O Casarão dos Ingleses: um tesouro esquecido de Rondônia que resiste ao tempo

Ali, à margem do Madeira, onde a água canta nas pedras e o vento sopra segredos antigos, ergue-se — ou resiste — o Casarão dos Ingleses. Um edifício de dois pavimentos, de paredes que já viram o apogeu e o abandono, de janelas que um dia se abriram para o esplendor do ciclo da borracha e hoje apenas suspiram lembranças.

É como se o tempo tivesse feito dele um relicário. Um guardião silencioso de memórias que insistem em não se apagar, mesmo com o mofo, o mato, o descaso. Não se trata apenas de tijolos e cimento importados da Inglaterra, mas de uma alma construída entre lendas e verdades, entre fatos históricos e os encantos do imaginário popular.

Alguns dizem que nasceu pelas mãos da empresa inglesa P. & T. Collins, por volta de 1878, com o som das cachoeiras de Santo Antônio como trilha sonora de um cotidiano ora elegante, ora austero. Na parte de cima, a família dos engenheiros. Embaixo, o rigor do escritório. Outros juram que o Casarão foi sonho do magnata boliviano Nicolás Suárez Callaú, o rei da borracha, senhor dos rios, dos homens e dos seringais. Ele teria trazido da Inglaterra cada parafuso, cada telha, como quem importa um pedaço da Europa para cravar no coração da selva.

E há ainda aqueles que falam com carinho do sírio João Elias, que no final dos anos 1920 teria usado o mesmo casarão como residência e comércio. Um homem de hábitos simples e visão empreendedora, que viu naquele ponto estratégico uma oportunidade de enraizar sua história.

O prédio foi, dizem, pousada, fórum, garagem, Iate Clube, sede de consórcio. Foi cenário de festas, reuniões secretas, conversas ao pé da lamparina e também de abandono, silêncio, poeira. Cada reforma foi um respiro. Cada abandono, uma ferida. E hoje, lá está ele — imóvel, mas não morto. Respirando histórias entre frestas e telhas partidas, esperando por um olhar que o salve da invisibilidade.

Mais do que um casarão, aquilo é um coração histórico pulsando no meio da floresta urbana de Porto Velho. E, se Rondônia quer contar ao mundo suas origens, seus ciclos, seus heróis esquecidos e suas glórias esquecidas, deve começar por ali.

Esse casarão precisa ser reformado. Precisa ser resgatado. Porque quando um patrimônio cai, não é só um prédio que vai ao chão. É um capítulo inteiro da nossa história que desmorona junto.

texto : João Carlos ( Tiguinho )
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segunda-feira, 28 de abril de 2025

O Casarão dos Ingleses: um tesouro esquecido de Rondônia que resiste ao tempo

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