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sexta-feira, 3 de junho de 2022

" 44 BICO LARGO " "Foi no início dos anos 60, quando o Paraná festejava a vinda do Governo Ney Braga e milhões de brasileiros viviam a esperança da varredura de Jânio Quadros. [...]

 " 44 BICO LARGO "


"Foi no início dos anos 60, quando o Paraná festejava a vinda do Governo Ney Braga e milhões de brasileiros viviam a esperança da varredura de Jânio Quadros. [...]


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"Foi no início dos anos 60, quando o Paraná festejava a vinda do Governo Ney Braga e milhões de brasileiros viviam a esperança da varredura de Jânio Quadros. [...]

O novo Secretário do Interior e Justiça [...], integrando um novo governo austero, deveria ter, também, uma nova Polícia Científica e por isso o Luiz Geraldo Mazza estava confiante ao chamar a Delegacia de Furtos e Roubos, quando um larápio entrou em sua casa, no Juvevê, e revirou tudo. Talvez na inútil busca do dinheiro que o Mazza, sempre aos poucos, traz no bolso. Mas o ladrão levou roupas e outras coisas mais.

Chegaram dois agentes. Um bem alto, outro baixinho, quase uma versão paroquial do Mutt e Jeff. Interrogaram o Mazza: "Onde estava, porque chegou tarde à noite (dando chance para o amigo do alheio), quem eram os vizinhos, se tinha empregada, alguma briga recente, se ainda trabalhava no "Diário do Paraná" e coisa e tal."

Em certa passagem do "levantamento do corpo de delito" um dos investigadores, polacão de quase dois metros, apontou para um sapato que estava na cozinha. Enorme e solitário, embaixo de uma cadeira.

Com vagar e refinado no suspense o outro policial abaixou-se para apanhar a pista.
Modelando o gesto de captura do sapato com o olhar de certeza sherloquiana, o "tira" apanhou o quarenta e quatro, bico largo, e o levantou como um troféu até à altura de sua cabeça. Olhou firme para o parceiro e disparou, numa só palavra, a sentença de condenação: "Domanski!"

O Mazza, intrigado com o ritual, veio a saber depois que Domanski, ao contrário de muito "pé de chinelo", era um ladrão habitual e calçava um generoso tamanho de sapato. As suas pegadas, portanto, eram identificadas com facilidade pela nova polícia científica.

Mais tarde, os tiras souberam que o sapatão era do próprio Mazza. Ficaram intrigados: se não fora o Domanski, qual era o "gato" perneta que roubou um só sapato?

Da estória restou a lem brança do curioso método de apurar a autoria de um crime. Não pela impressão digital, mas pela impressão do tamanho do pé."

(Compilado de texto de René Ariel Dotti, membro da Academia Paranaense de Letras / Extraído de Histórias de Curitiba / Foto ilustrativa da web)

Paulo Grani