Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (Cid Destefani, 07/06/1992) - De uma velha crônica: a origem do nome Rua das Flores
"(...) Há poucos dias o jornalista Arnaldo Alves da Cruz nos entregou uma cópia de um artigo escrito pelo Doutor João Pâmphilo D'Assumpção, pulicado em jornal local em janeiro de 1927.sob o título: "Como conheci a Rua XV de Novembro".
A descrição de Pâmphilo D'Assumpção é saborosa e nos leva ao passado da então Rua das Flores, onde ele nasceu em 1868. Entretanto, o que de mais importante nos deixa são informações como esta: "A primeira reconstituição que fiz foi a da esquina da Rua Dr. Muricy, outrora chamada Rua da Assembléia e, antes, Rua Nova, quando em 1794 foi concedida a carta de data a Ivo José de Andrade que deu o nome ao ribeiro".
Eis o primeiro esclarecimento importante na crônica do ilustre curitibano: a razão do nome do Rio do Ivo é por fazer divisa, há quase 200 anos, com a terra cuja propriedade era deste ilustre senhor José Ivo de Andrade.
Continua a descrição: "A memória que tenho deste local remonta à época em que se abriu esse trecho para o começo da Estrada do Mato grosso. Havia um paredão de pedra sore o qual existiam duas ou três casinhas, numa das quais morava o Mestre Torquato, alfaiate. É onde está hoje a Casa Carioca". Isto em 1927, quando o artigo foi escrito. . Hoje naquela esquina da XV com a Muricy está instalada a Tecelagem Imperial.
Vai o ilustre articulista retratando a Rua das Flores de seu tempo, dizendo que onde hoje está a Farmácia Colombo ainda não existia edificação e que o local era uma pequena elevação de barro amarelo
Seguindo sua reconstituição vai, Dr. Pâmphilo nos dizendo como era a esquina com a Marechal Floriano, onde hoje está a agência do Bamerindus. Ali a atual Floriano subia em estreito caminho ladeado por altos barrancos até o Largo da Matriz, hoje Praça Tradentes. Na esquina onde está o banco, ficava o sobrado que havia sido palácio do governo. No quintal deste sobrado existiam dois cedros não-europeus. Eram cedros das nossas matas.
Outra menção curiosa focaliza onde hoje se encontra o prédio do Banestado (Casa Gótica da XV, atual agência do Itaú), na esquina da Monsenhor Celso. Chamavam a esse trecho, de mesquinha edificação, "as casinhas". Eram ocupadas por bodegas ordinárias, onde reuniam-se cachaceiros e se vendia toucinho charque e aguardente. Do outro lado, em frente, existia um casebre que pelo rebaixamento da rua ficou empoleirado no alto de alicerces, de modo que para atingir a porta, havia uma escada de tábuas até a Travessa da Matriz (Monsenhor Celso).
Desta velha crônica o trecho que se segue é sumariamente esclarecedor. sabemos hoje que o nome Rua das Flores advém da existência de alguns pés de "Rosa Louca" em divisa de terreno daquela via, no século XIX. Pamphilo D'Assumpção nos da a localização exata destas flores. Vamos a seu texto:
"Outra reconstituição é a da esquina onde funciona o Club do Comércio e a Bomboniére Mimosa. Este canto pertencia à minha família. Era fechado por muros velhos, remendados com tábuas. Havia ali uma roseira da variedade que vulgarmente se chama 'Mariquinha', roseira que cobria todo o muro e de tal modo florescia que deu à rua o nome de Rua das Flores".
A Rosa chinensis (conhecida popularmente no Brasil como "Mariquinha"). Desenho de 1816, da ilustradora Caroline Maria Applebee (1799-1854). Extraído de Royal Horticultural Society.
Eis, portanto, o local onde estavam localizadas as flores que deram a denominação à rua no século XIX, na esquina entre a XV e a Marechal Floriano, onde está instalado o edifício Manoel de Macedo. Obviamente guardando o espaço que foi desapropriado para o alargamento da rua em 1965.
Vamos terminando esta viagem proveitosa e nostálgica ao nosso passado, deixando o fechamento da matéria por conta do cronista que deixou a nós, pósteros, estas preciosas informações.
"Estes pontos que rememorei bastam para dar a medida do nosso progresso, que é proporcionalmente maior que o de São Paulo que quando nos largou, deixou-nos uma mísera vila isolada nestes campos dos pinhais, tendo tido o cuidado de na legislatura anterior a nossa emancipação suprimir, por economia, três lampiões de azeite que existiam na terra. Isso deu-se em 1853... O que Curitiba precisa é que seus filhos a amem com ardor, queiram-na com entusiasmo. Que percam o too receio de passar por jeca pelo fato de enaltecerem seu berço. Convençam-se de que a nossa capital é das cidades mais belas, mais adiantadas e mais progressistas do Brasil".
A fotografia que ilustra a 'Nostalgia' de hoje foi feita no dia 18 de abril de 1948 e nos mostra a antiga casa de Manoel de Macedo, na esquina da XV com a Floriano, onde no século XIX existiu o muro com as famosas rosas "Mariquinha", que deram nome à Rua das Flores".
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João Pâmphilo Velloso de Assumpção. Data de nascimento: 7 de setembro de 1868. Falecimento: 15 de janeiro de 1945. Natural de Curitiba, Paraná.
Formação Acadêmica: Bacharelou‐se em Direito pela Faculdade de São Paulo no ano de 1889 na mesma turma de que fizeram parte Emiliano Pernetta e Octavio do Amaral. Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais pela FDUP – Faculdade de Direito da Universidade do Porto (1897), por meio de concurso para lente substituto de um grupo de cadeiras referentes a Economia e Administração.
Docência: Lecionou Direito Civil das Obrigações aos 44 anos. Discurso Inaugural na sessão solene de Instalação da Academia de Letras do Paraná, em abril de 1923.
Publicações: ASSUMPÇÃO, Pâmphilo de. Duas orações. Curityba: Livraria Mundial, 1923. ASSUMPÇÃO, Pâmphilo de. “Colônia Penal”. Diário da Tarde. 12 abr. 1907. Ano X, n. 2475, p. 1. ASSUMPÇÃO, Pamphilo de. “O crime no Paraná”. Diário da Tarde. Curitiba, 21 ago. 1908. Ano XI, n. 2889, p. 1.
Vida Profissional: Fundou o Instituto dos Advogados do Paraná (1917), do qual foi Presidente por 15 anos; Fundou a Seção do Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (1930), da qual foi Presidente por 5 anos (1932/1935). Foi membro fundador do Centro de Letras do Paraná, do qual foi Presidente. Presidente da Sociedade Thalia (1927‐28). Presidente da Associação Comercial do Paraná (1909‐ 13 e 1927‐31). Fundador e ocupante da cadeira número 7 da Academia Paranaense de Letras.
Também atuou como membro do Conselho Penitenciário do Paraná.
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