sábado, 20 de fevereiro de 2021

PARÓQUIA SÃO JOSÉ E SANTA FELICIDADE

 Uma tradição religiosa

As famílias que deram origem a Santa Felicidade, a par de seu tradicional apego à terra, ao trabalho, à parcimônia e à vida ordeira e pacata, traziam consigo outra tradição não menos arraigada e forte: o apego à religião católica.

Estabelecidos na colônia sem igreja e sem um sacerdote, aos domingos e festas percorriam os 7 km até Curitiba, onde assistiam missa e celebravam os principais atos religiosos, na Paróquia Nossa Senhora da Luz.

 Quando surgiram as primeiras casas, transformaram uma sala em oratório; onde se reuniam para as orações, leituras e catecismo às crianças.

 

Primeira Capela

Surgiu então a necessidade de construir uma Capela. Pequena, de madeira, construída com o esforço de cerca de 70 famílias.

Marco Mocellin, que juntamente com Sebastiano Dal Santo havia aberto um negócio, doou um pedaço de terra em frente à sua casa, e os colonos meteram-se à obra com a melhor boa vontade. Os meios, porém, eram escassos, e tiveram de contentar-se em construir uma capela de madeira, que pouco ou nada custava.

Em pouco tempo a obra foi concluída, e no dia em que o pároco da cidade de Curitiba veio benzê-la e celebrar a primeira missa, foi uma festa extraordinária.

Mas aquela foi, acima de tudo, uma festa exterior, e se foi também interior, espiritual, é certo que não foi completa, porque, não sabendo a língua da terra, não puderam confessar-se nem receber em seu coração o Deus da consolação, como há anos desejavam.

Era o ano de 1886 quando chegou a região de Curitiba um padre italiano que teria papel fundamental na construção da paróquia, Pe. Pietro Colbacchini.

Pe. Colbacchini, o pioneiro

Nascido em Bassano Veneto, norte da Itália, em 11 de setembro de 1845, Pe. Colbacchini estava em São Paulo há dois anos quando ouviu falar das necessidades dos imigrantes italianos na região de Curitiba. Após uma primeira visita, retornou a São Paulo para solicitar a D. Lino Deodato, então bispo de São Paulo e do Paraná, as faculdades necessárias para o exercício da missão junto aos italianos em Curitiba, o que lhe foi concedido em 29 de setembro de 1886.

Com essa autorização, foi para Curitiba, sendo seu primeiro trabalho a pregação de uma missão numa colônia que começava a se formar: Santa Felicidade. Durante os 15 dias que lá permaneceu, os colonos sentiram sua fé revigorada, muito entusiasmados pelo fato de verem um padre como eles, vêneto, falando o mesmo dialeto e portando as mesmas tradições culturais. Em Curitiba, Pe. Colbacchini fixou sua sede em Água Verde, mas percorria incansavelmente as colônias italianas da região, que iam de Morretes à Rondinha; de São José dos Pinhais à Colombo.

O trabalho era árduo e muito desgastante. Colbacchini atendia a colônias distantes umas das outras e com necessidades diversas e variáveis. Nesse contexto, escreveu no fim do ano de 1887 uma carta ao Bispo de São Paulo e Paraná, D. Lino Deodato, expondo suas dificuldades e pedindo soluções para harmonizar e regularizar o atendimento religioso das colônias. Em resposta, o bispo enviou à região de Curitiba um padre para conhecer as circunstâncias e estudar medidas para resolver o problema.

A solução foi viável, prática, conciliatória, a contento do Pe. Colbacchini e dos imigrantes: uma Capelania Curada Italiana. Criada oficialmente em fevereiro de 1888, a Capelania, com sede em Água Verde, abrangia os seguintes núcleos coloniais: Água Verde, Santa Felicidade, Campo Comprido, Colombo, Antônio Rebouças, Rondinha, Santa Maria do Novo Tyrol, Murici e Zacarias.

 

Nesse contexto, Pe. Colbacchini recebeu a notícia que o bispo de Piacenza, D. João Batista Scalabrini, havia fundado uma instituição missionária de amparo aos migrantes. Entrando em contato com Scalabrini, Pe. Colbacchini pediu que fossem enviados mais padres para ajudar no serviço aos italianos da região. 

Em 12 de julho de 1888, dois missionários de Scalabrini partiam de Piacenza para trabalhar na recém constituída Capelania Italiana. Eram eles os padres Domênico Mantese e Giuseppe Molinari.

 

Em 1889, Pe. Colbacchini passou a residir em Santa Felicidade, onde percebeu um problema. A capelinha de madeira, onde eram realizados os ofícios religiosos, começou a ficar pequena, surgindo a necessidade da construção de um novo templo.

Construção da Igreja: construção de um sonho

Veio então a decisão de construir uma nova igreja, não só maior, mas também sólida e duradoura, isto é, de alvenaria. Todos recordam com quanta união e alento foram postas mãos à obra.

Além de um exímio missionário, Pe. Pietro Colbacchini era engenheiro, arquiteto, mestre de obras. Foi o grande responsável pelo projeto da suntuosa Igreja de São José, em Santa Felicidade. Muitas vezes, Colbacchini era visto à frente dos homens que carregavam pedras e tijolos, e das crianças, que carregavam cada uma um saquinho de areia para a construção.

O povo correspondia com grande união e ímpeto, e contribuía à bela obra com cinco por cento dos produtos, com o transporte de materiais, com a oferta dos mesmos, com a mão de obra.

 

Inauguração da Igreja de São José

As obras começaram em 1889 e em 3 anos de intenso trabalho e dedicação, a nova Igreja ficou pronta alguns dias antes do Santo Natal de 1891, uma bela ocasião para inaugurá-la.

O Pe Colbacchini aproveitou para fazer um pouco de bem às almas convidando os habitantes de colônias vizinhas para as funções especiais e o Santíssimo Sacramento.

Para os colonos, foi motivo de orgulho “erigir e inaugurar uma igreja de 42m de comprimento, 16m de largura, com 3 naves e duas capelas, e 15m de altura, que é uma maravilha para estes lugares.”

(Colbacchini, P. Pietro, id. Ib. p. 334)

Por alguns dias, fizeram-se solenes procissões, nas quais se transportavam da Igreja velha quadros e imagens de santos. Na manhã da véspera de Natal, o Pe Pietro Colbacchini benzeu solenemente a nova Igreja, com a participação de numerosos populares e às 10 horas da noite foi realizada a última e mais solene procissão, na qual se transportou o santíssimo Sacramento.

Feita a adoração pública até meia-noite, naquela hora começou a Missa Solene, que terminou cerca de duas horas. 

 

"Tão grande foi a festa, que entre as casas dos homens mortais, tinha sido inaugurada uma casa estável para Deus vivente e imortal, ao Redentor Divino, sob a proteção de seu fiel guardião, São José." (Pe. José Martini)

 

Na fachada da Igreja, os colonos escreveram:

 

D. O. M. - IN HONOREM B. JOSEPH - FIDEI GRATIQUE ANIMO

VENETI HUC EMIGRATI - PROPRIIS IMPENSIS - A FUNDAMENTIS EREXERE

ANNO DOMINI MDCCCXCI

 

Na tradução para a língua portuguesa:

A DEUS ÓTIMO E MÁXIMO - EM HONRA DE SÃO JOSÉ - EM SINAL DE FÉ E GRATIDÃO

OS IMIGRANTES VÊNETOS COM PRÓPRIOS RECURSOS CONSTRUÍRAM DESDE OS ALICERCES

NO ANO DO SENHOR 1891

Colbacchini refugiado, viagens e morte

Em Santa Felicidade, Pe. Colbacchini passou a ser perseguido por políticos italianos, apoiados pelo maçom e agente consular Ernesto Guaita. Em fevereiro de 1894, teve sua casa assaltada e foi obrigado a fugir. Refugiou-se no interior do estado durante dois meses, na floresta. Conta-se que ele mesmo disse: “Nunca pensei que iria virar passarinho. Faço-o com muito gosto para o bem dos nossos imigrantes.”

 

Disfarçado de colono, chegou até Paranaguá e partiu para a Itália, em julho de 1894. Lá, encontrou-se com D. Scalabrini, relatando os problemas vividos pelos imigrantes no Brasil e fazendo os votos para entrar na Congregação de S. Carlos.

Em 1896 voltou ao Brasil, para o Rio Grande do Sul, onde fundou a cidade de Nova Bassano. Com 56 anos de idade, em 30 de janeiro de 1901, morreu santamente, após celebrar a missa. Suas últimas palavras foram: “Não chame ninguém. Quero morrer em paz. A morte está aí. A vida é breve. Parece-me ter nascido ontem e estou, no fim da vida. Hoje, é o dia de minha morte. Deus a abençoe, como eu também o faço. Até o paraíso. Morro feliz. Meu Jesus.”

 

Parte dos restos mortais do Pe. Pietro Colbacchini estão na nave esquerda da Igreja Matriz de São José, em Santa Felicidade, sua obra prima, abaixo da pintura de N. Sra. de Lourdes.

Capelania Curada de Santa Felicidade

No dia 16 de julho de 1895, chegaram a Curitiba dois missionários Scalabrinianos: Pe. Faustino Consoni, que foi para Água Verde, e Pe. Francisco Brescianini, que instalou-se em Santa Felicidade. Foram muito bem acolhidos por D. José de Camargo Barros, então bispo de Curitiba, que para melhor atender os imigrantes, mudou a sede da Capelania Italiana de Água Verde para Santa Felicidade.

 

A Capelania Italiana de Santa Felicidade, instalada oficialmente em 1° de novembro de 1895, abrangia as seguintes colônias: Santa Felicidade, Água Verde, Umbará, Campo Comprido, Antônio Rebouças, Gabriela, Pilarzinho, Santa Maria do Novo Tyrol, Zacarias, Murici, Rondinha, Ferraria, Campina e Rio Verde.

De Capelania a Paróquia

Em 1901, quando o capelão era o Pe. Francisco Brescianini foi inaugurada a torre com três sinos, batizados de Davide, Camilo e Antonio, vindos da Itália junto com a imagem de São José, presente no presbitério da Igreja até hoje, com a presença do bispo de Curitiba D. José de Camargo Barros.

Nova fachada

Em 1926, Pe. Giuseppe Martini inicia as obras de ampliação da Igreja e remodelação da fachada. As obras foram concluídas no dia 05 de fevereiro de 1928, data em que se celebrou o Cinquentenário da fundação da Colônia Italiana.

Também sua Excia. Revma. D. João Francisco Braga, Arcebispo de Curitiba, tomou parte na festa na parte da tarde, deu a benção papal que o Santo Padre havia enviado.

As pinturas internas da Igreja começaram a ser feitas em 1935, e foram concluídas para a Festa de São José do ano seguinte.

 

Em 2 de abril de 1937, por decreto do então Arcebispo D. Ático Eusébio da Rocha, a Capelania Curada Italiana de Santa Felicidade transformou-se em Paróquia São José.

Fatos Históricos

 

1886 - Inauguração do Cemitério

O Cemitério de Santa Felicidade destaca-se pelo panteão. Uma galeria de aproximadamente 50m, dividida em 18 módulos.
Foi tombado pelo setor do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Paraná em 20 de junho de 1977, sendo também, uma Unidade de Interesse de Preservação da Prefeitura de Curitiba.

1900 - Inauguração da Escola Paroquial

Inaugurada em 08/12 de 1900, a Escola Paroquial de Santa Felicidade foi confiada às Irmãs do Sagrado Coração de Jesus - atual Colégio Imaculada Conceição

1959 - Primeira Festa da Uva

21/01 de 1959, Festa de Santa Inês – as Filhas de Maria promovem a primeira Festa da Uva

 

1982 - Primeira Festa do Frango, Polenta e Vinho

Realização da primeira Festa do Frango, Polenta e Vinho.

 

2013 - Santa Felicidade co-padroeira

Em 12 de agosto de 2013, a pedido do pároco, Pe. Claudio Ambrozio, CS, e da comunidade, o então Arcebispo D. Moacyr José Vitti declara Santa Felicidade como co-padroeira da paróquia, que passa a ser denominada ‘Paróquia São José e Santa Felicidade’.

2016 - Abertura da Porta Santa

Durante a Solenidade do Padroeiro São José, a 19 de março de 2016​, a Igreja Matriz abriu a porta central como Porta Santa do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, instituído pelo Papa Francisco. Na data, a comunidade pôde receber as indulgências plenárias do Ano Santo

2017 - Restauração da Igreja Matriz

Em junho de 2017, ​iniciam-se as obras de restauração completa da Igreja Matriz de São José

Ao longo de toda a sua história, a Paróquia São José e Santa Felicidade tem como característica principal a acolhida de todos os povos, carisma dos Missionários Scalabrinianos presentes desde os tempos de Colbacchini até os dias de hoje.

  

 

Referências:

Livro Tombo

D. Jacir Francisco Braido – “O Bairro que Chegou num Navio”, 1978

D. Pedro Fedalto – “O Centenário da Colônia Antônio Rebouças”, 1978

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