Durante o século XVI ao XVII, a Europa testemunhou uma época de grande tumulto e medo, marcada não apenas pelos infames julgamentos de bruxas, mas também por uma estranha epidemia de lobisomens.

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Durante o século XVI ao XVII, a Europa testemunhou uma época de grande tumulto e medo, marcada não apenas pelos infames julgamentos de bruxas, mas também por uma estranha epidemia de lobisomens. Na França, especialmente, o fenômeno de pessoas sendo acusadas de serem lobisomens e julgadas sob acusações de licantropia se tornou parte integrante do folclore e da história criminal da época. Estima-se que cerca de 30 mil pessoas tenham sido acusadas de serem lobisomens durante esse período turbulento da história europeia.

Os julgamentos de lobisomens espelhavam os julgamentos de bruxas em muitos aspectos. Os acusados eram frequentemente submetidos a torturas severas para forçá-los a confessar crimes sobrenaturais ou admitir sua culpa. A paranoia e o medo da licantropia eram exacerbados pela crença generalizada na época de que certas pessoas podiam se transformar em animais, particularmente lobos, e cometer atos violentos e horríveis. Aqueles que eram considerados culpados enfrentavam execução, frequentemente na fogueira, como uma medida de purificação e proteção da comunidade.

Jacques Rollet e o Lobisomem de Chazes

Um dos casos mais infames durante a Epidemia de Lobisomens na França foi o de Jacques Rollet, conhecido como o Lobisomem de Chazes. Rollet foi acusado de uma série de crimes terríveis, incluindo o assassinato brutal de um jovem de quinze anos. Ele atraiu a vítima para a floresta, onde a matou e se alimentou de seu corpo. Durante seu julgamento, Rollet confessou não apenas esse crime, mas também admitiu ter cometido atos semelhantes contra outros moradores locais, incluindo membros proeminentes do sistema judiciário, como advogados e promotores.

O caso de Rollet destacou o clima de pânico e histeria que permeava a sociedade francesa na época. As acusações de licantropia não eram apenas um meio de explicar tragédias inexplicáveis, mas também uma forma de canalizar medos profundos e complexos sobre o desconhecido e o sobrenatural. Embora Rollet tenha sido condenado à morte, ele acabou sendo enviado para um hospício, onde sua história foi registrada como parte do legado sombrio da caça às bruxas e da paranoia licantropa na Europa.

*François Antoine atirando na Besta, setembro de 1765.*

A Besta de Gévaudan

No final do século XVIII, a França testemunhou outra lenda envolvendo lobisomens: a saga da Besta de Gévaudan. De 1764 a 1767, uma criatura misteriosa aterrorizou a região de Gévaudan com uma série de ataques violentos. O primeiro incidente ocorreu quando uma jovem cuidadora de ovelhas foi atacada, descrevendo seu agressor como algo que parecia “um lobo, mas não um lobo”. Ela escapou por pouco graças à intervenção de suas ovelhas, que atacaram o predador e permitiram sua fuga.

Os ataques da Besta de Gévaudan não pararam por aí. Nas semanas seguintes, mais vítimas caíram perante a criatura, todas elas jovens trabalhadores rurais que estavam cuidando de rebanhos de ovelhas. Os relatos dos sobreviventes e das testemunhas descreveram um predador feroz e implacável, que não só matava suas vítimas, mas também as devorava parcialmente.

A caçada pela besta

O pânico se espalhou rapidamente entre os moradores de Gévaudan, que organizaram caçadas em massa para capturar ou matar a Besta. O rei Luís XV, diante da crescente preocupação pública, ofereceu recompensas generosas pela captura do animal. Caçadores experientes, bem como grupos locais de voluntários, partiram em busca da Besta, armados com uma mistura de coragem e superstição.

Em setembro de 1765, a Besta de Gévaudan foi finalmente abatida por François Antoine, um dos homens de confiança pessoal do rei. O animal abatido tinha um estômago cheio de restos humanos, confirmando sua responsabilidade por muitos dos ataques documentados. O cadáver do animal foi exibido publicamente como um troféu, trazendo um breve alívio à comunidade assombrada por anos de terror.

O legado e as especulações

Até hoje, o mistério sobre a verdadeira identidade da Besta de Gévaudan persiste. Enquanto alguns especulam que o animal era uma hiena fora de seu habitat natural, outros teorizam que poderia ter sido um híbrido incomum de leão e lobo. As histórias da Besta de Gévaudan não são apenas um testemunho do medo profundo de predadores naturais na sociedade pré-industrial, mas também um exemplo fascinante da complexa interação entre mito e realidade na história humana. Esses contos sombrios continuam a intrigar e inspirar a imaginação, oferecendo uma janela para as profundezas do folclore europeu e os medos primordiais que ele captura tão vividamente.

sexta-feira, 19 de julho de 2024