Paranaguá em 1925: Fé, Beleza, Saúde e Negócios nas Páginas de um Jornal Centenário
Paranaguá em 1925: Fé, Beleza, Saúde e Negócios nas Páginas de um Jornal Centenário
“Em cada linha impressa, uma vida. Em cada anúncio, um sonho. Em cada notícia, uma sociedade se construindo.”
Enquanto o mundo entrava na era do jazz, do cinema falado e das primeiras viagens aéreas, cidades como Paranaguá, no litoral paranaense, viviam seu próprio ritmo — marcado por missas solenes, campanhas de saúde, salões de beleza modernos e negócios que já antecipavam o consumo em massa.
As páginas do jornal O Estado de S. Paulo, de outubro de 1925, oferecem um retrato riquíssimo desse Brasil provincial, mas profundamente conectado às tendências globais da época. Hoje, mergulhamos nesse universo — entre altares, frascos de loção, cartazes de vacinação e crônicas sociais — para entender como era viver, trabalhar e sonhar no Brasil de 100 anos atrás.
🕊️ Os Novos Sinos da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá
Na primeira página, uma notícia emocionante marca a vida religiosa da cidade: a inauguração dos novos sinos da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá.
Os sinos, fundidos em Paris por Bernardin-Boulanger — uma casa renomada na França —, foram transportados em navio até o porto de Santos e depois levados por trem até Paranaguá. O evento, celebrado com grande pompa, reuniu autoridades civis e religiosas, além de centenas de fiéis.
Detalhe curioso: os sinos foram batizados com nomes de santos — São José, São Pedro, Santa Catarina e Nossa Senhora do Rosário — e pesavam, juntos, mais de 3 toneladas. A cerimônia contou com benção solene, música coral e até um discurso do vigário local, que destacou o simbolismo dos sinos como “voz de Deus ecoando pela terra”.
Essa notícia revela não apenas a importância da fé na vida cotidiana, mas também a conexão internacional da cidade — mesmo em 1925, Paranaguá importava objetos sagrados da Europa, demonstrando que a espiritualidade estava entrelaçada com o comércio global.
💄 O Instituto de Beleza “Rosa Maria”: O Luxo da Vaidade em 1925
Na mesma página, um anúncio elegante chama atenção: o Instituto de Beleza “Rosa Maria”, localizado na Rua Barão do Rio Branco, nº 518.
O texto é claro e sofisticado:
“A especialidade abrange limpeza de pele, tratamento de rugas, massagens e rejuvenescimento. Aguardando vossa preferência, desejamos os nossos agradecimentos.”
Assinado por Mme. Mary Katrine, o instituto prometia resultados imediatos e métodos científicos — uma novidade para a época, quando a beleza ainda era vista como assunto secundário ou até mesmo frívolo.
O endereço — no centro da cidade — e o tom aristocrático do anúncio sugerem que o público-alvo eram mulheres da elite local, que buscavam manter a aparência jovem e refinada. Curiosamente, o anúncio não menciona preços, indicando que o serviço era exclusivo e destinado a quem podia pagar.
Esse pequeno texto é um retrato perfeito da ascensão da indústria da beleza no Brasil — antecedendo décadas de publicidade agressiva, mas já mostrando que a vaidade era um mercado em expansão.
🩺 Como Salvar as Criançinhas de Paranaguá: Campanha de Saúde Pública
Na segunda página, uma matéria séria e comovente aborda a campanha de vacinação contra a varíola em Paranaguá.
O texto, assinado pelo médico Dr. Haroldo Batista, alerta sobre o risco de epidemia e convoca a população a vacinar crianças e adultos. O artigo destaca que, em apenas três semanas, mais de 200 pessoas foram vacinadas — um número expressivo para uma cidade de pouco mais de 10 mil habitantes.
O médico explica que a vacinação é “o único meio eficaz de prevenir a doença” e que, embora muitos temam o procedimento, ele é seguro e rápido. Ele também critica a resistência popular, atribuindo-a à “ignorância e ao medo infundado”.
A matéria termina com um apelo emocional:
“Não deixe que sua criança sofra ou morra por falta de prevenção. Vacine-a hoje!”
Essa campanha reflete um momento crucial na história da saúde pública brasileira — quando o Estado começava a assumir responsabilidades que antes cabiam à família ou à igreja. É um marco da modernização sanitária, que ainda hoje reverbera em políticas públicas de imunização.
👔 Um Chefe Nada Tem Que Fazer! — Crônica Social e Ironia de 1925
Na terceira página, uma coluna intitulada “Um Chefe Nada Tem Que Fazer!” — escrita por um tal “Matrez” — oferece uma visão irônica e divertida da vida corporativa da época.
O texto começa com uma crítica aos chefes que “não fazem nada, mas exigem que os subordinados trabalhem o tempo todo”. O autor descreve o chefe como alguém que:
- Chega tarde e sai cedo;
- Passa o dia lendo jornais e tomando café;
- Critica os outros, mas nunca assume responsabilidade;
- E, quando algo dá errado, culpa os funcionários.
A coluna termina com uma frase que poderia estar em qualquer empresa moderna:
“Se o chefe nada tem que fazer, então que fique quieto e deixe os outros trabalharem.”
Essa crônica é um tesouro histórico — mostra que, mesmo em 1925, os problemas de gestão, hierarquia e produtividade já existiam. E, mais importante, revela que o humor e a crítica social já eram ferramentas usadas para questionar o poder — um sinal de maturidade democrática e cultural.
📚 Programa Turístico: Guia de Viagens para o Litoral Paranaense
Na quarta página, um guia turístico detalhado apresenta Paranaguá e suas redondezas — ideal para quem planejava visitar a região.
O texto divide a cidade em capítulos:
- Capítulo I: História e geografia;
- Capítulo II: Pontos turísticos, como o Forte de São João, a Igreja Matriz e o Mercado Municipal;
- Capítulo III: Hotéis, restaurantes e transporte;
- Capítulo IV: Curiosidades locais, como a tradição de pescadores e a culinária típica (com destaque para o peixe fresco e o pirão).
O guia também inclui dicas práticas: horários de ônibus, preços de hospedagem e até sugestões de passeios de barco. Tudo isso com um tom convidativo, que busca atrair turistas da capital e de outras regiões.
Esse programa turístico é um exemplo raro de marketing de destino — antecipando, em décadas, as campanhas de turismo que hoje vemos em redes sociais e sites oficiais. Mostra que, mesmo em 1925, Paranaguá já entendia o valor do turismo como fonte de renda e prestígio.
🧪 Gratólogia: Crônica Social e Reflexão Filosófica
Na última página, uma coluna intitulada “Gratólogia”, assinada por Scott Harary, oferece reflexões filosóficas e sociais com um toque de ironia.
O texto começa com uma pergunta provocante:
“Por que o homem sempre quer ser o primeiro? Por que o sucesso é tão importante?”
O autor discute temas como ambição, vaidade e solidão — e conclui que, no fundo, todos nós buscamos reconhecimento, mesmo que não admitamos.
A coluna termina com uma frase que ressoa até hoje:
“O verdadeiro sucesso não está em ter tudo, mas em ser alguém que ninguém pode ignorar.”
Essa crônica é um espelho da alma humana — e mostra que, mesmo em 1925, as pessoas já se perguntavam sobre o sentido da vida, o valor do trabalho e a busca por propósito.
Por Que Isso Importa Hoje?
Porque o Brasil de 1925 não é um mundo distante — é o embrião do que somos hoje. As mesmas tensões entre tradição e modernidade, entre o local e o global, entre o privilégio e a ascensão social, continuam presentes — só que agora em formato digital, acelerado e em escala planetária.
Revisitar essas páginas não é nostalgia. É reafirmar que, por trás de cada balanço, anúncio ou cartão de visita, havia pessoas sonhando, trabalhando, investindo e construindo um futuro que, de certa forma, nós herdamos.
E se você acha que o mundo mudou demais... olhe novamente para esses documentos. Você verá que, no fundo, as motivações humanas permanecem as mesmas: buscar segurança, reconhecimento, progresso — e, claro, um bom negócio.
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