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sábado, 13 de dezembro de 2025

O Sobrado de Nelson Mozart Weigang: Entre a Vida Doméstica e o Pulso Comercial de Curitiba

 Denominação inicial: Projéto de Sobrado para o Snr. Nelson Mozart Weigang

Denominação atual: Comercial

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Alameda Cabral nº 314 e 334

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 160,00 m²
Área Total: 160,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 29/12/1934

Alvará de Construção: Nº 915/1934

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de sobrado, Alvará de Construção e fotografia do imóvel.

Situação em 2012: Existente


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.
3 - Fotografia do imóvel em 2012.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernandes. Projéto para um Sobrado. Planta dos pavimentos térreo e superior do sobrado; implantação, corte, fachada frontal e lateral apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 915
3 – Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2012).

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

O Sobrado de Nelson Mozart Weigang: Entre a Vida Doméstica e o Pulso Comercial de Curitiba

Na esquina da memória urbana com a arquitetura popular, ergue-se, desde 1934, um sobrado discreto mas significativo na Alameda Cabral, um dos principais eixos do bairro Rebouças, em Curitiba. Projetado para Nelson Mozart Weigang, o imóvel representa um momento-chave na transformação da cidade: a passagem da residência familiar puramente doméstica para o uso misto — morar e trabalhar no mesmo espaço —, fenômeno comum nas décadas de 1930 e 1940 em centros urbanos em expansão.

Apesar de sua denominação atual como edificação comercial, o sobrado conserva, em sua estrutura e proporções, a alma de uma residência de pequeno porte, pensada para uma família de classe média que buscava conforto, dignidade e proximidade com o comércio emergente da capital paranaense.


O Projeto: Equilíbrio entre Forma e Função

Em 29 de dezembro de 1934, o arquiteto Eduardo Fernandes Chaves — filho de Gastão Chaves e herdeiro de um dos escritórios mais influentes da Curitiba da Primeira República — assinou o “Projéto de Sobrado para o Snr. Nelson Mozart Weigang”. O documento, preservado em microfilme no Arquivo Público Municipal de Curitiba, reúne em uma única prancha:

  • Planta do pavimento térreo e do pavimento superior;
  • Planta de implantação no terreno;
  • Corte arquitetônico;
  • Fachadas frontal e lateral, desenhadas com traços sóbrios, mas atentos à estética da época.

Construído em alvenaria de tijolos, material que substituía progressivamente a madeira nas edificações urbanas, o sobrado tem dois pavimentos e ocupa uma área total de 160,00 m² — não por sobreposição, mas porque, segundo a documentação, a área construída é de 160 m² distribuídos nos dois níveis (80 m² por pavimento, aproximadamente).

O alvará de construção foi emitido sob o número 915/1934, confirmando a legalidade e a execução da obra logo após o projeto ser concluído.


Nelson Mozart Weigang: Um Nome entre Dois Mundos

O nome Nelson Mozart Weigang evoca uma fusão curiosa entre referências culturais: Nelson, talvez em homenagem ao herói britânico; Mozart, ao gênio austríaco da música; e Weigang, sobrenome de origem germânica, comum entre famílias de imigrantes alemães estabelecidas no Paraná desde o século XIX.

Embora não haja registros biográficos detalhados sobre ele no acervo consultado, o fato de ter encomendado um sobrado com potencial para uso misto sugere que era um homem de negócios, talvez lojista, profissional liberal ou comerciante. A localização na Alameda Cabral — via de ligação entre o centro e os novos bairros — era estratégica para quem desejasse manter residência e atividade econômica sob o mesmo teto, prática comum antes da especialização funcional dos bairros.


Do Residencial ao Comercial: A Vida Útil de um Sobrado

Embora classificado originalmente como residência, o imóvel foi adaptado ao longo das décadas para uso comercial, sem perder sua estrutura original. Em 2012, quando foi fotografado por Elizabeth Amorim de Castro, o sobrado ainda estava em pé, bem conservado e integrado ao tecido urbano da Alameda Cabral — testemunha silenciosa das transformações do bairro Rebouças, que passou de área residencial elegante a polo de serviços, comércio e cultura.

A persistência da edificação por mais de 88 anos — desde seu projeto até o registro de 2012 — fala não apenas da qualidade de sua construção, mas também da flexibilidade funcional do modelo de sobrado popular da década de 1930.


Herança Arquitetônica e Documental

O sobrado de Nelson Mozart Weigang é mais do que tijolos e telhado. É um documento espacial que dialoga com:

  • A produção arquitetônica do escritório Chaves, que moldou grande parte da paisagem residencial de Curitiba;
  • A transição do ecletismo para o modernismo, ainda que de forma suave e adaptada à realidade local;
  • A história social da classe média curitibana, que buscava, em espaços modestos, a concretização do sonho de propriedade e estabilidade.

Sua documentação — projeto, alvará e fotografia — forma um triângulo completo de preservação histórica, raro para edificações de pequeno porte. Isso permite não apenas compreender como foi concebido, mas também como envelheceu e se adaptou ao uso contemporâneo.


Ficha Técnica

  • Proprietário original: Nelson Mozart Weigang
  • Denominação inicial: Projéto de Sobrado para o Snr. Nelson Mozart Weigang
  • Denominação atual: Comercial
  • Categoria (uso original): Residência
  • Subcategoria: Residência de Pequeno Porte
  • Endereço: Alameda Cabral, nº 314 e 334 – Curitiba, Paraná
  • Data do projeto arquitetônico: 29 de dezembro de 1934
  • Alvará de construção: Nº 915/1934
  • Material construtivo: Alvenaria de tijolos
  • Número de pavimentos: 2
  • Área total construída: 160,00 m²
  • Situação em 2012: Existente
  • Documentação:
    1. Projeto arquitetônico (Eduardo Fernandes Chaves) – microfilme digitalizado
    2. Alvará de construção nº 915
    3. Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2012)

Mais de oitenta anos após seu nascimento no papel, o sobrado de Nelson Mozart Weigang continua de pé — não como monumento, mas como testemunha cotidiana da evolução urbana de Curitiba. É nos pequenos sobrados como este, ocupando esquinas simples e abrigando histórias quase anônimas, que reside a verdadeira continuidade da cidade.