sábado, 27 de dezembro de 2025

A Casa do Senhor Ewaldo Kummer: Um Bungalow de 1935 que Encarnava a Modernidade Acessível em Curitiba

 

Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto

Denominação inicial: Projéto de Bungalow para o Snr. Ewaldo Kummer

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica

Endereço: Avenida 7 de Setembro

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 77,00 m²
Área Total: 77,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 07/08/1935

Alvará de Construção: Nº 1411/1935

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de bangalô e Alvará de Construção.

Situação em 2012: Não localizada


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.

Referências: 

1 - CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow. Planta do pavimento térreo e de implantação; corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 1411

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

A Casa do Senhor Ewaldo Kummer: Um Bungalow de 1935 que Encarnava a Modernidade Acessível em Curitiba

Redescobrindo a arquitetura cotidiana de Eduardo Fernando Chaves e o sonho residencial de um cidadão comum

Em 7 de agosto de 1935, sob o céu outonal de Curitiba, o arquiteto Eduardo Fernando Chaves depositava no papel o projeto de uma casa modesta, porém cuidadosamente pensada: um bungalow de alvenaria de tijolos, destinado ao senhor Ewaldo Kummer, morador da Avenida 7 de Setembro. Com apenas 77 metros quadrados distribuídos em um único pavimento, essa residência — classificada como “Residência Econômica” — não ostentava luxos, mas carregava em suas linhas a dignidade do habitar bem planejado, a funcionalidade do espaço doméstico e a promessa de uma vida urbana estável no coração da capital paranaense.

Embora a casa não tenha sido localizada em levantamentos realizados em 2012, seu legado permanece vivo nos arquivos técnicos da cidade, preservado em duas peças essenciais: o projeto arquitetônico original, apresentado em uma única prancha contendo planta do pavimento térreo, planta de implantação, corte e fachada frontal; e o Alvará de Construção nº 1411/1935, documento que autorizou sua edificação e que hoje serve como testemunho da burocracia urbanística da época.


Ewaldo Kummer: O Morador por Trás do Projeto

Pouco se sabe, hoje, sobre Ewaldo Kummer — seu ofício, sua origem, sua família. Mas o fato de ter encomendado um projeto arquitetônico assinado, mesmo para uma casa de dimensões modestas, revela muito sobre sua posição social e suas aspirações. Na Curitiba dos anos 1930, contratar um arquiteto não era privilégio exclusivo das elites. A classe média emergente — comerciantes, funcionários públicos, artesãos qualificados — começava a valorizar o projeto habitacional como instrumento de dignidade e modernidade.

Ewaldo Kummer, ao escolher um bungalow — tipologia inspirada nos modelos californianos e já consagrada no Brasil como símbolo de simplicidade elegante — demonstrava sintonia com as tendências urbanas da época. Mais do que uma casa, ele buscava um lar com identidade, com proporções harmoniosas, ventilação cruzada, áreas bem definidas e uma fachada que, embora econômica, tivesse presença na via pública.

Sua residência, localizada na Avenida 7 de Setembro — uma das principais artérias de expansão da cidade na primeira metade do século XX —, certamente integrava-se a um bairro em formação, onde casas de um só pavimento dominavvam a paisagem, cercadas por quintais generosos e árvores nativas.


Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto do Cotidiano

O nome de Eduardo Fernando Chaves não figura entre os grandes nomes da arquitetura moderna brasileira. Contudo, é justamente em profissionais como ele que reside a verdadeira história do habitar urbano. Enquanto Oscar Niemeyer projetava monumentos, arquitetos locais como Chaves desenhavam milhares de casas que abrigaram famílias reais, com orçamentos limitados, mas com o mesmo direito à beleza, à luz natural e à privacidade.

Seu projeto para o senhor Kummer é um exemplo de eficiência espacial: em 77 m², organizou sala, dormitórios, cozinha, área de serviço e banheiro — todos dispostos de forma lógica, com circulação clara e integração com o exterior. A fachada, embora simples, provavelmente apresentava elementos decorativos típicos da época: talvez molduras em argamassa, toldos de madeira ou uma pequena varanda frontal — espaços de transição entre o público e o privado, fundamentais na sociabilidade doméstica.

A escolha da alvenaria de tijolos reflete não apenas a disponibilidade local de materiais, mas também a durabilidade e o status associado à construção em alvenaria (em contraste com as ainda comuns casas de madeira). Tratava-se de uma casa para durar, para ser transmitida às gerações seguintes.


O Desaparecimento Silencioso de um Patrimônio Cotidiano

Embora o Alvará nº 1411/1935 tenha autorizado a construção, e embora o projeto esteja preservado nos microfilmes do arquivo municipal, a casa de Ewaldo Kummer não foi localizada em 2012. É provável que tenha sido demolida ao longo das décadas, substituída por edifícios, comércios ou residências maiores — vítimas silenciosas do “progresso” urbano que frequentemente apaga o passado modesto, mas significativo.

Esse desaparecimento não diminui sua importância. Pelo contrário: ele sublinha a urgência de valorizar não apenas os monumentos, mas as construções comuns — aquelas que, em sua simplicidade, contam a história da maioria.


Conclusão: Uma Casa que Nunca Vimos, Mas que Conhecemos Bem

A residência do senhor Ewaldo Kummer, projetada por Eduardo Fernando Chaves em 1935, talvez nunca tenha causado admiração em revistas de arquitetura. Mas para quem nela morou — para Ewaldo, sua esposa, seus filhos —, ela foi o centro do mundo: o lugar do café da manhã, das conversas noturnas, das flores no quintal, dos aniversários com bolo caseiro.

Hoje, seu projeto sobrevive como documento histórico, como fragmento da memória urbana de Curitiba, e como testemunho do trabalho silencioso de arquitetos que serviram à classe média com seriedade e carinho.

Que esta pequena casa de 77 m², embora desaparecida fisicamente, continue habitando nossa memória coletiva — como símbolo de que toda casa bem pensada é, em essência, um ato de amor.

“As cidades são feitas de casas, e as casas, de sonhos.”
— Em homenagem a Ewaldo Kummer e a todos os moradores anônimos que transformaram concreto em lar.

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