Mulheres que se tornam homens: as virgens juramentadas da Albânia

Nas montanhas remotas do norte da Albânia, há aldeias onde há mulheres que vivem e agem como homens. Elas têm cabelo curto, usam calças largas e têm um nome masculino. Elas bebem e fumam na companhia de homens, carregam armas e assumem meios de subsistência masculinos, como pastoras ou motoristas de caminhão. Mas elas não são transexuais ou travestis. Essas mulheres escolheram levar uma vida de homem não para expressar sua sexualidade, mas para escapar do domínio opressivo do sistema patriarcal. Elas são chamadas de virgens juramentadas ou burrnesha .

No entanto, tal privilégio tem um custo. Cada virgem juramentada fez um voto de virgindade e castidade para toda a vida — um sacrifício que nenhuma dessas mulheres jamais se arrependeu de ter feito.

virgens juramentadas

Crédito da foto: Jill Peters

Ao longo da história moderna, as mulheres das montanhas remotas do norte da Albânia, como em qualquer outro lugar, tiveram muito poucos direitos. Elas não podem votar, ter certos tipos de empregos, comprar terras ou entrar em muitos estabelecimentos. Elas não podem herdar propriedades, conduzir negócios ou ganhar dinheiro, fumar, usar relógio ou mesmo xingar em voz alta. Essas antigas leis e costumes sociais, chamados Kanun de Leke Dukagjini, foram transmitidos oralmente entre os clãs do norte da Albânia por mais de cinco séculos. Ele ainda governa a região.

O Kanun dita que as mulheres são propriedade de seus maridos. Os casamentos devem ser arranjados e fixados no nascimento ou na primeira infância. Uma vez que uma mulher é considerada elegível para se casar, ela sai da casa de seus pais e vai para a de seu marido. Cuidar de seu marido e filhos, e manter sua casa então se torna seu único dever.

A primeira virgem juramentada nasceu por necessidade social. Se o patriarca da família morre e não há herdeiro homem, uma mulher solteira na família pode assumir o papel de um homem e chefiar a família. Ela faz um juramento irrevogável, na frente de doze anciãos da aldeia ou tribo, para praticar o celibato, e daquele dia em diante ela se torna um homem. Ela pode usar calças, possuir propriedades, assumir trabalho masculino e ter direito a todos os direitos e privilégios da população masculina.

Ao longo dos anos, as mulheres se tornaram virgens juramentadas por diferentes razões. Algumas juraram evitar um casamento arranjado sem desonrar a família do noivo selecionado. Outras juraram expressar seu desafio e desejo de independência. Embora as virgens juramentadas nunca possam experimentar os prazeres da feminilidade, de ter um parceiro para a vida toda ou de gerar filhos, o fascínio da liberdade — da opressão, do trabalho físico constante, da submissão aos homens — é suficiente para muitas mulheres fazerem o juramento.

"Desnudar-se de sua sexualidade ao prometer permanecer virgens era uma maneira dessas mulheres, em uma sociedade segregada e dominada por homens, se envolverem na vida pública", diz Linda Gusia , professora de estudos de gênero na Universidade de Pristina, em Kosovo. "Era sobre sobreviver em um mundo onde os homens governam."

Nas últimas décadas, a Albânia fez progressos consideráveis na questão dos direitos das mulheres, mas em muitas regiões nas montanhas do norte do país, a modernidade ainda não chegou.

A fotógrafa americana Jill Peters viajou para o norte da Albânia para conhecer e fotografar essas mulheres que representam algumas das últimas virgens juramentadas do país. Estima-se que existam apenas cerca de cem ou menos dessas mulheres. À medida que a modernidade lentamente se infiltra nas regiões rurais remotas da Albânia, essa tradição vai morrer.

sábado, 28 de setembro de 2024

Mulheres que se tornam homens: as virgens juramentadas da Albânia

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