ANTONINA ANTIGA - III
Até o final dos anos 1960, esse era o portal da Estrada da Graciosa. Para os bagrinhos, que tantas e tantas gerações lutaram para que a estreita e tortuosa estrada para o planalto fosse o caminho – o único! – para a capital, esse marco significa antes de mais nada, um marco zero. A Estrada da Graciosa era o principal trunfo dos primitivos capelistas em favor de seu porto, que distava, pela Graciosa, somente 80 km da capital. Por Paranaguá, o caminho por terra era de 120 km.
Quando D. Pedro II definiu, em sua visita a Antonina (ver aqui), que a estrada de ferro seria construída por Paranaguá, foi uma ducha de água fria nos ânimos capelistas. A concessão do ramal Morretes-Antonina foi tardia – havíamos perdido a guerra dos portos no tempo do Império.
Nos anos 1930, no auge de nosso porto, foi encampada uma luta pela desequiparação dos fretes ferroviários. Em 1938, durante a visita de um ministro dos transportes do governo varguista, os antoninenses protestaram – e conseguiram por um breve período – que os fretes antoninenses não tivessem a concorrência desleal dos subsídios dados aos fretes parnanguaras. Mas foi só. Dos anos 50 pra cá, Paranaguá só cresceu enquanto Antonina minguava.
Esta foto, de idade incerta, mas provavelmente dos anos 1950 ou 1960, mostra o monumento tal como era antigamente, na entrada da cidade, praticamente em frente ao atual hospital Silvio Linhares. Foi removido na gestão modernizante do Dr Romildo Gonçalves Pereira, e colocado lá perto do “Guapê”, então a entrada da cidade. Lembro que meu pai protestou contra a remoção do monumento. Era, segundo ele, uma descaracterização da cidade e de sua história. No lugar onde se encontrava, foi colocada uma placa de bronze e alguns azulejos – não sei se a placa ainda está no lugar ou se foi removida.
Por um lado, olhando de hoje, acho que era necessária a remoção ou remodelação do Portal – a cidade cresceu e veículos maiores não passariam por ali. Creio que foi essa a intenção do Dr Romildo, cuja gestão se caracterizou, entre outras, pela demolição do antigo mercado e pela construção da atual rodoviária. Foi nesse momento, aliás, que ele e meu pai brigaram. Meu pai não via sentido em tanta demolição, e eu acho que ele também tinha razão. Não se moderniza apagando o passado, e existiam - e existem - outras alernativas para a conservaçao de monumentos. Sem contar que o Portal é turístico e charmoso, na entrada da cidade.
Por outro lado, é inegável que as cidades crescem: também a antiga Constantinopla, atual Istambul, superou suas muralhas por duas vezes. A diferença é que se você for ver a muralha construída por Constantino no seculo IV d.C. ela ainda está lá - em ruínas, mas está. Nosso progresso, embora necessário, é feito de maneira estúpida, destruindo o passado pra construir o futuro, mas que futuro? A nossa atual rodoviária é hoje um monumento ao nada, é um estorvo sem nenhuma beleza nem eficiência. O mercado construído nos anos 70 foi destruído e reconstruído de novo, numa obra que levou anos pra ser terminada. O que o atual mercado contribui para nossa história e para a nossa bela paisagem?
Voltemos à nossa foto. A foto em questão foi tirada num fim de tarde, e num belo dia de sol. O Morro do Feiticeiro, lá atrás, sem nuvens, nos dá garantia disso. Pelos postes de luz, parece ser coisa dos anos 50 ou 60. No centro do portal e da foto, um menino – quem seria? – posa comportado, com as mãos para trás. O calçamento parece que não existe, e a grama – ou o mato mesmo – crescem na coluna à nossa direita. As colunas do portal, com uma decoração geométrica bem simples, estão aparentemente pichadas com símbolos de notas musicais.
O Portal da Graciosa surge na foto como um guardião de uma cidade branca e radiante por trás dele, numa perspectiva simples, mas, com o perdão do trocadilho, graciosa. No entanto, sabemos que hoje essa cidade graciosa por trás do portal não existe mais. Existem outras cidades, outras Antoninas, umas melhores e outras piores, mas todas cheias de uma gente tão alegre e hospitaleira que o coração da gente se enche de paz e inspiração.
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