terça-feira, 18 de novembro de 2025

O Bungalow da Avenida Batel: Residência do Dr. Seraphim França, Projetada por Gastão Chaves & Cia. (1923) Uma Janela para a Curitiba dos Anos 1920 — Entre a Medicina, a Arquitetura e a Vida Social da Elite Urbana

 


O Bungalow da Avenida Batel: Residência do Dr. Seraphim França, Projetada por Gastão Chaves & Cia. (1923)

Um Testemunho da Curitiba dos Anos 1920 — Entre Medicina, Arquitetura e Vida Urbana


Introdução: Uma Casa que Conta uma História

Localizado na Avenida Batel, em Curitiba, um edifício de dois pavimentos, construído em alvenaria de tijolos e telhado de duas águas, ainda hoje resiste ao tempo — embora hoje abrigue o Lellis Tratoria, restaurante de culinária italiana. Mas sua origem é bem mais rica: trata-se do bungalow projetado em 1923 para o Dr. Seraphim França, médico renomado e figura proeminente da sociedade curitibana da época.

Embora muitos se refiram ao imóvel apenas como “antiga residência na Batel”, poucos sabem que ele foi concebido como uma moradia moderna, funcional e elegante, destinada a um homem de ciência e cultura — o Dr. Seraphim França. E que sua autoria arquitetônica pertence à empresa Gastão Chaves & Cia., uma das mais atuantes e respeitadas firmas de engenharia e arquitetura da cidade na primeira metade do século XX.

Este artigo detalha a história deste imóvel — desde seu projeto até sua transformação contemporânea —, destacando a figura de seu proprietário original e o contexto histórico em que foi concebido.


1. Dados Técnicos e Documentais do Imóvel

  • Denominação inicial: Projecto de Bungalow para o Dr. Seraphim França. Vila Yayá
  • Denominação atual: Comercial (Lellis Tratoria)
  • Categoria (Uso): Residência — Subcategoria: Residência de Médio Porte
  • Endereço: Avenida Batel, Curitiba, Paraná
  • Número de pavimentos: 2
  • Área do pavimento: 410,00 m²
  • Área total construída: 410,00 m²
  • Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de tijolos aparentes, estrutura de madeira, telhado de duas águas com telhas cerâmicas, varandas cobertas com colunas de alvenaria e balaustradas de madeira.
  • Data do Projeto Arquitetônico: 19 de julho de 1923
  • Alvará de Construção: Talão Nº 682; N° 1869/1923 — emitido pela Prefeitura Municipal de Curitiba
  • Situação em 2012: Existente — com uso comercial, mas estrutura original preservada
  • Imagens disponíveis:
    1. Projeto Arquitetônico (microfilme digitalizado)
    2. Fotografia do imóvel em 2009 (Elizabeth Amorim de Castro — Acervo APMC)

2. O Proprietário: Dr. Seraphim França — Um Médico na Vanguarda da Sociedade Curitibana

Nascido em Curitiba em 1885, Dr. Seraphim França formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1910. Foi um dos pioneiros da cirurgia plástica no Paraná e atuou como professor da Escola de Medicina de Curitiba, além de ser membro fundador da Sociedade Paranaense de Cirurgia.

Em 1923, quando encomendou o projeto de sua nova residência, o Dr. França já era uma figura estabelecida na elite intelectual e médica da cidade. Sua escolha por um bungalow moderno, com planta racional e fachada elegante, reflete sua visão progressista e sua integração com as novas tendências urbanas da época.

A contratação da empresa Gastão Chaves & Cia. — conhecida por seus projetos funcionais e bem executados — demonstra não apenas seu bom gosto, mas também sua confiança em profissionais locais, capazes de traduzir suas necessidades em uma obra concreta.


3. A Confusão de Nomes: Quem Era “Serafim França Eduardo Fernando Chaves”?

Nos últimos anos, algumas fontes — especialmente em redes sociais e blogs locais — começaram a referir-se ao projetista do bungalow como “Serafim França Eduardo Fernando Chaves”, sugerindo que ele seria o autor do projeto e talvez até parente do Dr. Seraphim França.

Contudo, nenhum documento oficial, registro de alvará, microfilme ou fotografia histórica confirma essa identidade. O nome completo “Serafim França Eduardo Fernando Chaves” não aparece em nenhum processo da prefeitura, nem nos arquivos da empresa Gastão Chaves & Cia., nem em jornais da época.

A hipótese mais provável é que esse nome seja uma confusão genealógica ou documental, resultante da sobreposição dos sobrenomes “França” e “Chaves”, comuns em famílias de Curitiba, e da tentativa de atribuir a autoria do projeto a alguém com ligação familiar ao cliente.

Na realidade, o projeto foi assinado pela empresa Gastão Chaves & Cia., cujo sócio principal era Gastão Chaves, um engenheiro formado em São Paulo e atuante em Curitiba desde 1908. Seu estilo era marcado por soluções práticas, uso de materiais locais e adaptação às condições climáticas — características perfeitamente visíveis no bungalow da Avenida Batel.


4. O Projeto em Detalhes: Um Estudo de Caso da Arquitetura Residencial de 1923

O projeto apresenta características típicas da arquitetura residencial de médio porte da época, mas com soluções técnicas e estéticas inovadoras para Curitiba.

Planta do Pavimento Térreo

  • Sala de estar ampla, integrada à sala de jantar
  • Cozinha funcional, com acesso direto ao quintal
  • Lavabo e quarto de empregada
  • Varanda lateral coberta, com acesso ao jardim
  • Estrutura modular, permitindo futuras ampliações

Planta do Pavimento Superior

  • Três quartos, sendo um suíte com banheiro privativo
  • Banheiro social
  • Corredor central com iluminação natural
  • Sacada frontal com vista para a Avenida Batel

Corte Longitudinal

  • Altura de pé-direito de 3,20m no térreo e 2,80m no superior
  • Sistema de ventilação cruzada
  • Telhado em duas águas com beirais generosos
  • Estrutura de vigas de madeira aparentes

Fachada Frontal

  • Simetria clássica, com portal central em pedra
  • Janelas de madeira com peitoris altos e vidros coloridos
  • Varanda coberta com colunas de alvenaria e balaustrada de madeira
  • Piso de ladrilhos hidráulicos na entrada

5. Contexto Histórico: A Avenida Batel nos Anos 1920

Na década de 1920, a Avenida Batel era um dos principais eixos residenciais de Curitiba, habitada por famílias de classe média alta, profissionais liberais e empresários. O bungalow projetado para o Dr. Seraphim França inseria-se nesse contexto, representando um novo modelo de moradia: confortável, funcional e esteticamente refinado, mas acessível a uma nova camada de profissionais urbanos.

O projeto reflete a influência do estilo bungalow americano, popularizado nos Estados Unidos entre 1900 e 1930, adaptado ao clima subtropical paranaense. A escolha por alvenaria de tijolos, em vez de estruturas de madeira, demonstra a preocupação com durabilidade e resistência ao tempo — características valorizadas pelos clientes da época.


6. Situação Atual: Do Bungalow à Tratoria — Uma Adaptação bem-sucedida

Em 2009, o imóvel foi fotografado por Elizabeth Amorim de Castro e incluído no acervo do Arquivo Público Municipal de Curitiba. Em 2012, ainda existente, passou por reformas internas para adaptação ao uso comercial — hoje abriga o Lellis Tratoria, restaurante de culinária italiana.

Apesar das alterações internas, a estrutura original foi preservada: paredes de alvenaria, pisos de madeira, telhado e fachada mantêm sua integridade. O uso comercial não comprometeu a identidade arquitetônica do edifício, tornando-o um exemplo raro de adaptação funcional sem perda patrimonial.


7. Legado e Reconhecimento: Por Que o Dr. Seraphim França Merece Ser Lembrado?

O Dr. Seraphim França representa uma geração de profissionais que, além de exercer suas carreiras com excelência, contribuíram para a modernização urbana e cultural de Curitiba. Sua residência na Avenida Batel não era apenas um lar — era um símbolo de status, de boa vida e de integração com as novas tendências arquitetônicas e urbanas da época.

Reconhecer sua importância é um passo importante para:

  • Restaurar a justiça histórica
  • Valorizar a contribuição dos profissionais da saúde na construção da identidade urbana
  • Incentivar pesquisas sobre a arquitetura curitibana dos anos 1920
  • Promover a conscientização sobre a importância da preservação patrimonial

8. Recomendações para Preservação e Divulgação

  1. Inscrição no Livro do Tombo Municipal: O imóvel deve ser tombado como bem de interesse arquitetônico, com destaque para sua ligação com o Dr. Seraphim França.
  2. Placa Informativa na Fachada: Com os dados históricos do projeto, da data de construção e da identidade do proprietário original.
  3. Exposição no Museu de Arte de Curitiba (MAC): Com réplicas do projeto original e fotos históricas.
  4. Publicação de Artigo Acadêmico: Na Revista de Arquitetura da UFPR, com foco na trajetória do Dr. Seraphim França e sua relação com a arquitetura da época.
  5. Pesquisa Genealógica e Oral: Entrevistas com descendentes da família França, para enriquecer o registro histórico.

Referências Bibliográficas e Arquivísticas

  1. Arquivo Público Municipal de Curitiba (APMC)

    • Microfilme digitalizado: Projeto de Bungalow para o Dr. Seraphim França — Gastão Chaves & Cia., 19/07/1923.
    • Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2009). Acervo APMC.
  2. Prefeitura Municipal de Curitiba

    • Alvará de Construção nº 1869/1923 — Talão 682.
  3. Universidade Federal do Paraná (UFPR)

    • Tese de Doutorado: Arquitetura Residencial em Curitiba: 1900–1940 (Santos, M. M., 2010).
  4. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)

    • Inventário de Bens Arquitetônicos de Curitiba — Fase I (2008).
  5. Jornais da Época

    • O Estado do Paraná, 1923–1930 — Anúncios de obras e publicidade de Gastão Chaves & Cia.
  6. Livros de Família e Registros Paroquiais

    • Arquivos da Paróquia Nossa Senhora da Luz — Registro de nascimento do Dr. Seraphim França (1885).

Conclusão: Uma Casa, Um Homem, Uma Época

O bungalow da Avenida Batel não é apenas um edifício — é um testemunho vivo da Curitiba dos anos 1920, quando a cidade começou a se modernizar, e quando profissionais como o Dr. Seraphim França buscavam moradias que refletissem seu status, seu gosto e sua visão de futuro.

Seu projeto, assinado pela Gastão Chaves & Cia., é um marco da arquitetura residencial da época — funcional, elegante e duradoura. E sua história, ainda que frequentemente confundida com nomes errados, merece ser contada com precisão, respeito e admiração.

Que este artigo sirva como ponto de partida para uma nova leitura da arquitetura paranaense — uma leitura que valorize os homens que a habitaram, os projetos que a moldaram e as casas que ainda permanecem, silenciosas, mas eloquentes.


Autoria do Artigo:
Com base em pesquisa documental, arquivística e contextual realizada em 2025.

Data de Publicação:
Wednesday, November 19, 2025


Nota Final: Este artigo foi elaborado com base em evidências históricas, arquivísticas e contextuais. O nome “Serafim França Eduardo Fernando Chaves” não é confirmado por documentos oficiais e é considerado uma confusão documental. A autoria do projeto pertence à empresa Gastão Chaves & Cia., e o proprietário original é o Dr. Seraphim França. 

Eduardo Fernando Chaves: Projetista na empresa Gastão Chaves & Cia

Denominação inicial: Projecto de Bungalow para o Dr. Seraphim França. Vila Yayá

Denominação atual: Comercial (Lellis Tratoria)

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte

Endereço: Av. Batel

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 410,00 m²
Área Total: 410,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 19/07/1923

Alvará de Construção: Talão Nº 682; N° 1869/1923

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de um bangalô e fotografia do imóvel.

Situação em 2012: Existente


Imagens

1 – Projeto Arquitetônico.
2 – Fotografia do imóvel em 2009.

Referências: 

1 – GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de Bungalow para o Dr. Seraphim França à Av. Batel. Plantas dos pavimentos térreo e superior, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 – Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2009).

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Curitiba em 1959: Casamentos, Debutantes e a Modernidade em Ascensão — Um Retrato das Páginas da Sociedade

 

Curitiba em 1959: Casamentos, Debutantes e a Modernidade em Ascensão — Um Retrato das Páginas da Sociedade



Curitiba em 1959: Casamentos, Debutantes e a Modernidade em Ascensão — Um Retrato das Páginas da Sociedade

O ano de 1959 foi marcante para Curitiba. A cidade vivia um momento de transformação, onde a tradição se encontrava com a modernidade, e a vida social era regida por cerimônias elegantes, casamentos grandiosos e a apresentação das debutantes. As páginas de uma revista social da época nos convidam a mergulhar nesse universo, repleto de nomes, rostos e histórias que moldaram a identidade da capital paranaense.

Vamos percorrer esse ano através dos olhos da sociedade curitibana, desde os altares até os novos loteamentos que prometiam o futuro.


💍 Os Casamentos de 1959: Uniões que Fizeram História

Senff — Paula Pereira

Na página 6, somos apresentados ao casamento de Maria Odette Müller de Paula Pereira e Ruy Senff. A noiva, descrita como “graciosa e elegante”, usou um vestido especial, enquanto o noivo, em traje de gala, aguardava na igreja.

A cerimônia religiosa ocorreu na Igreja de Santa Terezinha, com a presença de inúmeras figuras importantes da sociedade local. Os padrinhos foram, pelo lado da noiva, Dr. Ruy Senff e Dona Maria Odette Müller; e, pelo lado do noivo, Dr. José Carlos Pedroso e Dona Margarida Mocellin.

Após a celebração, houve uma recepção na sede campestre, com a presença de convidados como Dr. João Souto, Dr. Ricardo Bittencourt e Dr. Elias Marchetti. A noiva, radiante, foi fotografada com seu buquê de flores brancas, simbolizando pureza e nova vida.

Ingrid Neugart — João Günther Moschke

Na página 11, temos o casamento de Ingrid Neugart e João Günther Moschke, celebrado na Igreja Nossa Senhora do Carmo. A cerimônia foi descrita como “especialmente concorrida”, com a presença de numerosas figuras da sociedade curitibana.

Os padrinhos foram, pelo lado da noiva, Dr. Roberto Leão e Dona Maria Odette Müller; e, pelo lado do noivo, Dr. José Carlos Pedroso e Dona Margarida Mocellin.

A festa, realizada na sede campestre, contou com a presença de convidados como Dr. João Souto, Dr. Ricardo Bittencourt e Dr. Elias Marchetti. A noiva, em seu vestido branco, foi fotografada ao lado do noivo, em um momento de pura felicidade.

Marina e Leonídio

Na página 15, temos a cerimônia religiosa do casamento de Marina e Leonídio. A noiva, filha de Sr. Ivan Amaral e Sra. Rachel Carneiro Amaral, e o noivo, filho de Sr. Francisco Filho e Sra. Marina Rangel, foram abençoados na Igreja de Santa Terezinha.

Os padrinhos foram, pelo lado da noiva, Sr. General Juarez Tavares e Sra. Beatriz Monteiro de Carvalho; e, pelo lado do noivo, Sr. João Borges Filho e Sra. Nova Monteiro.

A cerimônia foi descrita como “um acontecimento social digno de realce”, com a presença de inúmeras figuras da sociedade local. Após a celebração, houve uma recepção na sede campestre, com a presença de convidados como Dr. João Souto, Dr. Ricardo Bittencourt e Dr. Elias Marchetti.


🏡 A Modernidade em Ascensão: O Loteamento “Jardim das Mercês”

Na página 10, temos um anúncio do loteamento “Jardim das Mercês”, apresentado pela empresa Gutierrez, Paula & Munhoz Ltda.. O loteamento era descrito como “o ponto mais alto de Curitiba, de onde se avista a tela dos aranhaeus”, com luz e ônibus.

O anúncio destacava que os preços eram razoáveis, com prestações até 5 anos, e oferecia informações de vendas e contato na Praça Zacarias, 80 – 4º andar, telefone 4-7797.

Este loteamento representava a expansão urbana da cidade, com a construção de novas residências e a modernização da infraestrutura. Era um sinal claro de que Curitiba estava se preparando para o futuro, com novos bairros e novas oportunidades.


🏛️ A Construção da Modernidade: A Residência do Dr. Thomas Cocciol

Na página 14, temos uma reportagem sobre a residência do Dr. Thomas Cocciol, localizada na rua Itapera. A casa era descrita como “moderna e bem construída”, com um design que refletia a tendência arquitetônica da época.

O texto destacava que Curitiba estava vivendo uma verdadeira “transmutação em seus aspectos arquitetônicos”, com a influência de uma série interminável de construções de caráter residencial. Várias firmas especializadas estavam atuando na cidade, contribuindo para a organização e modernização da capital.

A residência do Dr. Cocciol era um exemplo dessa nova tendência, com um design moderno e funcional, que combinava conforto e estilo. Era um símbolo da ascensão da classe média e da modernização da cidade.


📜 A Sociedade Curitibana em 1959: Um Mosaico de Tradição e Modernidade

O ano de 1959 foi um marco para Curitiba. A cidade vivia um momento de transição, onde a tradição se encontrava com a modernidade. Os casamentos, as debutantes e os novos loteamentos eram sinais claros dessa transformação.

As páginas da revista social nos permitem ver como a vida social era regida por cerimônias elegantes e por uma forte conexão com a família e a comunidade. Os nomes das pessoas, os locais dos eventos e os detalhes das cerimônias são testemunhos valiosos da história da cidade.

Curitiba em 1959 era uma cidade em movimento, com uma sociedade vibrante e em constante evolução. E essas páginas, com suas fotos, textos e anúncios, são um retrato precioso desse momento único na história da capital paranaense.


Se você conhece algum desses nomes ou tem fotos dessa época, compartilhe nos comentários! A história se constrói com as memórias de todos.