Os Guaykurus.

Guaicurus, guaycurus ou guaykurus são os nomes que recebe um conjunto de povos indígenas de origem pâmpido-patagônica que habita a região do Gran Chaco, na Argentina, Bolívia, Paraguai e Brasil.
Desta família fazem parte os mocovíes, toba, pilagás e caduveos.
No passado também incluiu os já extintos abipões, mbaiaes e paiaguaes.
As diferentes línguas guaicurus faladas são muito semelhantes umas às outras.

O nome de guaicurus teve a sua origem no apelativo ofensivo dado pelos guarani a uma parte dos mbayaes do Paraguai, que depois foi alargado a todo o conjunto.
Ainda hoje entre os guarani-falantes a palavra guaykurú tem um significado que se traduz aproximadamente por "bárbaro" ou "selvagem".
Estima-se em 150 mil quando os espanhóis chegaram.
Apesar da origem insultuosa da palavra "guaicuru" entre os Guarani, então os antropólogos do início do século XX e principalmente os linguistas mantiveram este termo para classificar os pâmpidos chaquenses e setentrionais.
A estes povos do Chaco Oriental, os espanhóis deram o nome de frentões ou em Guarani: toba pelo costume muito comum entre eles de raspar a parte anterior da cabeça, dando a impressão de uma frente mais ampla do que o normal.

À chegada dos espanhóis, as aldeias guaicurus estavam concentradas na região oeste do rio Paraguai entre os rios Bermejo e Pilcomayo na atual província de Formosa, Argentina, e em menor medida nas áreas adjacentes a esses rios.
Em seu momento de extensão máxima habitaram os territórios entre Corumbá no Mato Grosso del Sul (Brasil) no norte passando pelo Chaco Boreal até a cidade de Santa Fé ao sul e desde o rio Paraguai até as estribações andinas do departamento de Tarija na Bolívia, incluindo para as províncias argentinas de Formosa, Chaco, leste de Salta, norte de Santiago del Estero e norte de Santa Fé.
A incorporação do cavalo deu impulso à sua expansão territorial.

Em dezembro de 1609 os jesuítas Roque Gonzalez de Santa Cruz e Vicente Grifi internaram-se no Chaco Boreal entre os rios Confuso e Pilcomayo e em 1610 fundaram com guaicurus a redução de Nossa Senhora Maria dos Reis no lugar chamado Yasocá.
A redução de Guazutinguá foi fundada pelo jesuíta Pedro Romero perto do estero Patiño, sendo abandonada em 1626.
Em meados do século XVIII os jesuítas criaram diversas missões entre os guaicurus, entre elas: San Javier, Conceição, San Fernando, San Ignácio de Ledesma, Rosário de Timbó e São Pedro.
Após a dissolução desta ordem, a missão foi continuada pelos franciscanos em 1768.

O cronista da expedição do avançado Pedro de Mendoza, Ulrico Schmidl, descreveu o encontro com um grupo guaicurú que encontraram em viagem ao Paraguai em 1536 em sua obra Viagem ao Rio de la Plata, chamando-os kueremagbeis, kurgmaibeis e kuremagbeis:
De lá 8 dias chegamos a uma água corrente chamada Paraboe; por ela navegamos águas acima.
Lá encontramos muitas pessoas, Kueremagbeis, que não têm mais nada para comer senão peixe e carne e pão de São João ou chifre de cabra, do que fazem vinho; estas pessoas trataram-nos muito bem e proporcionaram-nos o quanto nos faltava.
Eles são altos e corpulentos, assim como homens como mulheres.
Estes homens enfiam os narizes e na aberturita enfiam uma pena de papagaio; as mulheres pintam a parte inferior da cara com umas riscas longas de azul, que lhes duram para toda a vida; e cobrem as vergonha com um pano de algodão a partir do umbigo até os joelhos.
Há desde os dizeres Mapenniss até estes Kurgmaibeis 40 milhas de estrada; paramos 3 dias com eles (... )
Aos Aeiges dos ditos Kuremagbeis são 35 milhas (léguas) a caminho.
São altos e de forte constituição física, com pernas robustas e costas largas. Excelentes caçadores e catadores.
Os tobas são distribuídos pelos rios Bermejo e Pilcomayo na Argentina, mas também há pequenos grupos no Paraguai e na Bolívia.
Mocovíes e abipões fizeram isso no norte de Santa Fé, noroeste de Santiago del Estero e Chaco.
Os pilagás habitam o centro de Formosa.
Os abipões foram divididos em 3 grupos: rikahé (pessoas do campo), nakaigeeterhé (pessoas da floresta) e jaaukanigá ou yaaukanigá (pessoas da água).
Os tobas ou na sua língua: qo'm estão divididos em: tobas-miní (pequenos tobas), no Chaco Paraguaio; tobas-guazu (grandes tobas), na Argentina. Outras parcialidades tobas foram Takshik, Lagashik e Shiuwik. Os cocolotes e os aguilotes mencionados pelas crónicas espanholas parecem ter sido divisões dos tobas.
Os chamados em Guarani: Mbayaes e Payaguaes habitaram o atual território paraguaio.
Os atuais kadiwéu ou caduveo do Mato Grosso no Brasil são considerados como os atuais descendentes dos mbayaes.

A obra mais completa sobre a história política, étnica e cultural dos povos guaicurus está traçada nos 5 volumes de História Sagrada del Pueblo Qom no País Chaqueño, do professor argentino, nascido na cidade de Santa Fé, Flavio Dalsotto, que em 2010 publicou os tomos 1 e 2 da obra acompanhados por mapas.
Nas últimas décadas do século XX indígenas guaicurus do departamento Juan Felipe Ibarra da província de Santiago del Estero começaram a organizar-se para restabelecer a sua identidade cultural fazendo com que o Registro Nacional das Comunidades Indígenas (Re.Na.C.I.) concedesse personaria jurídica à Comunidade Indígena Guaycurú do Lote 4 Poço do Toba e à Comunidade Indígena Guaycuru do Lote 5 El Colorado, em 1 e 19 de dezembro de 2008, respectivamente.
Estas comunidades registaram-se como guaicurus, diferenciando-se dos seus vizinhos mocovíes da província do Chaco.
Seriam diversos grupos de origem guaicuru reunidos sob um nome comum.
Fonte: Amália Vargas
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domingo, 29 de dezembro de 2024

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