quarta-feira, 8 de junho de 2022

CONHECENDO O CASAMENTO POLACO A imigração polonesa ocorrida no Paraná, a partir de 1876, trouxe consigo varios traços culturais e tradicionais de seu país de origem.

 CONHECENDO O CASAMENTO POLACO
A imigração polonesa ocorrida no Paraná, a partir de 1876, trouxe consigo varios traços culturais e tradicionais de seu país de origem.


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CONHECENDO O CASAMENTO POLACO
A imigração polonesa ocorrida no Paraná, a partir de 1876, trouxe consigo varios traços culturais e tradicionais de seu país de origem. Com o decorrer dos anos, a mudança de país, a necessidade de adaptação aos novos costumes, o contato com outros grupos étnicos, enfim, a evolução da sociedade, ocorrera uma mudança de muitos traços primitivos da cultura e o acréscimo de outros novos.
Em especial, na cultura polonesa, o casamento não é tratado como um acontecimento individual, mas um acordo entre duas partes, entre duas famílias e até entre o círculo de amigos das famílias dos noivos, sendo que a promoção do seu ritual promove integrar seus membros.
Por outro lado, num meio onde o trabalho é uma constante e onde não existe muitas distrações, a realização de um casamento é, com certeza, motivo de festas e encontros.
A cerimonia nupcial implica uma mudança de estado civil e social, significando a mudança de dois núcleos para a formação de um novo, agora maior. Em todos aspectos, existiram antigamente e ainda existem nos dias atuais determinadas tradições a serem seguidas.
Baseando-se em trabalho de pesquisa dos costumes da imigração polonesa no Paraná, segundo a tradição, temos a figura do personagem chamado "swat", também denominado "rajtca", cuja presença é indispensável e bastante privilegiada. A ele cabia a função de especulador e alcoviteiro. Na qualidade de emissário, cabia-lhe fazer uma visita aos pais da noiva e consultá-los sobre o consentimento na continuidade do namoro, agora mais compromissado, da jovem filha com o pretendente a quem ele apresenta.
Obtido tal consentimento, é marcada uma nova data para uma nova visita à casa da jovem, agora de seu pretendente acompanhado também dos pais. Nesta nova reunião, denominada "zaloty" ou "poseliny", eram feitas as apresentações e servida "wodka", enquanto era decidido o dote e o enlace matrimonial.
Durante estas conversações, a jovem permanecia em seu quarto, aguardando ser chamada ou solicitada pelo "swat" que, ao fazê-lo, oferecia-lhe um gole de "wodka" e, mediante a sua aceitação, estava confirmado o compromisso. Era então organizada uma reunião íntima entre os parentes mais próximos do noivo e alguns amigos, quando era oficializado o noivado.
Por ocasião dessa festividade, de acordo com a tradição de cada família, ocorriam algumas cerimonias mais expressivas, como os pretendentes ajoelharem-se diante dos pais pedindo-lhes a benção, ato seguido de um beijo entre eles. Nesta ocasião, o "swat", presente e sempre alegre e participante, era escolhido para ser o mestre-de-cerimônia das núpcias ("starosta") e iniciava as suas funções. Encaminhava os noivos para a mesa, colocava suas mãos juntas sobre uma broa de centeio e as amarrava com uma toalha branca. Em seguida havia a troca de alianças e eram invocadas singelas orações e bençãos para o matrimonio. Havia troca de presentes, danças e cantos típicos para a ocasião. A toalha usada para atar as mãos dos noivos era guardada para ser mais tarde colocada no caixão fúnebre.
Nos dias que antecediam ao casamento, aconteciam ainda varias cerimonias. Uma delas era a "serenata à noiva", quando os músicos do lugar, acompanhados do noivo, ofereciam canções à noiva e aos convidados para as festas nupciais. Outra cerimonia acontecia na casa da noiva, onde as damas de honra e suas amigas encarregavam-se de executar o trabalho de trançar as grinaldas, o bastão e as coroinhas nupciais. Esta era denominada "dziewiczanoc" ou seja, "a noite da virgem". Nesta ocasião, quando a jovem nubente trazia as flores e ramos de arruda para compor o seu adorno, as damas de honra ("drúzba ou drúhna"), cantavam tristes canções:
"Ka.che.nka,
Sobre a mesa a arruda descansa,
Quem ajuntará e a tua grinalda enfeitará
O paizinho com pesar a rejeita,
Nela não alimenta a sua esperança."
A grinalda tinha grande significado, pois ela iria ornamentar a cabeça da noiva durante toda a festividade e seria solenemente retirada após as festividades. Era a última vez que a noiva se emoldurava com uma grinalda de flores, que significava a sua virgindade. A tradição polonesa proibia que tal adorno fosse utilizado por mulheres casadas.
0 modelo e a composição da grinalda variava de acordo com as preferências da noiva. Jã o bastão nupcial, denominado "ruzga weselna" simbolizava o noivo. Era ramificado por sete ramos atados por uma fita vermelha e demais objetos decorativos. Durante a sua confecção, era segurado pela dama mais idosa e, após a sua conclusão, eram cantadas e dançadas velhas canções.
No dia anterior ao casamento, a noiva se dirigia à igreja, acompanhada de suas damas e dentro de um cerimonial alegre pedia as bênçãos divinas e dos pais de ambos recebia a sua grinalda.
Finalmente, chegado o dia do enlace matrimonial, este era iniciado com uma cerimônia denominada "rozpleciny" que tinha uma certa evolução, não rigorosamente respeitada.
De início, colocava-se no centro da sala um caixão virado com o fundo para cima, usualmente o utilizado no preparo da massa de farinha para a confecção do pão. Sobre ele era estendido um tapete ("kilim") ou uma almofada ("podsuszka") onde sentava a noiva. Em seguida, as damas de honra amarravam as tranças de seus cabelos e as enchiam de grampos, visando a dificultar o seu desembaraço. Em seguida era feito o leilão de uma foice, dificultado pelo irmão da noiva. Terminado este, eram desembaraçadas as tranças da noiva, tarefa iniciada por seu irmão mais velho a quem seguiam os convidados presentes, em sinal de concordância. A partir daí, a noiva era intitulada de "panna mleda" (jovem senhora) e o noivo de "pan melody" (jovem senhor).
Então organizavam-se duas caravanas de convivas, uma na casa da noiva, outra na casa do noivo. Normalmente, a caravana do noivo passava a caminho da Igreja na casa da noiva e lá encontrava os portões fechados, isso para "dificultar" a conquista. Após transpor este obstáculo, seguiam-se as saudações normais, com a despedida da noiva, quando sua mãe a abençoava, colocando sob a grinalda ou atrás da gola de seu vestido um pedaço de pão, sal, mel e uma pequena moeda. Caso a noiva fosse orfã, estas bênçãos eram proferidas pelos pais adotivos após a invocação de seus pais verdadeiros.
Em continuidade, a noiva, já na sua viatura nupcial, uma carroça ornamentada, cantava juntamente com suas damas de honra, canções de despedida a seus pais, seu lar e à tudo o que lhe era mais caro e do que usufruíra por tantos anos. Por ser um momento bastante comovente, todos choravam e a fim de não prolongar em demasia esta hora de dor, a carroça tinha uma saída súbita em direção à Igreja.
Seguida pelo noivo, a carroça levava a noiva ao lado de sua dama de honra mais velha. Era usual também que a mãe da noiva colocasse, antes de sua partida, um pedaço de pão na dianteira da carroça para garantir que este jamais faltasse aos noivos. Atrás do carro nupcial ia outra viatura, com os músicos que executavam velhas melodias, exaltando aquele dia festivo.
A entrada na Igreja era feito aos pares. A noiva era conduzida por seu irmão mais velho e o noivo por seus cavalheiros de honra.
0 retorno ao lar era também bastante festivo e alegre. Em casa, todos encontravam os portões fechados e os pais saudavam os nubentes como os demais convivas, oferecendo-lhes pão e sal.
Tinha início o banquete nupcial. Ao mestre de cerimônia cabia acomodar a todos. Os noivos sentavam-se à porta de entrada da sala, encostados na parede, na mesa principal e diante deles colocava-se o bastão nupcial, emoldurado por frutas, flores e guloseimas.
Segundo a tradição, constavam do banquete de sete a nove pratos, sendos os mais freqüentes: a "pierogi" (pastéis feitos de farinha de trigo, queijo ou requeijão, acrescidos de manteiga ou toucinho); o "korowaj" (pão.grande redondo de farinha de trigo, enfeitado de tranças e aves feitas de massa) e a "chleb razowj" (broa integral).
Durante o banquete nupcial os convivas cantavam canções alusivas à data e procedia-se a cerimônia de entrega da noiva, quando esta era conduzida ao centro da sala onde, sentada numa cadeira ou num banquinho, de sua cabeça retirava-se a grinalda que o noivo recebia.
Depois de ter as tranças cortadas, a noiva recebia em sua cabeça um lenço ou um gorro das mãos da madrinha, Fingindo inconformismo a jovem tirava o gorro três vezes consecutivas e quando finalmente o deixava ficar, os cavalheiros de honra proclamavam "jus nasza” (já é nossa) e, em torno dela, os casais mais velhos dançavam.
Após esta cerimônia, outra tinha início, denominada "wianowanic” (entrega de presentes) quando todo o clã se reunia em benefício da felicidade e do bem-estar dos nubentes.
A seguir, a jovem iniciava a dança solene ("obdijany") , e todos dançavam com ela, um a um, e em troca desta honra davam moedas aos músicos. Era uma forma da jovem despedir-se de sua vida de solteira, de suas amizades e os casados a saudavam pela sua nova situação. Finalmente, após dançar com todos os convidados, dançava com o noivo, sob forte expectativa geral.
Ao final da dança dos recém-casados, a noiva era encaminhada ao quarto pelas damas de honra que ali executavam um diálogo cantado, enquanto o noivo e seus cavalheiros aguardavam fora do aposento. Concluído o canto, as damas abriam a porta e os cavalheiros cantavam uma marcha nupcial, a medida que o noivo penetrava no aposento de sua esposa.
Contudo, as cerimônias nupciais não terminavam no dia do casamento. Havia ainda uma continuidade da festa, no dia seguinte,, quando ocorria a mudança da noiva da casa de seus pais para a casa do noivo, agora seu marido. Nesta ocasião, alguns convivas presentes, juntamente com a família do noivo, recepcionavam a jovem senhora em sua nova moradia e ali invocavam, através de cantos e danças, alegria, felicidade e prosperidade para o novo casal.
Infelizmente, algumas dessas tradições foram gradativamente abandonadas com o passar dos anos, devido ao contato dos descendentes poloneses com outros grupos étnicos, portadores de diferentes culturas.
(Adaptado de: A Paróquia de Santo Antônio de Órleans - 1879/1973, um Estudo da Nupcialidade), de Marta de Souza Lima Brodbeck)
Paulo Grani

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