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quinta-feira, 29 de junho de 2023

Escola de Sagres, aquela que nunca existiu, sequer ficava em Sagres: hora de desfazer o mito

 Escola de Sagres, aquela que nunca existiu, sequer ficava em Sagres: hora de desfazer o mito



Escola de Sagres: verdadeiro, ou falso?

Escola de Sagres, aquela que nunca existiu, sequer ficava em Sagres: hora de desfazer o mito
Por João Lara Mesquita

Há muio tempo, tivemos um encontro com um conhecido e culto advogado que ‘pretendia viajar à Portugal para conhecer a Escola de Sagres’, tida como o maior feito do Infante D. Henrique, “O Navegador.” O encontro nos relembrou que chegara a hora de desafazer o mito da escola, sua localização, Sagres; e do epíteto do Infante que, na verdade, nunca navegou.

“É negada a Escola de Sagres. Provavelmente, negada com razão. A Universidade de Coimbra, bem mais antiga, conserva paredes da primeira dinastia. A Batalha, os Jerônimos, a Torre de Belém, sobram para demonstrar que a geração do Infantes era de excelentes construtores. Como é que em Sagres se haveria erguido uma escola de tamanho alcance, chegando até nós pequenas ruínas inexpressivas?” A pergunta é do historiador luso, Tomaz Ribeiro Colaço, em capítulo do livro, O Século dos Descobrimentos (Ed. Anhambi), um dos melhores já publicados no Brasil sobre a epopéia náutica portuguesa em seus vários aspectos e contexto.

E é ele mesmo quem responde:
Procuremos na escola de Sagres o parentesco espiritual da expressão “escola” filosófica ou literária; escola de ambição, de entusiasmo, de extralimitação, de sacrifício científico a um ideal.

D. Henrique, o Navegador?
Jaime Cortesão, maior figura da historiografia lusitana, referenda: falso!

No mesmo livro, Jaime Cortesão escreveu o capítulo O Homem e a Obra, sobre o Infante D. Henrique. Destacamos o trecho a seguir:

Supôs-se durante muito tempo que na Vila do Infante, quer situada no Cabo de S. Vicente, quer no de Sagres, houvesse uma escola náutica, no sentido estrito da palavra, com mestres e discípulos, onde estes fossem instruídos nas regras duma nova ciência de navegação. O melhor conhecimento dos fatos desfez essa crença.

Bobagens da rede ajudam permanência de mitos

Como o assunto é incrivelmente pouco abordado pelo ensino do brasileiro, mesmo nas faculdades, as redes sociais contribuem com a ignorância. É preciso buscar informação em fontes confiáveis,se não



Bobagens como esta infestam as redes sociais.

Ou esta…


E quanto à localização, Sagres?


Quem desmente é próprio Jaime Cortesão. “Morreu o Infante D. Henrique, a 13 de novembro de 1460, na sua Vila do Infante, situada, segundo o maior número de testemunhos, no Cabo de S. Vicente, saliência extrema do Sudoeste da Península Ibérica e da Europa. Mas seria a Vila do Infante no Cabo de S. Vicente, tal como hoje entendemos este topônimo? Tem- se discutido muito sobre esse problema, situando-a uns naquele cabo, outros no de Sagres ou nas imediações próximas à nascente. Razões de ordem geográfica e náutica e testemunhos coevos inclinam-nos para que a Vila do Infante fosse no Cabo de S. Vicente.”

Sagres ou S. Vicente? D. Henrique esclarece a dúvida

E prossegue o historiador: “Afigura-se também que as fontes mais antigas sobre a localização da Vila se ajustam melhor ao terreno, tal como acabamos de limitá-lo. Na carta de doação da espiritualidade da Vila do Infantes à Ordem de Cristo, o Infante D. Henrique esclarece…”

…mandei edificar um vila no outro cabo que antes do dito cabo de Sagres está, aos que vêm do Poente para Levante, que se chamava Terçanabal, à qual pus nome de Vila do Infante…



Cortesão conclui: “Segundo, pois, o próprio infante, a Vila foi construída num cabo ao ocidente do Cabo de Sagres, assim designado, e esse ao que nos parece, outro não pode ser senão o de S. Vicente. Nem se vêm localizados ao Cabo de S. Vicente as ruínas do palácio do sr. Infante D. Henrique. Ruínas, por consequência, posteriores ao terremoto de 1755.”

D. Henrique, “O Navegador”, que quase nunca navegou

A única viagem marítima de D. Henrique, “O navegador” , foi para a conquista da vila de Alcácer Céguer, porto de piratas e pescadores Marroquinos. Quem relata é Moreira de Camposno capítulo (do livro O Século dos Descobrimentos), Expansão Portuguesa em África. Diz ele “em 17 de outubro de 1458, largou deste porto o rei D. Afonso V, com seu tio, D. Henrique, levando 26.000 homens de peleja, embarcados em 280 navios de vários tipos. O vento não era propício para atingir Alcácer e toda a armada foi surgir em Tânger”.

A viagem de Tânger

Depois de discutirem sobre o ataque a Tânger, a que se opôs D. Henrique, “a armada dirigiu-se para Alcácer e a vila foi tomada.” Em capítulo já citado, Tomaz Ribeiro Colaço explica: “O Infante D. Henrique foi o descobridor do Brasil.”
Tânger à época de D. Henrique.
(Ilustração: gettyimages.com)

“Depois da jornada a Tânger, nunca mais ele andou sobre águas do mar. Devem ser horas de entender por que chama o mundo uníssonamente, O Navegador, a um homem que não deserdou a terra firme…”

Colaço prossegue: “Antes dele, os navios portugueses iam até ao Cabo Bojador, fronteira das Canárias; sob sua batuta, foram apenas até ao norte atual da Libéria, descrevendo ao longo da costa um arco de círculo afinal escasso. Não faz sentido que sobre tal base, e com artigo definido a conferir supremacia singular, se chame O Navegador a um homem que nunca navegou.”

Henrique o Descobridor

Colaço conclui: “Em relação ao Infante, o mundo entendeu e sentiu que tinha de dar-lhe nome universal; como era português, deram-lhe o nome menos expressivo, o que traduzia ação direta.
Sempre retrato em terra firme…

Surgiu esse erro pitoresco de chamar “O Navegador” a um homem que não navegara. O cognome certo seria Henrique, o Descobridor.”
(Fonte: O Século dos Descobrimentos, Ed. Anhambi, dezembro, 1961.)

(Do marsemfim.com.br/)