MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA CANDELÁRIA – ITU, SÃO PAULO

Por volta do ano 1604, bandeirantes paulistas receberam a posse de uma sesmaria de terras, situada para além da região dos Campos do Piratininga. Alguns anos depois, iniciaram ali um povoamento, denominado Itu-guaçu (ou Utu-guaçu), e, como de costume, o primeiro marco do local foi a construção de uma capela (ano 1610). Essa primitiva capela foi patrocinada pelo bandeirante Domingos Fernandes e seu genro, e foi dedicada a Nossa Senhora da Candelária (sobre essa invocação, ver o histórico da igreja da Candelária no Rio de Janeiro).

No ano de 1653, foi criada uma freguesia para o local, e quatro anos depois o povoado foi alçado à categoria de ‘vila’, ocasião em que passou a ter uma câmara. Nessa época, foi iniciada a construção de uma nova igreja, mais ampla, de forma que pudesse honrar o status de matriz. Não há muitas informações acerca dessa edificação. Sabe-se que existiu durante a época em que a Vila de Itu se tornara polo de uma região com diversas fazendas de cana de açúcar – entre fins do século XVII e primeira metade do século XVIII – período em que a cidade também recebeu dois conventos, um carmelita e um franciscano, financiados por fazendeiros da região.

Ao longo do século XVIII, a matriz da Candelária foi novamente reconstruída, e em um local diferente daquele ocupado pela primitiva capela da época dos bandeirantes. Em 1770 iniciaram-se iniciaram-se as obras do templo atual. A inauguração da igreja se deu em 1780 com a entronização da primitiva imagem de Nossa Senhora da Candelária, que pertencia à antiga matriz.

A decoração se deu depois de a igreja já estar em uso, o que era muito comum à época, e foi iniciada em 1786, levando dois anos para ser concluída. Para embelezar o interior do templo, vieram artistas de vários lugares, como José Patrício da Silva Manso (Capitania de Minas Gerais, c.1753 – São Paulo, 1801), à época estabelecido em São Paulo. Ele foi o responsável pela policromia e douração dos retábulos e pela bela pintura do forro da nave, com a Apresentação de Jesus no Templo. De Santos veio o jovem Jesuíno Francisco de Paula Gusmão (Santos, 1764 – Itu, 1819) – o futuro Frei Jesuíno do Monte Carmelo -, que ficaria também conhecido por outras obras nessa cidade, dentre as quais as pinturas da Igreja do Carmo e o projeto da Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio. Na matriz da Candelária, Frei Jesuíno ocupou-se de realizar telas com passagens das vidas de Cristo e de Maria que decoram as paredes da capela-mor. O forro das paredes da capela-mor ainda seria decorado com pintura à imitação de azulejos com passagens do antigo testamento, realizadas no mesmo período das demais (1786-1788) por Mathias Teixeira da Silva, natural de Porto Feliz. Uma curiosidade é que este pintor teve seu nome revelado quando se removeram as telas de Jesuíno para restauro e, embaixo delas, na madeira nua do forro da parede, estavam a assinatura do artista e alguns rascunhos das figuras que usou.
O entalhador dos retábulos foi o português Bartholomeu Teixeira Guimarães (Lugar do Passal, Guimarães, c.1738 – Itu, 1806), artista de uma longa linhagem de entalhadores do norte de Portugal. Sabe-se que após o falecimento de Guimarães, outro entalhador, Francisco Ribeiro Dias, executou ao menos as sanefas das tribunas da nave do templo. O altar de Santa Rita difere do conjunto de Bartholomeu Teixeira Guimarães e pode ser desse entalhador.

Altar do Senhor Crucificado e Nossa Senhora das Dores. Abaixo do altar, uma imagem de Jesus no Sepulcro.

Altar de São Miguel Arcanjo

Altar de Nossa Senhora do Rosário

Somente em 1831 foi finalizada a parte externa, incluindo a torre e o adro. Após essa época, iniciou-se o ciclo do café, e a cidade passou a receber diversos imigrantes de origem italiana.

No ano de 1883, o vigário Pe. Miguel Correa Pacheco realizou uma viagem pela Europa, ocasião em que encomendou um órgão de tubos com o artífice francês Aristide Cavaillé-Coll, destacado construtor de órgãos daquela época. O instrumento foi feito em carvalho, marfim, ébano, e permanece até os dias atuais com a mesma sonoridade da época, podendo funcionar com energia elétrica e também manual.

orgao matriz itu

De 1887 a 1889 houve uma grande reforma na fachada, que foi reconstruída pelo arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo (São Paulo, 1851 – Santos, 1928), com base no estilo neoclássico reinante na Belle Epoque.

matriz candelária itu

Outra intervenção da mesma época foi a reconstrução da capela do Santíssimo em estilo neorromânico. Um ambiente com beleza mais recolhida, própria à oração. A sua decoração pictórica ficou a cargo do artista Virgílio Baglioni e foi realizada em 1933.

capela do santíssimo

matriz candelaria itu

Acima, vista da cidade de Itu na primeira metade do século XIX, em gravura de Miguelzinho Dutra. No centro, a igreja da Candelária, antes da remodelação da fachada realizada por Ramos de Azevedo.

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REFERÊNCIAS:

– TIRAPELI, Percival. Igrejas paulistas: barroco e rococó. São Paulo: EdUNESP, 2003

– ROSADA, Mateus. Igreja Paulistas da Colônia e do Império: Arquitetura e Ornamentação. Tese (Doutorado em Arquitetura). Instituto de Arquitetura e Urbanismo, USP, São Carlos, 2016.

– Museu da Música de Itu

– Prefeitura de Itu

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