Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (Cid Destefani, 30/09/1990) - A Comendador Araújo
"A Curitiba do começo do século já possuía um delineamento do que seriam as futuras “zonas nobres” da cidade. O Batel já estava sendo ocupado desde o final do século passado pelas moradias dos grandes ervateiros. Possuíam chácaras e engenhos naquele arrabalde. A ligação ao centro da cidade era feita pela Rua do Mato Grosso, futura Comendador Araújo, que recebia aquele nome por ser considerada o início da futura estrada que ligaria Curitiba àquele estado.
Recebeu o nome que conserva até hoje em homenagem a Antônio Alves de Araújo, o comendador, ervateiro de grandes posses, nascido em Morretes. Era o ilustre paranaense formado em Direito na Europa. Foi político de prestígio chegando a governar a província por três alternados curtos períodos.
A fotografia de hoje nos mostra a Rua Comendador Araújo no começo do século. Foi feita em 1907 pelos irmãos Weiss quando ainda a condução urbana eram os bondinhos de mulas, instalados vinte anos antes. A pacata Curitiba de então, já sentia a presença do elemento árabe no seu comércio, com o registro do nome da casa comercial à direita: “Nova Palestina”. Já à esquerda vemos a loja e fábrica de selins e arreamentos de Carlos Cornelsen outro filho de imigrantes que se estabelecia na florescente rua.
A Comendador desenvolveu-se com o passar dos anos, preservando instituições centenárias como é o caso da Igreja Presbiteriana e da Casa Glaser. Outras desapareceram como a Escola Americana e a Ervateira americana. Nesta rua, em 1913, funcionou a primeira sede da Universidade do Paraná. Os trilhos dos bondes de tração animal serviram durante longos anos, de 1887 até 1913 para transportar passageiros e as barricas de erva-mate produzidas nos engenhos do Batel.
Em 1913, com a instalação dos bondes elétricos, a rua tomou ares de boullevard, sendo arborizada em ambos os lados e, com o tempo, a galharia formou uma espécie de túnel vegetal, o que tornava o trânsito agradável no verão. Em 1939, no mês de setembro as árvores foram cortadas e os trilhos dos bondes foram transferidos para a rua Emiliano Perneta. Ficou a Comendador outra vez com o aspecto desolado do começo do século".
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