O caso do monge Nemésio
O colega do curso de História na Udesc, Felipe Corte Real de Camargo, me ajudou a pesquisar os principais jornais catarinenses entre 1917 e 1921 na Biblioteca Pública de Santa Catarina, em Florianópolis. Entre os eventos do período se destaca o surgimento de um novo monge, Nemésio José de Medeiros, abordado na postagem anterior. A seguir, um pouco do que foi publicado na época. (Clique nos recortes para ampliá-los).
"O monge Jesus de Nazareth. Mais um semeador... da revolta?", pergunta o jornal O Estado em sua edição nº 639, página 2 (Florianópolis-SC,domingo, 24.6.1017). E publica uma matéria procedente de Campos Novos, escrita no dia anterior, com o subtítulo "População receiosa". O surgimento do novo monge no Irani "preocupa a atenção do povo daqui", diz o jornal. "É ele um caboclo alto, de barbas brancas e longas, descendo-lhe até o peito, cabelos brancos e compridos, olhos muito vivos e observadores com um certo ar de tristeza e de meiguice. Tem a imponencia impressionante o o ar superior de um santo. É excessivamente calmo e fala devagar, pausadamente, como que bem meditando no que diz. Usa uma bombacha a gaúcho e calça chinelos".
Informa que há cerca de oito dias ele embarcara em Capinzal "com destino a Curitiba afim de conferenciar com o dr. Afonso Camargo, presidente [governador] daquele Estado e solicitar permissão para edificar uma igreja no Irani. Ao que se sabe foi-lhe concedida a entrevista", comenta o jornal. "Consta aqui que desembarca de regresso hoje não tendo o governo do Paraná tomado providência alguma, tendo até, pelo contrário, garantido o monge Jesus de Nazareth. A ser isso verdade é indubitável a formação de novo canudos, incomparavelmente mais resistente que o antigo".
É importante situar esse novo monge no contexto da época. A fase mais aguda de repressão do movimento do Contestado (1912-1916) havia acabado e em 20 de outubro de 1916 fora assinado o Acordo de Limites Paraná-Santa Catarina, no Rio de Janeiro. A iniciativa gerou um levante armado na região Sudoeste do Paraná, envolvendo o deputado Cleto da Silva e os coronéis Domingos Soares e Manuel Fabrício Vieira, entre outros. As manifestações contra o acordo começaram em 7 de novembro de 1916, culminando com a sublevação entre maio e agosto de 1917. O período de ascensão e morte do monge Nemésio (Jesus de Nazareno ou de Nazareth) vai de maio a junho do mesmo ano de 1917.
Talvez por isso o jornal O Estado na matéria citada acima, faça uma advertência: "O novo Jesus de Nazareth é bem possível seja criatura da oposição do Paraná contrária ao acordo". Poucos dias depois sua morte é anunciada. "O monge Jesus de Nazareth foi assassinado. Uma peregrinação que acaba mal". Diz a matéria: "Nemésio José de Medeiros, que um dia, por uma anunciação divina, segundo nos disse ainda há poucos dias, recebeu no corpo o espírito de Jesus Cristo e desde então passou a chamar-se Jesus Nazareno, não teve como o rabino da Galiléia a cruz para expirar, no alto de uma montanha, mas apenas sofreu a rudeza de uma bala ou de um punhal, caindo na silenciosa floresta da margem do Uruguai".
E prossegue: "Esse novo messias que nasceu lá para as bandas de Jaguarão, desde moço se deu a leitura da Bíblia e não só se preocupou com os estudos exegéticos do livro sagrado do cristianismo, mas procurou caracterizar-se de modo a parecer um daqueles apóstolos do Tibiriades ou o próprio Cristo, que expirou no Calvário para redimir a humanidade". Assim, Nemésio "em andrajos esquisitos andou pelos campos e florestas a pregar a regeneração, até que um dia, com 3 contos de réis no bolso, resolveu visitar a capital do Estado do Paraná e entrar para a história, com uma coleção de fotografias curiosas, com um dos tipos místicos que tem impressionado a humanidade toda".
Ainda segundo o mesmo jornal, Nemésio regressara a "seu reduto" com "dinheiro e com um lote de terras para construir uma igreja", satisfeito por haver conduzido em Curitiba "centenas de curiosos, que o queriam ouvir e ver a sua longa cabeleira e a sua barba enorme. A sua sorte porém era má; o seu destino não era o de salvar a humanidade, mas o de cair, talvez por um tiro projetado por um admirador dos seus três contos de réis. (D'O Diario da Tarde)".
Informa que há cerca de oito dias ele embarcara em Capinzal "com destino a Curitiba afim de conferenciar com o dr. Afonso Camargo, presidente [governador] daquele Estado e solicitar permissão para edificar uma igreja no Irani. Ao que se sabe foi-lhe concedida a entrevista", comenta o jornal. "Consta aqui que desembarca de regresso hoje não tendo o governo do Paraná tomado providência alguma, tendo até, pelo contrário, garantido o monge Jesus de Nazareth. A ser isso verdade é indubitável a formação de novo canudos, incomparavelmente mais resistente que o antigo".
É importante situar esse novo monge no contexto da época. A fase mais aguda de repressão do movimento do Contestado (1912-1916) havia acabado e em 20 de outubro de 1916 fora assinado o Acordo de Limites Paraná-Santa Catarina, no Rio de Janeiro. A iniciativa gerou um levante armado na região Sudoeste do Paraná, envolvendo o deputado Cleto da Silva e os coronéis Domingos Soares e Manuel Fabrício Vieira, entre outros. As manifestações contra o acordo começaram em 7 de novembro de 1916, culminando com a sublevação entre maio e agosto de 1917. O período de ascensão e morte do monge Nemésio (Jesus de Nazareno ou de Nazareth) vai de maio a junho do mesmo ano de 1917.
Talvez por isso o jornal O Estado na matéria citada acima, faça uma advertência: "O novo Jesus de Nazareth é bem possível seja criatura da oposição do Paraná contrária ao acordo". Poucos dias depois sua morte é anunciada. "O monge Jesus de Nazareth foi assassinado. Uma peregrinação que acaba mal". Diz a matéria: "Nemésio José de Medeiros, que um dia, por uma anunciação divina, segundo nos disse ainda há poucos dias, recebeu no corpo o espírito de Jesus Cristo e desde então passou a chamar-se Jesus Nazareno, não teve como o rabino da Galiléia a cruz para expirar, no alto de uma montanha, mas apenas sofreu a rudeza de uma bala ou de um punhal, caindo na silenciosa floresta da margem do Uruguai".
E prossegue: "Esse novo messias que nasceu lá para as bandas de Jaguarão, desde moço se deu a leitura da Bíblia e não só se preocupou com os estudos exegéticos do livro sagrado do cristianismo, mas procurou caracterizar-se de modo a parecer um daqueles apóstolos do Tibiriades ou o próprio Cristo, que expirou no Calvário para redimir a humanidade". Assim, Nemésio "em andrajos esquisitos andou pelos campos e florestas a pregar a regeneração, até que um dia, com 3 contos de réis no bolso, resolveu visitar a capital do Estado do Paraná e entrar para a história, com uma coleção de fotografias curiosas, com um dos tipos místicos que tem impressionado a humanidade toda".
Ainda segundo o mesmo jornal, Nemésio regressara a "seu reduto" com "dinheiro e com um lote de terras para construir uma igreja", satisfeito por haver conduzido em Curitiba "centenas de curiosos, que o queriam ouvir e ver a sua longa cabeleira e a sua barba enorme. A sua sorte porém era má; o seu destino não era o de salvar a humanidade, mas o de cair, talvez por um tiro projetado por um admirador dos seus três contos de réis. (D'O Diario da Tarde)".