A Casa Edith: uma história romeno-libanesa
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Inaugurada por volta de 1917, a Casa Edith foi fundada pelo imigrante libanês Kalil Karam, nome escolhido em homenagem a sua primeira filha, Edith Karam. Depois do Paço Municipal, essa é, sem dúvidas, a construção histórica mais conhecida da Praça Generoso Marques. E o motivo é o mais o nobre possível: a Casa Edith continua funcionando, mesmo depois de 100 anos de sua inauguração.
Inicialmente, porém, o estabelecimento se situava na Praça Tiradentes, ao lado da Farmácia Stellfeld, onde hoje é a Pernambucanas. A Casa Edith, já reconhecida como uma das principais lojas de roupas e artigos masculinos da cidade, ficou ali até meados da década de 1930.
Com o fechamento desta sede, a matriz da Casa Edith se transferiu para o antigo prédio onde a sua filial funcionava desde 1925: o casarão azul da esquina da Praça Generoso Marques. A origem desta casa, porém, é bem mais antiga e remonta ao ano de 1879.
Não há muitas informações sobre quem a construiu, mas sabe-se que entre 1890 e 1900 a casa foi ocupada por Magalhães & Brazilino de Moura.
Esse passado da construção, anterior à chegada da Casa Edith, em tese, explica as suas características arquitetônicas. Tal qual a sua vizinha, a casa dos Labsh, o prédio tem traços neoclássicos, com 2 andares, 6 portas e 6 janelas venezianas brancas em cada frente. Na parte virada para a Generoso Marques, há um frontão que relembra ao prédio histórico da UFPR, assim como detalhes na cobertura e nas colunas que fazem referência à cultura clássica.
A Casa Edith se manteve mesmo depois da morte do seu fundador, o sr. Kalil Karam, em 1949. A loja, então, foi administrada por seus oito herdeiros, até ser comprada em 1959 pelo imigrante romeno Virgil Trifan, em sociedade com Franklin Rodrigues. Apesar disso, eles mantiveram o nome “Casa Edith” e continuaram a vender roupas e artigos de vestuário, dando sequência à tradicional história da loja. Além disso, ambos preservaram o costume dos Karam de animar o carnaval curitibano com doação de trajes, até a década de 70.
Hoje, além de uma referência no ramo de vestuário, a Casa Edith também é uma Unidade de Interesse de Preservação e um Patrimônio Histórico tombado a nível municipal. A sua presença no centro da cidade mantém viva a memória de anos longínquos do passado de Curitiba.
Duas notas:
A família Karam mantém a trajetória familiar até os dias de hoje, com destaque à Regina Maria Karam, que preserva a memória de seus antepassados. Por sua vez, Edith Karam teve vida longa; ela faleceu em 2014 com 101 anos de idade.
Quanto a Virgil Trifan, depois da morte de seu sócio ele se transformou no dono unitário da Casa Edith. Sua trajetória, além disso, é de muita luta: nascido em Radauti, na Romênia, ele foi perseguido entre 1942 e 1944, por conta de sua religião - o judaísmo. Depois da libertação do país e depois de sobreviver ao Holocausto, Trifan migrou ao Recife e depois para Curitiba. Após anos vendendo roupas autonomamente, o comerciante conseguiu dinheiro suficiente para comprar a Casa Edith. Além dela, o romeno também era proprietário da Casa Globo e da Loja Cardinal. Trifan faleceu em 2019, aos 93 anos.
Texto e pesquisa: Gustavo Pitz
Referências
RIZZI, Suzelle. Cândido de Abreu e a Arquitetura de Curitiba entre 1897 e 1916. 2003. 186 p. Dissertação (Mestrado em Teoria, História e Crítica da Arquitetura). Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba.
https://www.fotografandocuritiba.com.br/2016/04/casa-edith.html
https://www.gazetadopovo.com.br/haus/estilo-cultura/na-casa-edith-o-passado-dita-a-moda/
https://www.facebook.com/MuseuShoaCuritiba/photos/%C3%A9-com-pesar-que-o-museu-do-holocausto-comunica-o-falecimento-do-sr-virgil-trifan/2290847407689150/
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