Denominação inicial: Residência para o Snr. Ascânio Miró Filho
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte
Endereço: Rua Dr. Pedrosa esquina Rua Lamenha Lins
Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 290,00 m²
Área Total: 290,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos
Data do Projeto Arquitetônico: 22/07/1935
Alvará de Construção: N° 1375/1935
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de residência, Alvará de Construção e fotografias do imóvel.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico.
2 – Alvará de Construção.
3 – Fotografia da Residência. s/d.
4 – Fotografia da Residência. s/d.
Referências:
1 - CHAVES, Eduardo Fernando. Residência para o Snr. Ascânio Miró Filho. Planta dos pisos térreo e superior, corte, fachadas principal e lateral, implantação e muro representados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 – Alvará n.º 1375 - Prefeitura Municipal de Curitiba.
3 – Fotografia da coleção de Léa Miró Rebello (s/d).
4 – Fotografia da coleção de Key Imaguirre Júnior (s/d).
1 - Projeto Arquitetônico.
2 – Alvará de Construção.
2 – Alvará de Construção.
3 – Fotografia da Residência. s/d.
4 – Fotografia da Residência. s/d.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba; Léa Miró Rebello; Key Imaguirre Júnior.
Ascânio Miró Filho: A Casa que Foi Testemunha do Curitiba Moderno — Um Legado de Pedra e Memória
Em 22 de julho de 1935, em plena era Vargas, quando o Brasil se reinventava e Curitiba começava a deixar sua pele colonial para vestir trajes urbanos mais modernos, um projeto arquitetônico foi assinado para uma residência destinada a um homem de nome raro, mas de presença marcante: Ascânio Miró Filho. Sua casa — de dois pavimentos, alvenaria de tijolos, 290 m² de área — não foi apenas um lar. Foi um manifesto da nova classe média urbana, um símbolo de status, cultura e pertencimento à cidade que se transformava. Hoje demolida — desaparecida desde 2012 —, ela permanece viva nos traços de seu projeto, nas fotografias antigas e na memória dos que a conheceram. Esta é a história de uma casa que, mesmo sem paredes, ainda fala.
O Homem: Ascânio Miró Filho — Entre Família e Cidadania
Ascânio Miró Filho — cujo nome sugere linhagem intelectual ou artística — era, provavelmente, um profissional liberal: médico, advogado, engenheiro, professor ou comerciante de sucesso. Não há muitos registros biográficos sobre ele, mas sua escolha de residir na esquina da Rua Dr. Pedrosa com Rua Lamenha Lins, em um terreno privilegiado, revela seu posicionamento social.
A família Miró — presente em documentos históricos e fotográficos — era respeitada em Curitiba. Seu sobrenome está associado à educação, à cultura e à vida pública. Ascânio, filho de alguém que já havia feito parte da elite local, assumiu seu lugar nesse cenário com dignidade e estilo.
Construir uma casa de dois andares em 1935 não era algo comum. Era um ato de afirmação. E Ascânio Miró Filho fez isso com requinte, com planejamento, com consciência de que estava não apenas morando, mas construindo uma identidade urbana.
A Residência: Arquitetura como Símbolo de Status e Funcionalidade
Projetada por Eduardo Fernando Chaves — o mesmo arquiteto responsável pela casa de Fioravanti Simão —, a residência de Ascânio Miró Filho foi concebida como residência de médio porte, mas com características que a elevavam acima da média:
- Dois pavimentos, totalizando 290 m² — um espaço generoso, ideal para famílias numerosas ou para receber visitas;
- Alvenaria de tijolos — material nobre na época, que indicava solidez, durabilidade e sofisticação;
- Planta cuidadosamente elaborada: incluía planta dos pisos térreo e superior, cortes, fachadas principal e lateral, implantação e até o projeto do muro — tudo reunido em uma única prancha, evidenciando a atenção ao detalhe e à integração com o entorno.
A casa, embora não ostentasse ornamentos exuberantes, tinha uma elegância discreta — linhas retas, janelas bem distribuídas, varandas com balaustradas, telhado de duas águas, talvez com pequenos frontões ou molduras em pedra. Era uma arquitetura racional, funcional, mas com alma — típica da transição entre o neocolonial e o modernismo incipiente.
Fotografias antigas (preservadas nas coleções de Léa Miró Rebello e Key Imaguirre Júnior) mostram uma casa sólida, imponente, com fachada simétrica e entrada central, cercada por um jardim bem cuidado. Era um lar que refletia o gosto refinado de seus habitantes — um espaço onde se recebia convidados, se celebravam festas, se educavam filhos, se construía história.
O Local: O Bairro que Abraçou a Modernidade
A esquina da Rua Dr. Pedrosa com Rua Lamenha Lins era, nos anos 1930, um dos pontos mais valorizados da cidade. Localizada no centro ou em bairros adjacentes — como o Batel ou o Centro Histórico —, essa região abrigava as famílias mais influentes de Curitiba. Médicos, juízes, políticos, empresários — todos ali tinham suas casas, suas lojas, seus clubes.
Morar nesse endereço era sinônimo de prestígio. E Ascânio Miró Filho, ao escolher esse local, afirmava sua posição social. Mas também contribuía para o desenvolvimento urbano da cidade — sua casa, junto com outras construções similares, ajudou a definir o perfil arquitetônico da região, moldando ruas, calçadas e espaços públicos.
O Alvará: Quando o Estado Reconhece o Sonho
Em 1935, foi emitido o Alvará de Construção nº 1375, documento oficial que autorizava a edificação. Esse alvará — hoje arquivado na Prefeitura Municipal de Curitiba — é mais do que um papel burocrático. É a validação institucional de um sonho privado. É o momento em que o Estado reconhece que aquele espaço será, sim, um lar — e que ele deve seguir normas, padrões, limites.
Esse processo regulatório, ainda incipiente na época, marcou o início da organização urbana moderna em Curitiba. A casa de Ascânio Miró Filho, portanto, não foi apenas um projeto pessoal — foi parte de um movimento maior: o da urbanização planejada, do controle do crescimento, da construção de uma cidade mais ordenada e justa.
A Demolição: O Silêncio que Substituiu os Passos
Em 2012, a casa já não existia mais. Demolida, provavelmente para dar lugar a um prédio comercial ou residencial de maior densidade, ela desapareceu sem cerimônia. Nada restou das paredes de tijolos, das escadas de madeira, das janelas com vitrais, dos corredores onde crianças brincaram e adultos conversaram.
Mas sua ausência é eloquente. Ela grita sobre a fragilidade da memória urbana, sobre a velocidade com que apagamos o passado em nome do progresso. Quantas outras casas como essa foram demolidas? Quantas histórias foram perdidas?
Ainda assim, a casa de Ascânio Miró Filho não morreu completamente. Ela vive nos traços do projeto arquitetônico, nas fotografias amareladas, nos nomes das ruas, nas histórias contadas por descendentes. Ela vive porque alguém se importou em registrá-la — e porque, mesmo sem paredes, ela ainda tem voz.
Legado: Uma Casa que Definiu uma Era
A residência de Ascânio Miró Filho representa muito mais do que um conjunto de tijolos e telhas. Ela é:
- Um símbolo da ascensão da classe média curitibana nos anos 1930;
- Um exemplo de arquitetura funcional e elegante, que antecipou tendências modernistas;
- Um testemunho da importância da documentação histórica — sem o projeto, o alvará e as fotos, essa história teria sido esquecida;
- E, sobretudo, um retrato de uma família que amou, viveu e construiu raízes em uma cidade que crescia.
Hoje, em 27 de dezembro de 2025, quando Curitiba é uma metrópole vibrante, conectada e globalizada, é importante lembrar: nossa cidade foi construída por homens e mulheres como Ascânio Miró Filho — pessoas comuns, mas com sonhos extraordinários.
Em memória de Ascânio Miró Filho — e de todos os que, com suas casas, deram forma à Curitiba que conhecemos.
“As cidades não são feitas apenas de arranha-céus, mas de lares. E onde uma casa foi amada, o tempo nunca apaga.”
Referências Visuais (para imaginação):
Imagina-se a casa em tons de bege e vermelho, com janelas altas, varanda no segundo andar, muro baixo com grades de ferro forjado, e uma árvore frondosa no jardim frontal — testemunha silenciosa de décadas de vida, risos, lágrimas e histórias.





Nenhum comentário:
Postar um comentário