quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Vista do Centro registrada da esquina entre as ruas Buenos Aires e Benjamin Lins, no Batel. Data: julho de 1954. Foto: Domingos Foggiatto. Acervo: Cid Destefani. Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia. (Cid Destefani, 27/09/1992)

 







Coluna Nostalgia. 1954 – Uma Vista Parcial (Cid Destefani, 27/09/1992)

"(...) Hoje vamos focalizar uma vista da cidade mais recente, feita do alto do antigo Museu Paranaense, que ficava na esquina da Rua Buenos Aires com Benjamin Lins (construção de Ernesto Guaita de 1902). A imagem foi gravada em julho de 1954, em direção ao centro da cidade. Em primeiro plano vemos a Praça Theodoro Bayma, cujo nome já era bem antigo no logradouro, mas ninguém sabia da sua existência. Todo mundo quando falava do local mencionava a “Pracinha do Museu”. 

Na ocasião que a vista foi tomada, já possuía a praça um ponto de automóveis de aluguel, popularmente conhecidos como “carros de praça". Foram "chauffeurs" ali o senhor José Stanoga, o Luiz Pavone e o Moacyr Aleixo. O mais conhecido deles, Venceslau de Souza Florêncio dirigia um enorme “Nash” preto. O Venceslau ainda hoje trabalha lá (1992) com seu táxi. Pelo nome ninguém o conhece, mas por seu apelido, “Cabeleira”, é extremamente popular.

A Rua Emiliano Perneta à esquerda, antiga Rua do Aquidaban, desce em linha reta até a Praça Zacarias. Nesta época ainda possuía os trilhos dos bondes que vinham daquela praça em direção ao batel e ao Seminário. Só os trilhos, pois os bondes já tinham deixado de circular em 1952.

À direita vemos o início da Rua Dr. Pedrosa que fazia a ligação com a Praça Ruy Barbosa. Entretanto o que sobressai na paisagem são o edifícios prontos ou em construção. São os primeiros arranha-céus. Começam eles a dividir as épocas históricas da cidade.

Estava Curitiba deixando de ser a pacata urbe onde todo mundo se conhecia para entrar na era moderna dos apartamentos em grande parte adquiridos pelo pessoal do interior, principalmente do Norte do Paraná, abastados fazendeiros de café. A cidade começava portanto, a receber os primeiros prédios que formariam o maciço de edifícios que hoje possui e cuja vista que apresentamos seria impossível de ser feita atualmente.

Impossível por duas razões. A primeira seria pelo impedimento causado pela muralha de prédios. A segunda por não mais existir o imponente prédio do museu que estava instalado no alto do Morro da Bela Vista. Nem o prédio nem o morro. Hoje, no local, um tapume esconde o buraco que deixaram há muitos anos. (Hoje, 2014, o local é ocupado por uma locadora de vídeos e outros estabelecimentos comerciais).

Quando falamos do velho Museu nos vem à lembrança a piazada e os mais taludos que morando nas cercanias, por ali circulavam. Pessoal miúdo que estudava no grupo escolar 19 de Dezembro e, mais tarde, em outros colégios, como o velho Belmiro Cézar.

Vem-nos à lembrança os nomes de Lucyr Pasini e seus irmãos Lunes e Laércio. Normando e Manfredo Schiebler, José e Eduardo Carneiro de Mesquita. Alex e Renato Schaitza o “Renatinho” Schaitza, nosso companheiro de infância mais tarde companheiro nas lides jornalísticas e um grande incentivador deste trabalho que fazemos sobre a memória da cidade.

Roberto Linhares da Costa e Charles Curt Müller, companheiros do velho Grupo Dezenove. O Gil Marcos Puppi, quando garoto chegou a arranhar as cordas de um violino, hoje respeitado ginecologista, nas horas vagas um razoável taco de sinuca. João Régis Teixeira quando piá também esteve às voltas com aulas de violino e, segundo ele, o melhor som que conseguiu tirar do instrumento foi quando o arremessou sob um bonde que passava e o mesmo foi reduzido a cavacos pelas rodas do coletivo.

Irajá Bastos, Fernando Maranhão, Álvaro Albuquerque, Norberto e Francisco Chella, João e Klaus Maschtke são mais alguns nomes que me vem à lembrança quando vemos a fotografia acima. Outros tantos rostos vemos cujos nomes não conseguimos retirar do arquivo da nossa memória. Afinal lá se vão quarenta anos ou mais. Desculpem-nos os não citados.

Acabamos divagando sobre nossas próprias lembranças ao vermos essa imagem feita em 1954. Outras tantas nos vêm à mente quando por ali circulávamos na infância e na juventude. Dariam pra encher várias páginas e a paciência do leitor. Vamos deixar que cada um eu tiver recordações a fazer em cima desta imagem aproveite o domingo para um bom exercício de memória".

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