar para seu avô, William "o Trovador", Duque da Aquitânia. William não era conhecido por sua destreza em batalha, mas era conhecido por sua destreza lírica, e é considerado o primeiro trovador para o qual temos obras sobreviventes. O que significava ser um trovador era bem simples; era alguém que escrevia poesia lírica sobre romance, geralmente na língua occitana.

Muitos desses poemas e canções giravam em torno dessa ideia de amar uma mulher inatingível – geralmente a esposa de um amigo ou inimigo. Havia padrões que tinham que ser seguidos e, muitas vezes, podemos ver padrões começando a emergir quando lemos mais de perto e mais amplamente ao longo desse tempo. Em vez do estilo usual de "cortejar" ao qual a nobreza estava acostumada, havia histórias de cavaleiros arrojados salvando suas donzelas em perigo e lutando contra inimigos em nome do amor. Não se tratava mais da riqueza ou status da pessoa, mas sim de seu caráter e boas ações que vinham à tona.

À medida que esses trovadores espalhavam suas histórias pela Europa, em parte graças aos dois casamentos de Eleanor da Aquitânia aqui, a ideia de cavalheirismo, nobreza e romance se espalhou com eles. De repente, começamos a ver uma mudança nos ideais românticos, mais ainda na nobreza, pois os poemas e canções dos trovadores eram entretenimento para as classes nobres, mas mesmo nas classes mais baixas, pois as ideias começaram a se disseminar para baixo. Isso, é claro, não significa que todos estavam de repente se casando por amor e que os casamentos arranjados estavam ultrapassados, mas forneceu uma fantasia para aqueles expressarem seu amor de uma forma que antes não tinham acesso.

O amor cortês era comum em muitas obras distintas de uma variedade dos principais autores da época – Geoffrey Chaucer e Andreas Capellanus vêm à mente. Alguns historiadores sugerem que esses autores estavam adotando uma abordagem inovadora ao amor no período medieval, mas, na verdade, eles não eram mais empreendedores do que simplesmente serem autores na Idade Média. Uma obra famosa que é considerada uma espécie de "bíblia" do amor cortês é a obra de Capellanus "A Arte do Amor Cortês", na qual ele codificou "regras" que se deve seguir para ter um romance nobre:

“O casamento não é uma desculpa real para não amar.”
“Quem não é ciumento não pode amar.”
“Ninguém pode ser limitado por um amor duplo.”
“Quando tornado público, o amor raramente perdura.”

**SEQ Figura/*ÁRABE 3 – Miniatura do Codex Manesse, às vezes identificada como Bianca e Frederick**

O namoro ainda era um jogo de negociações, dever para com sua família e país. Pode ter havido uma mudança no que era visto como amor honrado e a maneira correta de cortejar seu pretendido, mas os ideais românticos da Idade Média não apareceriam por muitos séculos, pois o período posterior começaria a romantizar o período de alguém cheio de grande amor. Como em qualquer cultura, há exceções às regras e há casos que podemos encontrar onde as pessoas se casaram por amor ou de fato encontraram o amor dentro de seus casamentos. No entanto, cavalheirismo e amor cortês não eram sobre se casar por amor. Pois o amor era algo que você buscava fora do seu casamento - que muitas vezes os dois não andavam de mãos dadas.

Amor e relacionamentos são tópicos quentes para historiadores sociais, é algo com o qual podemos nos relacionar. Todos nós amamos alguém ou algo e ser capaz de rastrear isso através dos séculos fornece uma conexão que não costumamos obter com alguns tópicos históricos. Há muito mais a ser descoberto na história do amor. À medida que avançamos no tempo, surgem padrões, que fornecem perspectivas e novos insights para nossas experiências íntimas hoje.

Escrito por Ellie-Mae Britton

Fontes bibliográficas :

Capellanus, Andreas. O Ato do Amor Cortês. Traduzido por John Jay Parry. Nova York: Columbia University Press, 1960.

Davidson, Lucy. “Amor, sexo e casamento na época medieval.” History Hit. 10 de fevereiro de 2022. Acessado em 4 de janeiro de 2024. https://www.historyhit.com/medieval-love-sex-and-marriage/

Delahoyde, Michael. “Courtly Love.” Washington State University. 16 de maio de 2007. Acessado em 10 de janeiro de 2024.

Fantham, Elaine. Mulheres no Mundo Clássico: Imagem e Texto. Nova York: Oxford University Press, 1995.

Foxhall, Lin. Estudando Gênero na Antiguidade Clássica. Cambridge: Cambridge University Press, 2013.

O'Siodhachain, Deirdre. “A prática do amor cortês.” Internet Archive: Wayback Machine. 20 de agosto de 2008. Acessado em 11 de janeiro de 2024. https://web.archive.org/web/20080820155345/http://www.eleanorofaquitaine.net/The%20Practice%20of%20Courtly%20Love.htm

Pomeroy, Sarah B., Stanley M. Burstein, Walter Donlan, Jennifer Tolbert Roberts e David W. Tandy. Uma breve história da Grécia Antiga: política, sociedade e cultura. Nova York: Oxford University Press, 2019.

Scheidel, Walter. “Uma instituição peculiar? Monogamia greco-romana em contexto global.” Em História da Família 14, (2009): 280-291.

Toth, Mike. “8 fatos importantes sobre casamentos e cerimônias de casamento na Grécia Antiga.” The Collector. 23 de junho de 2023. Acessado em 3 de janeiro de 2024.

terça-feira, 26 de novembro de 2024

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