A Ferrovia Madeira Mamoré

Olá Curiosos, se não ouviu falar da Ferrovia Madeira Mamoré seu colégio era fraco, aliás, o meu também era, pois só ouvi um sopro desse assunto e quase saí da linha quando escutei a história de verdade.

O Brasil no período imperial era extremamente avançado nos trilhos e infelizmente desvalorizaram nossas ferrovias que já foram o nosso maior sinal de progresso, desvalorizando também, a história daqueles que a construíram.

A Ferrrovia Madeira Mamoré era uma das ferrovias mais "impossíveis" de se tornar possível, também chamada de Ferrovia da Morte ou Ferrovia do diabo. Esse nome simpático é devido ao saldo de mais de dez mil mortos contabilizados em sua construção.

O Brasil havia tomado o Acre de assalto da Bolívia e precisava ter acesso ao novo Estado conquistado na marra pelo Gaúcho Plácido de Castro, em 1893.

E nessa tomada de assalto no tratado de posse, o Barão do Rio Branco comprometeu-se a construir ali uma ferrovia para escoar a borracha produzida nos seringais desde Jaraguá-Mirim até o Porto Velho, que era só um portinho velho de nada e tornou-se uma grande cidade após a construção da ferrovia.

Todos queriam o progresso da região, só esqueceram de um pequeno detalhe, entre Rondônia e e a Bolívia havia uma floresta tropical enorme a ser devastada pra estrada de Ferro passar: a Amazônia.

A construção da ferrovia custou vinte e oito toneladas de ouro.

Em 1905 resolveram iniciar a sua construção. Ela iria começar em Porto Velho e tinha que ter 366 km de percurso, com grandes elevações pois ela teria que começar com 60m acima do nível do mar e terminar com cerca de 120m. E nessa subida além de rios caudalosos tinha diversas cachoeiras e dificuldades.

Mas em 1907 realmente começaram a construção e foram recrutados trinta mil operários de cinquenta nacionalidades diferentes e muitos deles com a experiência de terem construído o Canal do Panamá. Muitos nordestinos retirantes foram para Porto Velho fugindo da seca e vendo a saída na ferrovia para uma vida nova e nunca mais voltaram.

Logo que começou a construção veio aquele que seria o fim da picada, aliás, o fim mesmo, o mosquito, transmissor de doenças como a malária, que começou a matar aos montes.

Dos trinta mil homens, 90% tiveram malária e as chuvas torrenciais não calculadas na obra atrapalhavam tudo, levando material embora, trilhos, dormentes, homens, enfim ficaram meses enxugando gelo e a obra não andava e a obra prevista para acabar em 1908 ficou pronta em 1912.

Mas a ferrovia que tinha o intuito de atender ao seringal da Amazônia, deu com os burros n'agua, pois um estrangeiro roubou umas mudas de seringueira, levou pra Malásia e lá começou uma produção organizada com ideia de produção em escala industrial, trazendo mais qualidade ao produto, quebrando a produção no Brasil.

Hoje o que sobrou da ferrovia e foi trazido da Europa em barcos a vapor, constitui um ferro velho a céu aberto.

A Ferrovia recebia também muito material vindo dos Estados Unidos, aliás, a obra foi bancada pelos Estados Unidos e trouxe o engenheiro americano Percival Farqurar, que chegou todo animadinho para construir aquela que seria a décima quinta ferrovia brasileira, afirmando que seria então seu "Cartão de visitas", ele não sabia que a selva amazônica não era nenhum morango.

O caos se instalou de tal maneira com tanta gente morta que ele chamou o sanitarista Oswaldo Cruz pra tentar arrumar uma solução.

A borracha começou a ser vulcanizada em 1870 e foi quando começou a migração em massa de nordestinos, principalmente para a região.

Os trabalhadores além de driblarem as más condições, ainda tinham que lidar com os ataques dos indígenas.

O idioma oficial na construção e no então Porto Velho era o inglês. O primeiro jornal da cidade se chamava "The Porto Velho Times".

Mas antes do Percival, o Coronel Churchill já havia tentado fazer a ferrovia, conseguindo fazer apenas 7 km e mesmo assim perdendo centenas de homens.

No dia da inauguração do primeiro trecho de 7 km do Churchil, a locomotiva tombou na primeira curva e o povo já dizia que era um presságio para não seguirem adiante, mas seguiram.

Em 1903 o Tratado de Petrópolis que foi assinado aqui na minha City concedeu ao Brasil o território do Acre e o comprometimento de finalização da ferrovia que iria beneficiar os dois países.

Reza a lenda que o Barão do Rio Branco levou os bolivianos na Cervejaria Bohemia e os caras assinaram o tratado embriagados e com poucas exigências.

Muitos imigrantes vieram de Barbados e das Antilhas pela oportunidade de trabalho, pois Barbados era uma ilha de paragem para abastecer os navios e esses descendentes de tantos lugares fazem Porto Velho um caldeirão cultural e de sotaques e palavras de origens diferentes.

Dizem que cada dormente (a parte de madeira da ferrovia), representa um trabalhador morto nesta empreitada.

Os Estados Unidos abrem mão da concessão se exploração da ferrovia em 1919 e entram os ingleses e em 1930 eles desistiram da ferrovia vendo que o ciclo de exploração da borracha havia acabado.

Durante o Regime Militar as atividades foram encerradas pelo então presidente Castelo Branco.

A capital de Rondônia acabou sendo convitativa para os nordestinos com a promessa de recebimento de terras para viverem na região e essa notícia se espalhou rápido e um grande êxodo acontece para Porto Velho na metade do século XX.

Na década de 40, com a Segunda Guerra Mundial, a extração da borracha ganha novo fôlego. Precisavam de látex para abastecer a indústria bélica americana e o Presidente Getúlio Vargas vai pessoalmente nos seringais para dar ânimo àqueles que ele apelidou de "Os soldados da Borracha", que produziam dia e noite e depois que acabou esse segundo ciclo foram simplesmente abandonados por lá e não foram devolvidos às suas terras de origem e muito menos receberam as tais terras prometidas e até hoje muitos desses soldados da borracha brigam na justiça pelo recebimento de um salário condizente com suas atuações na Segunda Guerra.

Em 1970, com a crise do Petróleo, a Ferrovia foi desativada pelo exército na presença de milhares de trabalhadores com a locomotiva dando um silvo de cinco minutos que emocionou aqueles que colocaram sua vida em risco por ela.

Hoje a economia de Porto Velho gira em torno da construção de hidroelétricas, mas deveriam ter um museu ou usar pelo menos um trecho da ferrovia com fins histórico-culturais para que essa história e esses personagens nunca sejam esquecidos.

terça-feira, 20 de maio de 2025

A Ferrovia Madeira Mamoré

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