LADRÃO ARREPENDIDO
" Estávamos no ano 1844; sendo Inspetor da Alfândega de Paranaguá o Dr. João Crisóstomo Pupo, homem íntegro e acatado pela população
de nossa terra.
LADRÃO ARREPENDIDO
O "cofre" da repartição ficava isolado numa sala contígua a da Tesouraria, onde só entrava o Inspetor, quando ía depositar ou retirar dinheiro.
No dia 13 de fevereiro desse ano, pela manhã, o Inspetor teve que abrir o "cofre" para retirar dinheiro, a fim de fazer as transações necessárias da Tesouraria. Tudo em ordem.
No dia 14, adoeceu, ficando 7 dias de molho em casa. No dia 21, já bem melhor, voltou à repartição e seu trabalho continuou normalmente. Como não houvesse entrado dinheiro, não foi preciso ir ao "cofre". E assim passaram-se mais 3 dias.
No dia 24, tendo que recolher certa arrecadação; ao chegar ao "cofre", encontrou-o vazio e aberto; apenas com a porta encostada. ... O ilustre senhor perdeu o controle e, atacado por uma crise de nervos, começou a gritar como um louco.
Todos os funcionários correram ao local para saber o que estava acontecendo. O próprio JUIZ MUNICIPAL, que morava no sobrado ao lado (fim da ladeira para o mercado), ouvindo os gritos, também acudiu ao local. Acalmaram o Inspetor e, em seguida, depois de ouví-lo minuciosamente, trataram de fazer o "corpo de delito". Ficou constatado, então, achar-se o "cofre" aberto, tendo sinais de ter sido forçada a fechadura; ou, com outra chave, ou com algum outro instrumento.
O roubo foi avaliado em Rs 32:229$000 (trinta e dois contos, duzentos e vinte nove mil réis), muito dinheiro para a época!... Treis dias infernais passou o Inspetor em sua casa, sem poder dormir, e até sem se alimentar. E não era para menos...
Mas, no dia 27, às 7 horas da manhã, batem à porta de sua casa. O Inspetor vai abri-]a. Era o "amanuense". Vinha comunicar que o "porteiro" da Alfândega, ao abrir a porta de sua casa para ir ao Mercado, achara um pedaço de papel, mal escrito, colocado debaixo da porta, dizendo:
"O DINHEIRO ROUBADO ESTÁ NO PÁTIO DA ALFÂNDEGA".
Quase em seguida, chega o seu amigo, fiador — Joaquim Américo Guimarães — apresentando também um outro pedaço de papel colocado por debaixo da porta de sua casa, e com os mesmos dizeres...
O Inspetor não acreditou muito, pensando fosse uma brincadeira de mau gosto. Contudo, mandou que fosse aberta a Alfândega, mas que ninguém nela entrasse, até ele chegar.
A essa hora toda a cidade já sabia dos bilhetes. De forma que, quando o Inspetor chegou com as autoridades, a onda de curiosos estava enorme.
Entraram no pátio e, lá estava o embrulho no chão. Aberto na presença do Juiz Municipal e das demais autoridades, continha o pacote a quantia de Rs 31:614$000 (trinta e um contos seiscentos e catorze mil réis), faltando apenas a importância de Rs 615$000. (seiscentos e quinze mil réis).
A polícia procurou descobrir como foi feito o roubo; mas era muito difícil, naqueles tempos, uma rigorosa investigação. O Inspetor não duvidou de funcionário algum. O fato, porém, de não se notar sinais de arrombamento, deixava dúvidas.
Mais tarde, descobriu-se que uma das janelas ficara aberta e que o porteiro costumava deixar a chave da porta do quarto onde se achava o "cofre", escondida debaixo de um banco...
No inquérito policial ficou constatado que o ladrão se introduzira no edifício e se ocultara em algum lugar escuro, esperando a noite para poder agir. Ainda mais; que o "cofre" era muito fácil de ser aberto, porque as fechaduras do mesmo eram feitas de ferro fundido. E nada mais se fez. . . "O processo" foi, por fim, arquivado.".
Transcrito do livro "Paranaguá na História e na Tradição", de Manoel Viana.
Paulo Grani.
A Alfândega, nessa época, funcionava no velho prédio do Colégio dos Jesuítas, adaptado para esse fim .
O "cofre" da repartição ficava isolado numa sala contígua a da Tesouraria, onde só entrava o Inspetor, quando ía depositar ou retirar dinheiro.
No dia 13 de fevereiro desse ano, pela manhã, o Inspetor teve que abrir o "cofre" para retirar dinheiro, a fim de fazer as transações necessárias da Tesouraria. Tudo em ordem.
No dia 14, adoeceu, ficando 7 dias de molho em casa. No dia 21, já bem melhor, voltou à repartição e seu trabalho continuou normalmente. Como não houvesse entrado dinheiro, não foi preciso ir ao "cofre". E assim passaram-se mais 3 dias.
No dia 24, tendo que recolher certa arrecadação; ao chegar ao "cofre", encontrou-o vazio e aberto; apenas com a porta encostada. ... O ilustre senhor perdeu o controle e, atacado por uma crise de nervos, começou a gritar como um louco.
Todos os funcionários correram ao local para saber o que estava acontecendo. O próprio JUIZ MUNICIPAL, que morava no sobrado ao lado (fim da ladeira para o mercado), ouvindo os gritos, também acudiu ao local. Acalmaram o Inspetor e, em seguida, depois de ouví-lo minuciosamente, trataram de fazer o "corpo de delito". Ficou constatado, então, achar-se o "cofre" aberto, tendo sinais de ter sido forçada a fechadura; ou, com outra chave, ou com algum outro instrumento.
O roubo foi avaliado em Rs 32:229$000 (trinta e dois contos, duzentos e vinte nove mil réis), muito dinheiro para a época!... Treis dias infernais passou o Inspetor em sua casa, sem poder dormir, e até sem se alimentar. E não era para menos...
Mas, no dia 27, às 7 horas da manhã, batem à porta de sua casa. O Inspetor vai abri-]a. Era o "amanuense". Vinha comunicar que o "porteiro" da Alfândega, ao abrir a porta de sua casa para ir ao Mercado, achara um pedaço de papel, mal escrito, colocado debaixo da porta, dizendo:
"O DINHEIRO ROUBADO ESTÁ NO PÁTIO DA ALFÂNDEGA".
Quase em seguida, chega o seu amigo, fiador — Joaquim Américo Guimarães — apresentando também um outro pedaço de papel colocado por debaixo da porta de sua casa, e com os mesmos dizeres...
O Inspetor não acreditou muito, pensando fosse uma brincadeira de mau gosto. Contudo, mandou que fosse aberta a Alfândega, mas que ninguém nela entrasse, até ele chegar.
A essa hora toda a cidade já sabia dos bilhetes. De forma que, quando o Inspetor chegou com as autoridades, a onda de curiosos estava enorme.
Entraram no pátio e, lá estava o embrulho no chão. Aberto na presença do Juiz Municipal e das demais autoridades, continha o pacote a quantia de Rs 31:614$000 (trinta e um contos seiscentos e catorze mil réis), faltando apenas a importância de Rs 615$000. (seiscentos e quinze mil réis).
A polícia procurou descobrir como foi feito o roubo; mas era muito difícil, naqueles tempos, uma rigorosa investigação. O Inspetor não duvidou de funcionário algum. O fato, porém, de não se notar sinais de arrombamento, deixava dúvidas.
Mais tarde, descobriu-se que uma das janelas ficara aberta e que o porteiro costumava deixar a chave da porta do quarto onde se achava o "cofre", escondida debaixo de um banco...
No inquérito policial ficou constatado que o ladrão se introduzira no edifício e se ocultara em algum lugar escuro, esperando a noite para poder agir. Ainda mais; que o "cofre" era muito fácil de ser aberto, porque as fechaduras do mesmo eram feitas de ferro fundido. E nada mais se fez. . . "O processo" foi, por fim, arquivado.".
Transcrito do livro "Paranaguá na História e na Tradição", de Manoel Viana.
Paulo Grani.
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