Mostrando postagens com marcador Início da Guerra do Contestado. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Início da Guerra do Contestado. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Início da Guerra do Contestado, Santa Catarina/Paraná

 Início da Guerra do Contestado, Santa Catarina/Paraná

https://ensinarhistoria.com.br/linha-do-tempo/inicio-da-guerra-do-contestado-2/

Em 22 de outubro de 1912, tinha início a Guerra do Contestado, em região fronteiriça contestada pelos estados de Santa Catarina e do Paraná. Tropas da polícia do Paraná atacaram os sertanejos que seguiam o “monge” José Maria e estavam acampados em Campos de Irani. No confronto, conhecida como Batalha de Irani, morreram 11 sertanejos, entre eles, seu líder o monge José Maria, e 10 soldados, inclusive seu comandante, o coronel João Gualberto Gomes de Sá Filho.

As causas da Guerra do Contestado (1912-1916) são diversas e se misturam à disputa de limites entre os estados de Santa Catarina e Paraná. A extensa região contestada de cerca de 30 km2 era rica em florestas de araucária e pés de erva-mate, recursos naturais explorados por madeireiras, grandes proprietários (os “coronéis”) – pecuaristas e exploradores dos ervais.

A valorização da erva-mate no mercado uruguaio e argentino (o produto representava 3,6% das exportações brasileiras) fez a fortuna dos coronéis nas décadas de 1900 a 1920, mas também acirrou as disputas entre eles por terras e a expulsão de posseiros.

Abaixo dessa elite proprietária, vivia na região uma população de caboclos pobres, descendentes de escravizados e indígenas.  Eram posseiros e mateiros que se embrenhavam nos ervais nativos para colher mate, e se sustentavam das pequenas plantações de milho e feijão aos quais misturavam palmito, pinhão e um naco de carne. Havia, também, uma expressiva população indígena Guarani e Kaigang (ou Coroados).

O impacto de uma ferrovia na região

A situação dessa gente pobre agravou-se ainda mais a partir de 1908 com a construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande do Sul – a Brazilian Railway, firma do empresário estadunidense Percival Farquhar que atravessava a região do Contestado. O governo cedeu à empresa  uma faixa de 15 km de cada lado da ferroviaao longo dos trilhos, o que levou à expulsão de centenas de famílias de posseiros caboclos, indígenas e ervateiros.

Ao final da obra, os 8 mil trabalhadores contratados foram demitidos. Na mesma época, a madeireira Southern Brazil Lumber & Colonization Company, outra empresa de Percival Farquhar, passou a explorar a madeira nas terras ao longo da ferrovia, arruinando os pequenos serradores e madeireiros locais.

Os monges dão esperança de uma vida melhor

Os caboclos, oprimidos pelos coronéis e expulsos de suas terras, buscaram conforto nas pregações de beatos e monges que perambulavam pela região cuidando de doentes e profetizando o fim do sofrimento e a chegada de uma era sem fome e sem miséria.

José Maria foi um desses “monges” que ganhou fama no primeiro semestre de 1912 por ter curado a esposa de um fazendeiro em Campos Novos, que sofria de frequentes convulsões.

Ao redor do curandeiro reuniu um punhado de famílias sertanejas. As pregações de José Maria misturavam trechos bíblicos (Apocalipse), lendas medievais (Carlos Magno e os 12 Pares de França), anunciava a volta de D. Sebastião para o estabelecimento de uma Monarquia Celeste na Terra, onde todos viveriam em comunhão.

Os monges do Contestado

Os monges do Contestado: João Maria de Jesus (à esquerda) perambulou pelo Paraná e Santa Catarina entre 1897 e 1908 quando desapareceu; em seu retrato, de 1908, está escrito, que ele tinha 180 anos. José Maria (à direita) surgiu no município de Campos Novos (SC) em 1911 e dizia-se irmão de João Maria; na foto, está rodeado pelas virgens videntes.

José Maria e a Batalha de Irani

José Maria estabeleceu-se com seus seguidores em Taquaruçu, nos arredores de Curitibanos, Santa Catarina. As autoridades locais, temendo o “ajuntamento de fanáticos e monarquistas” pediu ao governador uma força policial. O curandeiro, para evitar o conflito, rumou com seu grupo para os campos de Irani, então sob controle do Paraná.

O governo do Paraná considerou a chegada  dos sertanejos como uma “invasão” para favorecer Santa Catarina na disputa da região contestada. Alegando a existência de “numeroso bando armado chefiado pelo monge José Maria, o governador do Paraná determinou que João Gualberto, capitão comandante do Regimento de Segurança, se dirigisse imediatamente para o local com 300 homens, municiados com 30.000 cartuchos para carabinas, 3.500 para mosquetões e 10.000 para a metralhadora Maxim.

O combate teve início ao amanhecer do dia 22 de outubro de 1912. João Gualberto não levou todo contingente militar: confiante na metralhadora Maxim, ele colocou em ação no combate apenas 70 homens. Aos primeiros disparos, surgiram em meio às matas cerca de 200 sertanejos (ou 300, segundo outras fontes) que avançaram em direção às tropas desembainhando seus facões.

A metralhadora Maxim foi inútil: depois de alguns disparos,  ela travou, uma falha possivelmente causada por ter caído em um riacho durante a marcha.

O resultado da Batalha de Irani foi desastroso para as tropas governistas. João Gualberto foi cercado e morto pelos sertanejos e as tropas, destroçadas, bateram em retirada deixando para trás 40 fuzis e a metralhadora.

O monge José Maria, atingido por um tiro, também morreu em combate. Sua morte, porém não esmoreceu os sertanejos. Ao contrário, eles passaram a acreditar que José Maria iria ressuscitar e, com ele, todos os mortos de Irani também. Por isso foi enterrado em cova rasa e coberta com tábuas para facilitar sua ressurreição. “A espera pela ‘volta’ de José Maria junto ao ‘exército encantado de São Sebastião’ deu uma expressão milenar e messiânica ao movimento do Contestado” (MACHADO, 2018).Fonte

  • ALMEIDA JR., Jair de. A Religião Contestada. São Paulo: Fonte Editorial, 2011.
  • FRAGA, Nilson Cesar. (Org.). Contestado em Guerra, 100 anos do massacre insepulto do Brasil – 1912-2012. Florianópolis: Insular, 2012.
  • FRAGA, Nilson César. “Contestado: a grande guerra civil brasileira”. In: SCORTEGAGNA, A. REZENDE, C. J. TRICHES, R. I. Paraná, espaço e memória: diversos olhares histórico-geográficos. Curitiba: Bagozzi, 2005.
  • MACHADO, Paulo Pinheiro. Lideranças do Contestadoa formação e a atuação das chefias caboclas. Campinas: UNICAMP, 2004.
  • ________. A aventura cabocla do Contestado: o conflito e seu desfecho. Arquivo Nacional Que República é essa? Portal Estudos do Brasil Republicano. 31 julho 2018.
  • MONTEIRO, Douglas Teixeira. Os errantes do novo século. São Paulo: Duas Cidades, 1974.
  • TOTA, Antônio Pedro. Contestadoa guerra do novo mundo. São Paulo: Brasiliense, 1983.