Desde a I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.) que os nomes dos reis estão representados junto a desenhos que simbolizam a fachada do palácio faraônico. Na estela do faraó Wadj, por exemplo, que vemos ao lado, o falcão-símbolo de Hórus protege o rei, representado pela serpente, e o palácio, representado por suas muralhas. Isso já demonstra a importância do palácio real como centro ao redor do qual gravitavam inúmeras atividades. Como complexo arquitetônico — escreve a egiptóloga Arne Eggebrecht — no meio da vila residencial, ele reunia não somente o papel de local de habitação, ricamente equipado, para o rei e sua família, mas também de praça fortificada, de sede central para a administração, de loja e de atelier e, ainda, de depósito para os arquivos do Estado, tudo ao mesmo tempo. Mas é sobretudo a sua função de residência real, com sala de audiência, sala do trono e "janela da aparição", que se reveste de uma particular importância: no palácio se realizava o processo de conversão do poderio real em autoridade efetiva, processo ao qual não tinha acesso a não ser um público fortemente restrito.
Damos o nome de palácio à construção de tijolo e madeira na qual residia o faraó e sua família. É na Bíblia que encontramos a tradução para faraó da palavra egípcia per-aâ, grafada assimem hieróglifos. Esse termo significa, aproximadamente, Casa Grande, e na origem era o nome que se dava ao palácio real e que foi estendido ao seu ocupante, mas isso só ocorreu no final da XVIII dinastia (c. 1550 a 1307 a.C.). Algo parecido ocorre quando dizemos Palácio do Planalto para nos referirmos ao Presidente da República. Essa palavra, entretanto, não aparece nas inscrições egípcias dos primeiros tempos e o título de faraó não se tornou jamais um elemento da titulatura oficial do rei, mas atualmente é empregada para todos os períodos da história do Egito.
A arqueologia demonstrou que havia palácios desde a I dinastia em Mênfis e em Hieracômpolis. Construídos de tijolos crus perecíveis, infelizmente não chegaram até os nossos dias. Para se ter uma idéia de suas fachadas, podemos observar o muro que cerca a pirâmide de degraus de Djoser (c. 2630 a 2611 a.C.) em Saqqara, do qual vemos um detalhe na foto acima. Esse muro imita a fachada do palácio real de Mênfis, onde o faraó residia. O elemento característico da residência do rei era o muro de vedação ornado de nichos e guarnecido de grandes portões de entrada.
De maneira geral, a maioria dos restos de pinturas que se conservaram dos palácios faraônicos tem a natureza como tema principal e as cores utilizam grande variedade de matizes, sobretudo quando representam a vegetação nilótica. Ao lado um exemplo disso em um fragmento de decoração de um palácio tebano da XVIII dinastia. O tema das rosetas que aparecem na parte superior da figura era muito comum nas pinturas palacianas. Outra temática habitual era a dos povos estrangeiros vencidos nas batalhas, cujos tipos étnicos eram mostrados com riqueza de detalhes que nos permitem, atualmente, distinguir perfeitamente suas origens.
No que se refere aos palácios do Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.) as informações são escassas. Em Bubastis foi localizada uma construção do reinado de Amenemhet III (c. 1844 a 1797 a.C.) que foi identificada como sendo um palácio. Entretanto, a capital da XII dinastia (1991 a c. 1783 a.C.), Iti-tauí, sequer foi encontrada pelos arqueólogos. O conto de Sinuhe, um clássico da literatura dessa época, nos dá uma descrição da sala de audiência do palácio. Segundo o texto, havia um grande portal de entrada provido de nichos e flanqueado por duas esfinges reais, o qual se abria para uma sala de teto sustentado por altas colunas com motivos vegetais. No lado oposto ao da entrada, o trono do faraó estava colocado em um precioso nicho revestido de electro.
Do Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.) podemos destacar o palácio de Amenófis III (c. 1391 a 1353 a.C.) em el-Malqata, na região de Tebas, situado na margem ocidental de um lago artificial e formado por uma série de edifícios isolados, nos quais foram encontrados vestígios de pinturas murais. Elas representam, entre outras, cenas de caça, figuras do deus Bes dançando e o faraó sentado no trono com prisioneiros caídos ao seu lado. Nos tetos eram reproduzidas várias espécies de aves e motivos ornamentais com espirais e cabeças de vaca da deusa Hathor. Nos pisos, patos, peixes, prisioneiros asiáticos e núbios caídos completavam a decoração.
Do mesmo período também podemos citar a cidade palaciana de Akhenaton/Amenófis IV (c. 1353 a 1335 a.C.) em Tell el-Amarna. Os testemunhos arqueológicos nos dão uma imagem surpreendente dessa cidade e de suas casas que, apesar de suas dimensões e importância, foram efêmeras. O professor de egiptologia da Universidade de Constança, Wilfried Seipel, assim as descreve: O palácio residencial propriamente dito do rei e de sua família estava provavelmente situado na periferia norte dos quarteirões habitacionais da cidade, enquanto que as aparições públicas oficiais do soberano tinham lugar em um palácio localizado, este sim, no centro do aglomerado urbano, na grande rua que atravessava a cidade de norte a sul e que estava unida por uma ponte à "casa do rei", situada a leste da artéria principal. Nesta casa do rei se localizava — assim se supõe — a "janela da aparição" pela qual o soberano, com sua família, se mostrava em público em certas ocasiões solenes, como na outorga de condecorações. Essa casa oferecia, sem dúvida, uma possibilidade de alojamento suplementar para a família real. Os aposentos sociais do grande palácio serviam, por sua vez, à acolhida dos emissários estrangeiros ou à pompa das festas solenes. Compreendiam uma gigantesca sala do trono, uma sala hipostila, armazéns, dois haréns, um grande lago, um pátio margeado por estátuas colossais do rei e outras salas cheias de aparatos. Os fragmentos conservados do revestimento das paredes e do chão mostram, soberbamente pintadas, cenas da paisagem nilótica, com seus lagos, suas plantas aquáticas, suas árvores, seus peixes e seus pássaros, decoração que reencontramos também na casa de recreio do rei, situada no extremo sul da cidade. Esse local de diversão para a corte, batizado de "Maru-Aton" (Amenófis III já havia tido um semelhante), era composto por dois jardins, um lago artificial para passear de barco e um pequeno palácio, com armazéns e estufas e, portanto, não era concebido para uma permanência muito longa.
O egiptólogo Pierre Montet nos oferece mais alguns detalhes sobre a residência de Akhenaton: Os pavimentos das salas de colunas representam uma lagoa onde abunda peixe, atapetada de nenúfares, sobrevoada por aves aquáticas, bordada por roseirais e por papiros. Nos bosques vemos surgirem alguns veados que espantam patos-bravos. As videiras e os volubilis enroscam-se aos fustes das colunas. Os capitéis e as cornijas eram realçadas por incrustações brilhantes. Nas paredes há pinturas representativas de cenas da vida familiar. O rei e a rainha estão sentados face a face, Akhenaton numa poltrona, Nefertiti sobre um coxim. Tem um bebê ao colo; a princesa mais velha abraça o pescoço da mais nova. No chão brincam duas outras princesinhas.
O palácio dos Raméssidas, faraós da XIX (c. 1307 a 1196 a.C.) e da XX (c. 1196 a 1070 a.C.) dinastias, não eram menos suntuosos. Estavam situados na cidade de PI-Ramsés, palavra que significa Cidade de Ramsés, localizada na região do Delta oriental, próximo da moderna aldeia de Qantir, distante 120 quilômetros da zona norte do Cairo. Em 1998, arqueólogos encontraram as ruínas dessa cidade soterrada sob dunas e, usando sensores magnéticos e computadores, fizeram um desenho fiel da disposição de suas ruas, casas e palácios. Acredita-se que serão necessários 20 anos de escavações para desenterrar os principais setores da cidade, que ocupa uma área de cerca de 240 acres repleta de templos, agradáveis moradias, oficinas, estrebarias e outros edifícios.
Ramsés II (c. 1290 a 1234 a.C.) transferiu a capital do Egito para PI-Ramsés, pois o centro econômico e internacional do país havia se deslocado para o Delta e também porque sua família era originária daquela região. Seu palácio era de uma suntuosidade impressionante e dispunha, inclusive, de um enorme zoológico. As paredes interiores da construção eram decoradas com lindíssimos mosaicos de cerâmica, como este que vemos à esquerda, relacionado com as campanhas do faraó na Núbia. Também merecem destaque pequenas placas de revestimento mural incrustradas, de faiança policromática, nas quais são representadas figuras de Núbios, Sírios e Líbios aprissionados. Elas provavelmente formavam o revestimento externo de uma das janelas do palácio, talvez mesmo da janela da aparição, abertura a partir da qual o rei recebia os embaixadores, dirigia cerimônias ou outorgava recompensas.
O palácio de Ramsés III (c. 1194 a 1163 a.C.), em Medinet Habu, também apresenta revestimento semelhante. Aliás, o costume de representar os povos estrangeiros hostis em templos, túmulos e palácios reais já vigorava desde as épocas mais remotas da história egípcia. Junto ao templo de Medinet Habu, Ramsés III construiu um palácio — que ele chamava a sua casa de alegria —, usando como material básico o tijolo, mas com as colunas e alguns outros elementos em pedra. Ao lado vemos a sala do trono. A fachada do edifício estava voltada para o primeiro pátio do templo. Os baixo-relevos que a decoravam exaltavam o poder do faraó. Ele massacra os inimigos golpeando-os com a clava, ou visita as cavalariças seguido por uma brilhante escolta, ou ainda, munido de suas armas de guerra, do alto do seu carro, assume o comando do exército e, finalmente, acompanhado de toda a corte, assiste às lutas e exercícios dos seus melhores soldados.
O arqueólogo Pierre Montet nos esclarece que no centro desta fachada salientava-se a varanda onde o rei aparecia ao povo, ricamente decorada e precedida por quatro colunatas papiriformes, muito elegantes, suportando uma cornija de três andares. O disco alado pairava no andar inferìor. O andar intermédio era ocupado por palmas, e o andar superior por ureus adornados com o disco. Era aí que o rei se mostrava quando o povo era autorizado a apinhar-se no pátio para a festa de Amon. Era aí que ele distribuía as recompensas. A varanda comunicava com os aposentos reais. Estes compreendiam, ao centro, várias salas, sustentadas por colunas (uma das quais era a sala do trono), o quarto do rei, e o quarto de banho. Esta parte central era isolada por um vestíbulo dos aposentos da rainha, que compreendiam vários quartos e salas de banho. Vários corredores, compridos e retilíneos, facilitavam as idas e vindas e também a vigilância, porque Ramsés III, instruído pela experiência, era desconfiado. Ao lado, um detalhe do banheiro, o qual possuia canalização.
A sala do trono era dotada de um estrado, ao qual se tinha acesso por meio de uma escada de pedra. Sobre esse patamar ficava o trono real e por trás dele existia um muro com forma de falsa-porta. Segundo o mesmo autor, a decoração dessa sala parece ter sido austera e ele assim a descreve: Em todo o lado o rei é representado de pé, sob a forma de uma esfinge, e pelos seus nomes hieroglíficos. Vêem-se algemados diante dele todos os inimigos do Egito. Estão vestidos com os seus adornos mais valiosos, bordados com ornamentos bárbaros, e teve-se o extremo cuidado de representar exatamente a sua fisionomia, o seu vestuário, as suas jóias. Os líbios estão tatuados. Os negros têm brincos nas orelhas. Os sírios exibem um medalhão ao pescoço. Os nômades chasus prendem com um pente os seus longos cabelos penteados para trás. Os arqueólogos avaliam que os quartos do rei e da rainha estavam decorados com assuntos mais graciosos.
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