sexta-feira, 4 de novembro de 2022

OS IMIGRANTES ITALIANOS CHEGAM EM MORRETES

 OS IMIGRANTES ITALIANOS CHEGAM EM MORRETES

"Por volta de 1872, chegou em massa a imigração italiana, fundando a Colônia Nova Itália com os seus diversos núcleos. Os italianos aqui aportaram e encontraram um povo amigo e acolhedor que os recebeu de braços abertos. Aqui assentaram as suas primitivas vivendas, trabalharam de sol-a-sol, dispostos a lutar e a vencer. Pesquisando este solo, passo a passo, buscaram o progresso próprio e o desta nação, aproveitando ao máximo a generosidade da terra, para ter uma vida digna com o fruto do trabalho.
Hoje, os seus descendentes - filhos, netos, bisnetos e trinetos, brasileiros integrados no senso pátrio, estão espalhados por este Brasil. Aonde quer que se vá, encontraremos os descendentes daqueles imigrados que aqui chegaram, ansiosos por uma vida melhor, e a conseguiram. Hoje os vemos por toda a parte, exercendo as mais variadas funções e profissões na comunidade brasileira: políticos, administradores, artistas, professores, clérigos. Na medicina, no direito e na engenharia, na indústria e comércio, na lavoura, o nome italiano está sempre evidenciado na liderança representativa de uma etnia que se ajustou num caldeamento predestinado a um grande povo, o que nos leva a crer nos destinos deste nobre país.
O empresário Savino Tripotti iniciou os preparativos para a fundação da Colônia Alexandra, ainda em 1872, quando chegou da Itália a primeira leva de imigrantes, com a galera "Ana Pizzorno" e pelo navio "Liguria". Muitos italianos que vieram, não se destinavam propriamente ao Paraná. Eram obrigados, muitas vezes, a interromper a viagem, quer pela beleza da paisagem tropical, quer por cansaço ou doença, ou para abreviar o sofrimento das crianças que adoeciam e morriam a bordo, entulhadas que eram nas terceiras classes ou porões de navios infectos, junto às caldeiras, iluminados por insuficiente luz artificial, sem que nem mesmo o vento do mar chegasse até eles para minorar o calor sufocante.
Devido ao balanço do navio, que jogava muito, a maioria enjoava e já no segundo dia de viagem não havia um lugar seco onde pisar; poças de vômito espalhavam-se por todo o lado. Não bastasse isso, mais tarde, durante a travessia, combalidos, estranhando a comida a bordo que não era boa, sobrevinha a diarreia, e as mães que amamentavam perdiam o seu leite e, em consequência, as crianças pereciam.
Chegados em Paranaguá, eram alojados na Casa da Imigração, recebendo sua primeira alimentação em terra - aí, alguns tiveram a sua primeira decepção. Vendo sobre a mesa várias cuias de farinha de mandioca, avançaram para as mesmas, à voz de "formaggio, formaggio...", pois a muito não comiam queijo; mas de imediato cuspiram fora, sentindo que o gosto não se amoldara aos seus paladares (pensavam ser queijo ralado). Da Casa da Imigração, eram encaminhados à Colônia Alexandra, correndo as despesas de hospedagem e o transporte, por conta do Governo da Província.
Ao chegarem os colonos nas áreas que lhes eram destinadas, viam logo que não era bem a sonhada terra que eles imaginavam. Muitos dos seus lotes ficavam em lugares ermos, praticamente inabitáveis. Alguns deles ficavam em terreno alagadiço, arenoso ou pedregoso, longe dos centros mais populosos como Morretes e Paranaguá, provocando desânimo na posse da nova terra.
Como ignoravam o rigor do clima, que era muito quente no litoral, e outros aspectos da ecologia da região, ainda mais, o desconhecimento de como prevenir e acautelar-se contra animais ferozes, ofídios e insetos, que em grande quantidade existiam no lugar, de como começar uma agricultura rápida, tudo isso, agravado pela inexperiência no idioma, sobrevinha para os menos fortes o total esmoreci mento que influiu negativamente no colono italiano.
Se isso não bastasse, sucediam-se os casos de doenças. Havia falta de médicos, e pelos altos preços que estes cobravam pelos seus trabalhos, eram pouco procurados.
Nos casos de emergência, apelavam para os curandeiros, charlatães que gozavam de grande prestígio entre a população nativa, não menos ignorante e supersticiosa.
Por esse tempo chegaram à Província mais 870 colonos italianos com destino a Alexandra, dirigida por Savino Tripotti. Este, dizendo que estava sem recursos até para manter os antigos colonos, abandonou-os declarando que não tinha meios sequer para os primeiros suprimentos.
Por sua vez, os imigrantes recém-chegados declararam que tinham vindo iludidos e ao saberem do aperto porque estavam passando os seus patrícios, não quiseram absolutamente pertencer a Colônia Alexandra. Negaram-se a fazer parte da referida Colônia por vários motivos, e estas queixas e alegações provocaram os seguintes acontecimentos:
1º- Transferência de colonos de Alexandra para a Colônia Nova Itália, em Morretes.
2º- Criação de novos núcleos no planalto curitibano.
3º- Rescisão de contratos estabelecidos entre o Império e Empresários. Isso não impediu que novos empresários continuassem a introduzir italianos no Paraná.
Naquelas condições, as autoridades, de acordo com o Inspetor Geral da Colonização, resolveram transferi-los para Morretes, onde existiam terras férteis, próprias para todo o gênero de cultura. Mas o descontentamento persistiu em Morretes, onde a precariedade dos caminhos era semelhante às dificuldades da Colonia Alexandra, e muitos colonos, em situação crítica, puseram-se em debandada. Enquanto isso, o Governo providenciava a medição de terrenos no planalto curitibano para a formação de novas colônias. (Scnino Tripotti era natural de Teramo, no Abruzzo. Veio para a América fugido da justiça italiana, sendo mais tarde absolvido da acusação que lhe imputavam.).
A DESERÇÃO
A Colônia Nova Itália começara a sofrer o êxodo, abundante nos seus primeiros tempos, a ponto de assustar as autoridades encarregadas da colonização, pressentindo estar em risco o êxito da iniciativa. Pensara-se então ser o clima, o maior fator do esvaziamento. Além das condições climáticas que em parte contribuíram para afugentar os imigrantes, também, surtos mórbidos vitimavam os colonos.
Muito duvidoso era, então, acreditar-se que só o clima determinava a fuga de muitos para o planalto. Porém é sabido, que muitos deles, um dia, retornaram espontaneamente aos seus primitivos lotes da Colônia Nova Itália em Morretes. Haviam colonos carpinteiros, pedreiros, canteiros, alfaiates, sapateiros, etc. Muitos foram impelidos à construção da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba (1881-1885), aproveitados principalmente no seu trecho mais difícil (Volta Grande à Roça Nova), onde demonstraram os seus conhecimentos de cavouqueiros, perfuradores de túneis, preparadores de minas, sendo nesses misteres muito eficientes. Anteriormente, também trabalharam na estrada de rodagem Graciosa.
No livro n° 239 intitulado 'Livro de Contas de Colonos de Morretes - 1878', encontram-se nomes de imigrantes como: Lazarotto Pietro, Taverna Giacomo, Trevizan Giuseppe, Simioni Giovani, Mocelin Adamo, Mottin Giovani, Maschio Francesco e outros, aos quais o Governo Provincial creditava utensílios, ferramentas, alimentos e outros pertences úteis ao seu trabalho. A procura de trabalho na estrada de ferro foi tão grande por parte do imigrante (Arquivo Público, Livro de Ofícios n° 16-1 880) que se fez disso um caso de polícia enfrentado pelas autoridades de Morretes, onde estavam os escritórios da companhia. Em 10 de agosto de 1880, dirige-se o delegado de polícia Antonio Polidoro, ao Presidente da Província, solicitando o aumento do destacamento local: - "Invadida como se acha esta cidade (Morretes) por estrangeiros que procuram serviços na Estrada de Ferro".
Mais tarde, com a decadência da Colônia Cecília (anarquistas) localizada no município de Palmeira, os italianos, tendo perdido suas terras, dispersaram-se, e ficaram perambulando sem destino em busca de trabalho para que pudesses reconstruir suas vidas.
Na ocasião, a construção da estrada de ferro nos trechos de Restinga Seca à Palmeira e entre Palmeira e Lago, ofereceu a essa gente oportunidade de emprego, beneficiando tanto às obras quanto aos colonos, sendo esse trabalho assalariado a arrancada para uma vida melhor e estável, e o olvido de seus ideais anárquicos. Inúmeros toparam o trabalho assalariado na estrada de ferro. Os do litoral, muitos deles subiram a serra junto com os trilhos e por lá ficaram. Os que permaneceram foram aos poucos se adaptando ao meio, adquirindo costumes locais e, em troca, introduzindo conhecimentos e costumes trazidos de sua longínqua terra de origem.
Em 1886, muitos italianos já possuíam títulos provisórios dos seus lotes, recebidos por autorização do Presidente da Província. Pelos idos de 1885-1886, fundaram-se sociedades de imigração em Morretes e Porto de Cima, que muito concorreram para o bom êxito e o bom andamento dos núcleos. Colaboravam em tudo no sentido de dar pronto atendimento às colônias, revelando o cuidado pela instalação conveniente de novos imigrantes que chegavam à Província.
Sobressaiu-se nesse setor, a Sociedade de Imigração de Porto de Cima, a qual tinha por fim ocupar-se com tudo o que se inclinava a favorecer o aumento da imigração e o bem estar dos núcleos.
O SUCESSO
Souberam os colonos italianos, em poucos anos de permanência entre nós, conquistar a simpatia dos brasileiros com os quais passaram a viver na maior e melhor harmonia, pouco a pouco amalgamando-se, aprendendo o vernáculo, os seus costumes e unindo as duas raças parecidas através de matrimônio cruzado.
O jornalista italiano Alfredo Cusano, que esteve no Brasil durante cinco anos, publicou na Itália o seguinte depoimento (resumido) quanto ao estabelecimento de imigrantes italianos em nosso país:
"Itália Oltre Mare - Impressioni e Ricordi Dei Miei Cinque Ani di Brasile" (Milão, 1911).
Começando pelas colônias do município de Morretes, isto é: Sítio Grande, Porto de Cima, Alexandra, América, Rio do Pinto, Anhaia e outras que, como já frisei, são muito prósperas, encontramos por volta de uns quarenta que saíram da mediocridade para uma vida melhor.
Destes, três usufruem de uma verdadeira riqueza, porque o seu patrimônio oscila entre 200 mil liras a meio milhão, a saber:
Salvatore Scucato, vindo de Vicenza em 1888; a viúva Brambilla e Marcos Malucelli, o mais rico de todos, que produziu um engenho de cana de açúcar.
Doze possuem uma fortuna que varia de 80 a 150 mil liras, a saber:
Giuseppe Gnatta, de Vicenza; André Buzetti, Vicente Bettega. Bôrtolo Foltran, José Sanson e Benjamim Zilli, de Treviso; Alexandre Brandalize, de Belluno; Antonio Chierigatti, de Môntova; Antonio Pedinato, de Vicenza, e Antonio Consentino, de Cocenza.
Finalmente, vinte e cinco possuem de 50 a 80 mil liras, a saber: Júlio Vila Nova, Antonio Fruscolin, Luiz de Fiori, Antonio de Bona, Battista Citti, Ângelo de Rocco e Ângelo Ciscata, de Belluno; Antonio Robassa, Francisco Filipetti, Pedro Callegari, Luiz Tonetti, André Simon, José Dal' Col, Domingos Dall' Negro, Marcelino Meduna e Antonio Orreda, de Treviso; Antonio Dalcucchi, de Mântova; Pio Manosso, Ângelo Pilotto, José Fabris e Marcos Tosetto, de Vicenza.
E outros como: Valério, Turin, De Mio, Fante, Cherobin, Sotta, Ghignone, Fontana, Dall' Stella, Borsatto, Grandi, Piazza, Mazza, Gregorini, Bindo, Lati, Pontoni, Bacci, Madalozzo, Della Bianca, Pasquini, Gobbo, Zanardi, Canetti, Moro, Bavetti, Cavagnoíli, De Lay, Mori, Possiedi, Piovesan, Sundin, Miranda, Bertholdi, Bortholin, Triacchini (Triaquim), Curcio, Meneghetti, Contin, Cavogna, Bazzani, Grossi, Cavagnari, Brustolin, Belotto, Bergonse, Bertagnolli, Bortholuzzi, Carazzai, Carta, Casagrande, Cavalli, Cavallin, Cheminazzo, Chiarello, Zicarelli, Cini, Cit, Conte, Costa, Cusman, Dall' Ligna, Daí Lin, Dea, De Carli, De Paola, Dirienzo, Dotti, Ercole, Scarante, Favoretto, Comandulli, Ferrari, Ferrarini, Fraxino, Ferruci, Gabardo, Galli, Gaio, Gasparin, Grigoletto, Guzzoni, Jacomelli, Lazzarotto, Lucca, Lunardeli, Manfredini, Marchioratto, Marconsin, Marcon, Menin, Moreschi, Menegazzo, Molinari, Muraro, Nadalin, Nori, Olivetti, Orlandi, Panzolini, Pietrobom, Pilatti, Poletto, Possiedi, Ramina, Ramagnolli, Roncaglio, Rossetto, Rossi, Salvare, Santi, Savio, Scarpin, Scorzin, Scremin, Semionatto, Simeão, Sperandio, Sguário, Stocco, Stocchero, Strapasson, Talamini, Feltrin, Tessari, Giglio, Tosin, Tozetto, Tramontini, Trevisan, Trombini, Todeschini, Túllio, Valenti, Valenza, Vicentini, Volpato, Vardanega, Zalton, Zeni, Zem, Zampieri, Zanardini, Zanella, Zanetti, Zanier, Zanon, Zortea e muitos outros (Texto de Maurício Ferrarini.".
Paulo Grani.

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Primeira capela construída pelos imigrantes.

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Típica casa construída pelo governo, para as famílias de imigrantes.
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Rio Nhundiaquara e seu entorno, década de 1910.

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