Denominação inicial: Projecto de sobrado para o Snr. V. Gabriel Ribeiro
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residencia e Comércio
Subcategoria: Informações incompletas
Endereço: Rua Marechal Deodoro
Número de pavimentos: 2
Área do pavimento:
Área Total:
Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos
Data do Projeto Arquitetônico:
Alvará de Construção: Talão Nº 189; Nº 1666/1928
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de sobrado para residência e comércio.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico
Referências:
1 - CHAVES, Eduardo Fernando Chaves. Theses de Concurso. Cadeira de Architectura Civil, Hygiene dos Edificios e Saneamento das Cidades. Curitiba: Faculdade de Engenharia do Paraná, 1930. 45 p. (p. 45)
1 - Projeto Arquitetônico
A Casa do Senhor V. Gabriel Ribeiro: Um Sobrado que Habitou a Memória de Curitiba
“Nas ruas que hoje respiram modernidade, já pulsou a elegância discreta de um sobrado de dois andares — lar, oficina e testemunha silenciosa de uma Curitiba em transformação.”
Um Projeto para o Tempo: O Sobrado do Senhor V. Gabriel Ribeiro
Em meio aos arquivos empoeirados da Faculdade de Engenharia do Paraná, escondido entre fórmulas técnicas e plantas arquitetônicas meticulosamente traçadas à tinta e compasso, repousa um testemunho raro da vida urbana curitibana do início do século XX: o Projeto de Sobrado para o Senhor V. Gabriel Ribeiro.
Embora o nome completo do morador permaneça parcialmente velado pela sigla “V.” — possivelmente uma abreviação de “Venâncio”, “Vicente” ou outro nome comum da época —, sua presença é indelével na trama arquitetônica da cidade. Ele não era apenas um proprietário; era um habitante ativo do centro urbano em expansão, um homem que desejava unir sob o mesmo teto o lar e o comércio, prática comum entre a burguesia mercantil da Curitiba dos anos 1920.
Localização e Contexto Urbano
O sobrado foi projetado para ocupar um terreno na Rua Marechal Deodoro, uma das artérias mais movimentadas e simbólicas do centro histórico de Curitiba. Naquele trecho, entre igrejas, cafés, oficinas e lojas de tecidos, o comércio florescia lado a lado com a vida doméstica. A escolha do endereço não foi acidental: era o coração pulsante da cidade, onde se cruzavam negócios, ideias e trajetórias.
Arquitetura e Técnica Construtiva
O edifício, de dois pavimentos, foi concebido em alvenaria de tijolos, técnica dominante na construção civil curitibana da época, que garantia solidez, durabilidade e certo grau de refinamento estético. Embora os desenhos originais não especifiquem ornamentos elaborados, a própria tipologia do sobrado — com loja no térreo e residência no andar superior — já carregava uma linguagem urbana clara: funcionalidade aliada à distinção social.
O projeto, datado de 1928, recebeu seu Alvará de Construção sob o Talão nº 189, nº 1666/1928, documento que atesta a legalidade da obra perante as autoridades municipais da época. Tratava-se de uma construção licenciada, planejada, integrada ao tecido urbano em conformidade com as normas emergentes de higiene e saneamento — temas centrais nos cursos de arquitetura da Faculdade de Engenharia do Paraná, como revela a fonte principal que preserva seu registro.
Uma Vida Breve, mas Marcante
Apesar de sua solidez construtiva, o sobrado do Senhor V. Gabriel Ribeiro não resistiu ao tempo e às pressões do desenvolvimento urbano. Em 2012, décadas depois de ter abrigado gerações de moradores e comerciantes, o edifício foi demolido, cedendo lugar a novas estruturas que, embora mais altas e tecnológicas, não carregam a mesma alma histórica.
Não se sabe com precisão quantas famílias ali viveram, quantos negócios prosperaram em seu térreo, ou quantas janelas se abriram para o movimento da Marechal Deodoro ao longo de oitenta anos. Mas o projeto arquitetônico original, preservado na tese de Eduardo Fernando Chaves (1930), permanece como um eco visual de sua existência.
Na página 45 daquela tese — intitulada Theses de Concurso. Cadeira de Architectura Civil, Hygiene dos Edificios e Saneamento das Cidades — encontra-se o único retrato conhecido da construção: uma planta cuidadosa, linhas sóbrias, proporções equilibradas. É ali que o sobrado ganha imortalidade.
O Legado de um Nome Incompleto
Curiosamente, pouco se sabe sobre o próprio V. Gabriel Ribeiro. Seu nome, truncado pela sigla “V.”, convida à especulação histórica. Seria ele parente dos Ribeiro que figuram na genealogia curitibana desde o século XIX — como a família de Anna Ribeiro Baptista Ribeiro, batizada na mesma Catedral de Nossa Senhora da Luz? Talvez. A repetição do sobrenome e o uso recorrente de “Gabriel” como nome de batismo em famílias tradicionais da região sugerem possíveis laços de parentesco ou pertencimento a um mesmo clã urbano.
Embora essa conexão permaneça por provar, o simples fato de dois membros — Anna e V. Gabriel — compartilharem sobrenome, cidade e devoção à arquitetura familiar já tecem uma narrativa poética: a de uma Curitiba construída por famílias que viam nas casas não apenas abrigo, mas afirmação de identidade.
Conclusão: Memória em Tijolos e Linhas
O sobrado do Senhor V. Gabriel Ribeiro já não existe fisicamente, mas persiste na memória documental, na linha de um traço arquitetônico, no número de um alvará, na menção de uma tese acadêmica. É um lembrete de que a cidade não é feita só de concreto, mas de histórias — muitas delas anônimas, truncadas, incompletas — que merecem ser resgatadas.
Sua demolição em 2012 não apagou sua existência; pelo contrário, a tornou mais urgente de recordar. Porque cada sobrado derrubado leva consigo não apenas paredes, mas pedaços da alma coletiva de Curitiba.
“As cidades, como os sonhos, são feitas de desejos e medos.”
— Italo Calvino
E na Rua Marechal Deodoro, por breve tempo, o desejo de um homem chamado V. Gabriel Ribeiro encontrou forma — em tijolos, janelas e um teto que abrigou vida.
Referência:
CHAVES, Eduardo Fernando Chaves. Theses de Concurso. Cadeira de Architectura Civil, Hygiene dos Edificios e Saneamento das Cidades. Curitiba: Faculdade de Engenharia do Paraná, 1930. 45 p. (p. 45).

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