DIZIMADAS TRÊS MILHÕES DE ARAUCÁRIAS
"A historia das araucárias é um caso clássico e melancólico da possível extinção em menos de um século de uma espécie de
grande porte. Há 84 Anos instalou-se no município de Três Barras, em Santa Catarina, um projeto de colonização da empresa inglesa Southem Brazil Lumber Colonization Company, em nome de objetivos que continuam a vigorar quase um século depois: a ocupação territorial.
Em 40 anos de atividades, o projeto Southern Brazil dizimou mais de 3 milhões de pinheiros centenários, e para cada árvore derrubada nem sequer uma roseira foi plantada. A floresta de araucária - nome dado à floresta ombrófila mista - é caracterizada pela presença da Araucária angustifolia. Esta dominância na paisagem paranaense foi tão marcante que a espécie recebeu o nome de pinheiro-do-paraná, fazendo parte da cultura do estado.
No inicio da década de 50, o Paraná possuía cerca de 7,3 milhões de hectares de formações florestais de araucária, que representavam aproximadamente 40% da área dos pinhais do país. O restante se dividia entre Santa Catarina (31%), Rio Grande do Sul (25%) e São Paulo (3%).
Desses milhões de hectares restam hoje pouco mais de 85 mil, ou 1,2% da cobertura vegetal original. A construção das ferrovias viabilizou num prazo de cem anos, o escoamento e o rápido esgotamento das árvores que dominavam a paisagem do Paraná desde a última glaciação, há cerca de 20 mil anos.
A Fundação SOS Mata Atlântica detectou recentemente um total de 144 mil hectares desmatados no Paraná, entre 1985 e 1990, a maior parte dos quais nas áreas principais de ocorrência de floresta de araucária. Atualmente, somente 40.774 hectares com Mata Araucária encontram-se protegidos em 17 unidades de conservação, perfazendo um total de 0,22% da população original. Não faltam leis ou instrumentos jurídicos para a conservação dos remanescentes florestais de araucárias, mas ações determinadas, apoiadas na firme vontade de agir, se fazem necessárias.
A inexistência de uma política ambiental efetiva também contribui para a eliminação destes remanescentes descontínuos e fragmentados. Até o momento, os procedimentos aplicados e a fiscalização sobre os "Planos de Manejo Sustentado", exigidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), têm sido insuficientes para a conservação da araucária. É bom lembrar que nenhum país latino-americano considera o valor da árvore em pé. E a madeira da araucária ainda consta da pauta de exportações brasileiras. Muitos problemas têm sido evidenciados, acarretando uma pressão cada vez maior sobre os remanescentes. O setor produtivo carece de informações técnicas sobre manejo florestal, bem como sobre a viabilidade econômica a médio e longo prazo.
Onde ficam as políticas extensionistas e de assistência técnica dentro da atual política ambiental? Desconhecem-se os benefícios indiretos das florestas de araucária, faltam unidades de conservação e incentivos á prática conservacionista. A tributação é inadequada e o pouco conhecimento da legislação convive com a falta de maior rigor nos ações fiscalizadoras e punitivas.
Uma política séria para a conservação da floresta de araucária, que vise a sua perenização e á obtenção de benefícios econômicos e sociais, precisa contemplar instrumentos como o manejo sustentado, o uso múltiplo da floresta e a preservação restrita.
Esse conjunto de procedimentos deve ser conduzido com o objetivo de se evitar que a araucária subsista apenas na lembrança da atual geração, nos parques, nas fotografias ou em símbolos e pinturas. Não haverá uma segunda chance para a perda deste patrimônio genético e ecológico".
(Texto de Antônio Claret Karas/engenheiro florestal da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Araucária –Pr.).
Nenhum comentário:
Postar um comentário