sábado, 23 de junho de 2018

Guaratuba - Paraná - Brasil


Guaratuba até o final da década de 40 e início de 50, se resumia numa pequena “vila”, com algumas casas em torno de um largo todo gramado e a Igreja centenária.  Até o final do século XVIII, as casas eram simples de “taipa”, cobertas de palha e construídas de modo bem rudimentar: paus trançados preenchidos com barro. 
A única maneira de se chegar à antiga vila era pelo mar, pelo canal da barra, entrada da Baía. Para se chegar praia, os antigos moradores usavam uma trilha chamada de “Caminho da Praia”, que começava perto da igreja (fundos) beirava o Morro do Pinto, passava pela Fonte do Itororó, antiga Escola de Pesca, chegando à praia.
A Rua Capitão João Pedro era apenas um misto de banhado e mangue, chamado de Rua do Riacho por onde escoriam as águas das fontes Itororó e Carioca. 
Havia um campo de criação de gado do Sr. Sebastião Souza, na encosta do Morro do Pinto, e mas adiante, perto da fonte da Santa, a criação de Máximo Jamur, e outro campo, no local onde hoje esta  a rodoviária, que pertencia ao Sr. Vicente Marques. 
Onde hoje é a praça central, era um grande gramado onde pastavam vacas, cavalos, e onde os antigos moradores criavam galinhas e perus.
Antes da luz elétrica, existia um sistema de iluminação pública, na praça com dois postes, e em frente à baía, na Rua da Praia, com três postes de madeira, com uma lamparina, que eram acesas todos os dias. Nas casas a iluminação era a base “lampião” a óleo de peixe mais tarde a querosene. 
Outro costume da época, nos dias de festejos, eram as fogueiras que eram acesas na frente das casas, e dependendo da importância do evento, até por vários dias. Durante muito tempo essa vila permaneceu isolada e seu único acesso era pelo mar, através do “canal barra” na entrada da baía.  As viagens para as vilas vizinhas (Paranaguá, Matinhos, Pontal) eram realizadas com muitas dificuldades pela beira mar, e sempre na dependência das marés e do tempo bom. O transporte em terra era feito com “carroças de burros” no início da colonização, depois charretes, e mais tarde por um pequeno ônibus. Pelo mar o transporte era feito com canoas a remo ou vela, depois de barcos com o famoso “motor de cabeça quente”. Para fazer este motor funcionar, o piloto tinha que aquecer o “cabeçote” como um maçarico por 10 ou 15 minutos. 

Os moradores da época enfrentavam dificuldades imensas em todas as necessidades primarias para a sua sobrevivência, desde a obtenção da água até a alimentação. Por várias décadas o alimento da população de Guaratuba foi de subsistência, baseado em frutos do mar, principalmente o peixe, a mandioca e a caça. Nas primeiras décadas do século XIX começou a cultura de alguns produtos como o feijão, milho e principalmente o arroz, que também era beneficiado e exportado para outras cidades. Depois começaram a surgir os primeiros “armazéns” de secos e molhados: Alexandre Mafra (Casarão), Máximo Jamur, Braga e outros todos na Rua da Praia. Tinha também o comércio informal no “Porto”, frente da baía, onde os moradores do sítio negociavam seus produtos: laranja mimosa, legumes, peixe, palmito, etc., prática esta que diminuiu com o afundamento de parte da rua em 1968. A água usada pela população, era obtida nas fontes naturais que brotavam na base dos morros que rodeiam o centro da cidade. As principais eram: a Carioca, Itororó, Bica do Morro (Leões) e a Fonte São João.  Meninos da época, para ganhar dinheiro e ajudar no sustento da casa,, levavam água até as casas dos “banhistas” em latas, com carrinhos construídos por eles mesmos, aproveitando a embalagem de madeira onde eram transportados esses recipientes até a antiga “Vila” (latas de óleo ou querosene).  Entre os anos de 1924 e 1928, o prefeito Alexandre Mafra dotou a vila um sistema de abastecimento com a água captada da fonte do Morro do Pinto (Leões), que depois de alguns anos não supria mais as necessidades da comunidade. Mais tarde, Joaquim Mafra construiu uma rede de abastecimento captando água da Fonte da Carioca. Em 1974 o problema da água foi definitivamente resolvido pelo governo estadual, com a construção da rede de abastecimento de água potável que atualmente serve nossa cidade. Durante décadas, “Guaratuba” permaneceu isolada, tanto na questão dos acessos por terra (Estrada), como na questão política, pois quase todas as reivindicações da comunidade eram ignoradas pelos governos. No final dos anos “40” e início da década de “50”, a “vila” começou a viver a sua “redenção”, com a realização do maior sonho dos guaratubanos: a construção da estrada via Garuva. O sofrimento gerado pela “clausura” imposta pela natureza e governantes, fez com que as autoridades e moradores da época, numa indignação incomensurável, tomassem a iniciativa de construir a almejada “estrada” que tiraria a “Vila de Guaratuba” desse sofrimento, que se arrastava desde a sua fundação. Sensibilizado com a atitude e esforço da comunidade e vendo a necessidade desse povo, o Governador Moysés Lupion veio em socorro dos guaratubanos, e assumiu a construção da rodovia em 1947, e já em 1948, o primeiro carro chega a Guaratuba pela nova estrada. Depois de quase dois anos de trabalho, a estrada foi inaugurada em 27 de maio de 1950 com uma grande festa, realizada na sede do município, com a presença do Governador e vários assessores e toda a comunidade. A partir deste ano Guaratuba começou a sua transformação urbana, e o progresso, que até então era apenas um sonho, tornou-se uma realidade. Foram 179 anos de isolamento, descaso e sofrimento de uma população que desde o início da colonização foi relegada a um segundo plano, esquecida pelos governantes e autoridades da época.




Podemos localizar a história de Guaratuba em duas épocas distintas:
“Antes e depois da estrada” - Antes da estrada - isolamento, dificuldades e sofrimento. "Depois da estrada" - Sonho e progresso.
Fatos pitorescos:
A comunidade vivendo isolada, sem contato com outras pessoas e outras culturas, tinham hábitos peculiares e  próprias da época. O “dia a dia” se resumia em algumas atividades como: a pesca, lavoura de subsistência (mandioca, banana e alguns legumes), corte de madeira para o preparo do alimento e a caça. Com o passar do tempo a agricultura começou a crescer, especialmente com investimento dos “coronéis” e senhores mais abastados da época. A cultura do feijão, do milho, principalmente do arroz, trouxe um alento para os moradores, que encontravam nessas atividades, uma oportunidade de amenizar as dificuldades trabalhando nesses cultivos e dai tirando seu sustento. Os engenhos de arroz beneficiavam o produto consumido pela população local, que também era vendido para outras cidades, principalmente Paranaguá e Santos. Além do arroz havia a produção do açúcar mascavo, do sal e da farinha.  Outra peculiaridade da época, eram as senhoras que se reuniam nas imediações da Fonte da Carioca, para lavar roupas,  a  água que escorria dessa fonte e também da “Santa”, formavam um riacho, que  represado, formava uma pequena lagoa, onde eram colocadas algumas tábuas para a lavação das roupas, que depois eram secas em um grande varal “ esticado” na rua (início da Vieira dos Santos). O Lazer A atividade de lazer na “fase colonial” quase não existia, se resumia em alguns “festejos” religiosos. Com o crescimento da população começaram a se desenvolver outros tipos de lazer, como os “bailes”, o futebol, banho de praia e um outro costume bastante típico da época, que era o “ajuntamento” de pessoas em frente a baía onde havia um grande gramado. Ali as pessoas conversavam, as mulheres faziam trico, bordado e discutiam assuntos relacionados a vida da comunidade, e  sobre a política local. Era o grande “centro de lazer e negócios” deste tempo, além de ser a principal porta de entrada da antiga “Vila de Guaratuba”. 
Temporada de Inverno - A “Vila” recebia vários visitantes nos meses de inverno, principalmente em julho, isso devido ao medo que as pessoas tinham de contrair a maleita, doença transmitida pelo mosquito Anopheles, comum nos meses mais quentes.
Com a vinda dos “banhistas”, os moradores tinham a possibilidade de aumentar a sua renda, vendendo os produtos de suas lavouras e criações. As crianças da época também ajudavam os pais, vendendo água para os “banhistas” e transportando suas bagagens.
Progresso - Com a construção da estrada, Guaratuba crescia a olhos vistos, ruas foram abertas, e as primeiras casas (de “banhistas”) começaram a ser construídas, o comércio foi se estruturando e se diversificando, várias famílias chegavam e a cidade cresceu. Veio o ferry-boat,  a luz elétrica, depois a água encanada, e investimentos foram realizados pelo governo estadual, e a “Vila” se tranformou numa cidade, graças ao esforço de pessoas abnegadas e lutadoras que deram início a todo esse processo de crescimento.
“Se temos as coisas que temos hoje, é porque alguém deu o início”. (Nivaldo  Amorim Gonçalves)
Herois que construiram Guaratuba- Guaratuba cresceu e se estruturou,  graças a iniciativa dessas pessoas que se sacrificaram para que isso acontecesse, pessoas dispostas a lutar pelo bem da comunidade, que não mediram esforços pelo progresso de “sua” cidade e bem estar do “seu” povo. São essas pessoas, do mais simples cidadão até o mais alto cargo, que construiram as bases para o desenvolvimento de nosso município, a eles devemos o que temos hoje. Esta frase de Moysés Lupion em discurso realizado em frente ao local em que hoje está o Supermercado Baía azul, centro da cidade, e que marcou  muito a comunidade da época servindo de incentivo para a construção de uma nova Guaratuba.  “Guaratuba! Levanta-te e anda”   

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