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terça-feira, 11 de novembro de 2025

A Casa do Sr. Alcebíades Liberalli: Um Retrato da Arquitetura Doméstica de Curitiba nos Anos 1930

 

A Casa do Sr. Alcebíades Liberalli: Um Retrato da Arquitetura Doméstica de Curitiba nos Anos 1930

No coração do bairro Alto da Glória, em Curitiba, ergue-se — discreta, porém sólida — uma residência que guarda, em seus tijolos e traços arquitetônicos, um pedaço vivo da história urbana da capital paranaense. Projetada pelo arquiteto e construtor Eduardo Fernando Chaves em 5 de abril de 1939, a casa localizada na Rua Visconde de Nacar, nº 765, foi concebida como um lar para Alcebíades Liberalli, um cidadão da classe média urbana que, naquele momento histórico, buscava concretizar o sonho de ter um espaço próprio — funcional, modesto e com identidade.

Mais do que uma simples edificação, essa residência de 155 m², construída em alvenaria de tijolos com um único pavimento, é um testemunho silencioso da transformação arquitetônica e social que Curitiba vivia na virada da década de 1930 para os anos 1940: uma cidade que, ainda marcada por traços coloniais e rurais, começava a abraçar a modernidade com pés firmes no chão da tradição.


O Arquiteto: Eduardo Fernando Chaves e o Traço do Cotidiano

Embora não seja um nome amplamente celebrado nos cânones da arquitetura modernista brasileira, Eduardo Fernando Chaves representa uma figura fundamental na história construtiva de Curitiba — o arquiteto-construtor. Nesse período, muitos profissionais não apenas desenhavam, mas também acompanhavam de perto a execução das obras, garantindo fidelidade ao projeto e adaptando soluções práticas às limitações orçamentárias e materiais da época.

Seu trabalho, como evidenciado no Projéto de Casa para o Snr. Alcebíades Liberalli, revela um profundo senso de funcionalidade, equilíbrio espacial e sensibilidade ao modo de vida da família média urbana. Em uma única prancha — hoje preservada em microfilme digitalizado no acervo do Arquivo Público Municipal de Curitiba — Chaves apresentou planta do pavimento térreo, fachada frontal, cortes, implantação no terreno e projeto da garagem, demonstrando uma abordagem integrada e meticulosa.

Esse documento não é apenas técnico; é um retrato da mentalidade arquitetônica do período: clara, racional, voltada ao conforto básico e à harmonia com o entorno imediato.


O Cliente: Alcebíades Liberalli e o Sonho da Casa Própria

Pouco se sabe sobre Alcebíades Liberalli além de seu nome e do fato de ter encomendado essa residência em 1939 — ano em que o mundo mergulhava na Segunda Guerra Mundial, mas Curitiba seguia seu ritmo de crescimento ordenado. Provavelmente um profissional liberal, comerciante ou funcionário público, Alcebíades representava uma nova classe urbana que via na casa própria não apenas um abrigo, mas um símbolo de estabilidade, dignidade e pertencimento.

A escolha de um projeto de pequeno porte, com 155 m² bem distribuídos em um único pavimento, reflete tanto as limitações econômicas quanto os valores da época: modéstia, praticidade e integração familiar. A inclusão de uma garagem — detalhe relevante — indica que Alcebíades já possuía ou planejava adquirir um automóvel, sinal de ascensão social em uma cidade onde o carro ainda era um bem de elite.


A Arquitetura: Simplicidade com Identidade

Construída sob o Alvará de Construção nº 3788/1939, a residência segue os princípios da arquitetura vernacular modernizada dos anos 1930:

  • Alvenaria de tijolos aparentes ou revestidos, comum na construção civil curitibana da época;
  • Telhado de duas águas, com inclinação moderada, adaptado ao clima úmido e frio da região;
  • Divisão clara entre áreas sociais e íntimas, com sala, cozinha, quartos e banheiro organizados de forma racional;
  • Fachada frontal equilibrada, provavelmente com elementos simétricos, janelas com molduras simples e um pequeno alpendre ou varanda — traços típicos da transição entre o ecletismo tardio e os primeiros sinais do funcionalismo.

Apesar da simplicidade, o projeto não carece de graça. A implantação no terreno, cuidadosamente desenhada por Chaves, sugere atenção à orientação solar, ventilação cruzada e privacidade — princípios que, embora não formalizados academicamente na época, já eram parte do saber empírico dos bons construtores.


Preservação e Memória: A Casa em 2012

Em 2012, mais de setenta anos após sua construção, a residência ainda existia — testemunhada por uma fotografia registrada por Elizabeth Amorim de Castro e incorporada ao acervo do Arquivo Público Municipal de Curitiba. A imagem revela uma casa bem conservada, possivelmente com adaptações mínimas, mas que mantém sua essência original.

Sua preservação — mesmo sem ser um monumento tombado — é um ato de resistência silenciosa contra a homogeneização urbana. Enquanto arranha-céus e empreendimentos verticais transformam o perfil da cidade, casas como a do Sr. Alcebíades lembram que a identidade de Curitiba também está nos seus lares modestos, nas ruas arborizadas, nos detalhes de tijolo e madeira que contam histórias de gerações.


Um Legado Cotidiano

A residência da Rua Visconde de Nacar, nº 765, não é um ícone arquitetônico à la Oscar Niemeyer. Não foi palco de eventos históricos nem abrigou celebridades. Mas é, por isso mesmo, ainda mais valiosa: representa a arquitetura do povo, do cotidiano, do sonho comum de ter um teto, um jardim e um lugar para chamar de lar.

Eduardo Fernando Chaves, com seu traço preciso e sensível, e Alcebíades Liberalli, com seu desejo de estabilidade familiar, juntos construíram mais do que uma casa — construíram memória.

Hoje, enquanto passamos por essa rua tranquila do Alto da Glória, talvez sem notar sua importância, essa casa permanece em silêncio — mas firme, como um guardião discreto da alma arquitetônica de Curitiba.


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Porque nem toda grandeza precisa de torres — às vezes, basta um tijolo bem colocado, um teto que abriga sonhos e uma porta que se abre para a história.

Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto e Construtor

Denominação inicial: Projéto de Casa para o Snr. Alcebíades Liberalli

Denominação atual: Residência

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Rua Visconde de Nacar, nº 765

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 155,00 m²
Área Total: 155,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 05/04/1939

Alvará de Construção: Nº 3788/1939

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de casa, Alvará de Construção e fotografia do imóvel.

Situação em 2012: Existente


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.
3 - Fotografia do imóvel em 2012.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Casa para o Snr. Alcebíades Liberalli. Planta do pavimento térreo, fachada frontal, cortes, implantação e garagem, apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 3788
3 – Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro(2012).

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.