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domingo, 21 de dezembro de 2025

Projeto de Cottage para o Senhor Hermano Franco Machado: Um Retrato Efêmero da Arquitetura Residencial em Curitiba (1930)

 Denominação inicial: Projecto de Cottage para o Snr. Hermano Franco Machado.

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte

Endereço: Avenida Batel esquina com a Rua Bruno Filgueira

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 254,00 m²
Área Total: 254,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 16/07/1930

Alvará de Construção: Talão Nº 27799; N° 2980/1930

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de uma Cottage/Residência.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.

Referências: 

1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de Cottage para o Snr. Hermano Franco Machado. Plantas do pavimento térreo e superior e de implantação, corte e fachadas frontal e lateral apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.

Projeto de Cottage para o Senhor Hermano Franco Machado: Um Retrato Efêmero da Arquitetura Residencial em Curitiba (1930)


Introdução: Uma Casa que Nunca Envelheceu

Em julho de 1930, enquanto o Brasil se preparava para uma das transformações políticas mais profundas de sua história — a Revolução de 1930 —, na pacata e em franca expansão Avenida Batel, em Curitiba, nascia nos traços de um projetista um sonho em alvenaria: o Cottage do Senhor Hermano Franco Machado. Concebido como uma residência de médio porte, com requinte discreto e proporções harmônicas, o edifício jamais chegaria a celebrar seu centenário. Demolido antes de 2012, sobrevive hoje apenas na memória dos arquivos e na elegância de uma prancha arquitetônica preservada em microfilme.

Esta é a história de uma casa que, embora efêmera, encarna o espírito de uma época em que Curitiba deixava para trás sua condição de vila provinciana e abraçava a modernidade com gosto pela estética europeia e pelo conforto burguês.


O Morador: Hermano Franco Machado

Embora os registros biográficos sobre Hermano Franco Machado sejam escassos, seu nome associado a um projeto arquitetônico de qualidade sugere que era um cidadão de posição social elevada — talvez comerciante, profissional liberal ou funcionário público de destaque. A escolha do nome “cottage” — termo de origem britânica que evoca residências campestres, porém refinadas — indica não apenas gosto estético, mas também aspiração cultural.

Ao encomendar uma residência em uma esquina privilegiada da recém-consolidada Avenida Batel, entroncamento com a Rua Bruno Filgueira, Hermano posicionava-se em um dos bairros que se tornariam símbolo da elite curitibana no século XX. Sua casa não era apenas um abrigo: era uma declaração de pertencimento.


O Projeto Arquitetônico: Elegância em Dois Pavimentos

Desenvolvido em 16 de julho de 1930, o projeto foi executado pela renomada firma Gastão Chaves & Cia., escritório atuante em Curitiba durante as primeiras décadas do século XX, responsável por diversos edifícios residenciais e comerciais que marcaram a paisagem urbana da capital paranaense.

O Cottage de Hermano Franco Machado possuía as seguintes características técnicas:

  • Uso: Residência
  • Subcategoria: Residência de médio porte
  • Localização: Avenida Batel esquina com Rua Bruno Filgueira
  • Número de pavimentos: 2
  • Área construída: 254,00 m² (único pavimento registrado, possivelmente referindo-se à área do térreo; em alguns sistemas de registro da época, a área total era computada apenas uma vez, mesmo em edificações de múltiplos andares)
  • Técnica construtiva: Alvenaria de tijolos — material predominante na época, símbolo de solidez e durabilidade
  • Alvará de construção: Talão nº 27799, nº 2980/1930

A prancha original, hoje digitalizada a partir de microfilme, apresenta com clareza:

  • Planta do pavimento térreo
  • Planta do pavimento superior
  • Planta de implantação no terreno
  • Corte arquitetônico
  • Fachadas frontal e lateral

Esses elementos revelam uma composição equilibrada, com telhado inclinado (típico dos “cottages”), vãos generosos, varandas ou terraços sugeridos nas fachadas, e uma distribuição interna pensada para o conforto da família nuclear burguesa da época.


Contexto Urbano: A Ascensão da Avenida Batel

Na década de 1930, a Avenida Batel já despontava como um dos eixos residenciais mais prestigiados de Curitiba. Antes um caminho ligando o centro à região dos Pinheirinhos, a avenida passou a atrair a elite que buscava distanciar-se do bulício do comércio urbano, sem abrir mão da proximidade com os serviços centrais.

A escolha da esquina com a Rua Bruno Filgueira — via que corta perpendicularmente a Batel — oferecia visibilidade, ventilação cruzada e iluminação natural abundante, fatores valorizados tanto pelos moradores quanto pelos arquitetos da época. Construir ali era afirmar status.


O Desaparecimento: Entre a Perda e a Memória

Embora o prédio tenha sido demolido antes de 2012, não há registros detalhados sobre o ano exato de sua destruição nem sobre o que ocupou seu lugar. Sua ausência física é um exemplo do ritmo acelerado de transformação urbana que Curitiba experimentou a partir da segunda metade do século XX — especialmente em áreas centrais valorizadas, onde imóveis históricos frequentemente cedem espaço a edifícios comerciais ou residenciais de grande porte.

Felizmente, o projeto arquitetônico sobreviveu. Graças ao trabalho de preservação documental — notadamente por meio de microfilmes mantidos por arquivos públicos e instituições de memória —, é possível ainda hoje estudar, admirar e compreender o que foi aquela residência.


Conclusão: A Casa que Vive nos Traços

O Cottage de Hermano Franco Machado pode não existir mais em tijolos e madeira, mas permanece vivo nos traços precisos de um desenho técnico, nos registros burocráticos de um alvará e na história urbana de Curitiba. Ele representa uma geração de residências particulares que, embora modestas em escala, eram ricas em intenção: abrigar famílias com dignidade, beleza e um olhar voltado para o futuro.

Mais do que um endereço perdido, é um fragmento da identidade arquitetônica da cidade — um lembrete de que, muitas vezes, o que desaparece fisicamente pode persistir com força na memória coletiva, desde que cuidadosamente documentado.

“As cidades são feitas de casas, mas também de sonhos desenhados em papel.”


Fontes:

  1. GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de Cottage para o Snr. Hermano Franco Machado. Plantas do pavimento térreo e superior, implantação, corte e fachadas. Microfilme digitalizado.
  2. Arquivo Histórico de Curitiba – Alvarás de Construção, Talão nº 27799 (1930).
  3. Estudos sobre a urbanização da Avenida Batel (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba – IPPUC).