O JORNAL DE CURITIBA — ANO LXXVII — DOMINGO, 21 DE DEZEMBRO DE 1949
SUPLEMENTO ESPECIAL: A EMPRESA METALÚRGICA NACIONAL — UM ORGULHO DO BRASIL
O JORNAL DE CURITIBA — ANO LXXVII — DOMINGO, 21 DE DEZEMBRO DE 1949
SUPLEMENTO ESPECIAL: A EMPRESA METALÚRGICA NACIONAL — UM ORGULHO DO BRASIL
PÁGINA 17: PASSAGEM DE LINHA NA FRENTE INDUSTRIAL
Nesta primeira página do suplemento, a Empresa Metalúrgica Nacional, sediada em Joinville, Santa Catarina, apresenta-se ao país como um farol do progresso industrial. Com endereço telegráfico “FERRO”, a empresa anuncia sua missão: ser um instrumento fundamental na emancipação da indústria mecânica nacional.
O texto inicia com um tom grandioso, declarando que o desenvolvimento crescente do Parque Industrial Brasileiro é um “índice incontestável” da nova capacidade técnica do país. E a Metalúrgica Nacional está no centro dessa transformação.
A página traz três fotografias de automotores, cada uma com sua legenda específica:
- Automotriz de 11 passageiros, feita para a 2ª Estrada de Ferro.
- Automotriz de 36 passageiros, fabricada para a R. V. P. & C. (provavelmente uma companhia ferroviária ou de transporte).
- Automotriz confortável de 50 passageiros, também destinada à R. V. P. & C.
Essas imagens não são meros catálogos; são testemunhos visuais da capacidade produtiva da fábrica. A empresa afirma que seus equipamentos são “exportadores aguçados das máquinas mais potentes das necessidades mundiais”, indicando uma ambição de exportação e liderança tecnológica.
O texto conclui com uma declaração de orgulho: “Ela está no rol das maiores organizações industriais do Brasil.” Uma frase simples, mas carregada de significado em uma época em que o Brasil ainda buscava sua identidade industrial.
PÁGINA 18: A CALDEIRA MARÍTIMA E A TESOURA GUILHOTINA — SÍMBOLOS DA FORÇA PRODUTIVA
Na segunda página, o foco se desloca para produtos específicos que demonstram a versatilidade da Metalúrgica Nacional. A primeira imagem mostra uma Caldeira Marítima, descrita como capaz de atender a qualquer tipo de embarcação — desde pequenos barcos até grandes navios. O texto ressalta que os resultados obtidos com essas caldeiras são “raros mesmo em especialidades”.
Segue-se um breve histórico da empresa: fundada em 1883 por Otto Bormann, começou como oficina de reparos, mas evoluiu para uma grande organização com três seções bem definidas: FABRICAÇÃO DE MÁQUINAS OPERATRIZES, CONSTRUÇÃO DE CARROS E VAGÕES. Essa estrutura robusta permitiu que a empresa se tornasse um “corpo de mestres” que garante a prestigiosa qualidade dos produtos.
Outra fotografia destaca a Tesoura Guilhotina, uma máquina pesada para cortar chapas metálicas de até 140 mm de espessura e 8 metros de comprimento. A legenda informa que ela é usada para cortes em larga escala, provavelmente para a construção naval ou ferroviária. A precisão e a força dessa máquina são símbolos da engenharia brasileira em ascensão.
Por fim, a página apresenta a Afiadeira Automática, uma máquina para afiar ferramentas de corte, com capacidade para produzir 1.000 peças por hora. Um detalhe técnico importante: o preço de R$ 1.800,00, o que revela a escala de investimento necessário para modernizar uma oficina industrial na época.
PÁGINA 19: MÁQUINAS PARA O CAMPO E A INDÚSTRIA — DETALHES TÉCNICOS AO MÍNIMO
Esta página é um verdadeiro catálogo de máquinas, com fotos e especificações técnicas minuciosas. Cada item é descrito com precisão, como se fosse um manual de engenharia.
- Chilavertor: Uma máquina para furar chapas de até 4 mm de espessura, com capacidade de 3 metros de curso. Ideal para trabalhos em série.
- Martelo Mecânico (Jenovac): Para forjar peças pesadas, com peso de martelo de 1.500 kg e altura total de 1.800 mm. É a força bruta da metalurgia.
- Máquina para Oleares: Para fabricar oleares (peças cilíndricas) com diâmetro de 7/8" a 1 3/4", com produção de 1.000 a 1.500 unidades por hora. Indicada para a indústria automotiva ou de máquinas agrícolas.
- Máquina para Cilindrar Sola: Especializada para a indústria de calçados, com produção de 4.000 pares por dia. Um exemplo de como a indústria pesada pode atender a setores leves.
- Máquina para Preparação de Areia de Moldar: Essencial para fundições, prepara areia com precisão para moldes de metais. A produção é de 3,5 m³ por hora.
- Moinho Batente (Jenovac): Para moer materiais duros, com produção de 800 kg por hora. Útil para a indústria química ou alimentícia.
Cada descrição inclui dimensões, pesos, capacidades e preços aproximados, oferecendo ao leitor uma visão completa da gama de produtos disponíveis. É um retrato da diversidade da produção industrial brasileira, onde a mesma fábrica pode produzir tanto um martelo para forjar aço quanto uma máquina para fazer solas de sapato.
PÁGINA 20: CARROS, VAGÕES E TORNO — A LOGÍSTICA E A PRECISÃO
A quarta página continua a mostrar a amplitude da produção da Metalúrgica Nacional, agora focando em veículos e máquinas de precisão.
- Carro Restaurante: Feito para a R. V. P. & C., com comprimento de 12 metros e capacidade para 6 mesas e 4 outras dependências. É um projeto completo, que combina funcionalidade e conforto.
- Plana Limadora (Jenovac): Uma máquina para usinar superfícies planas, com curso de 800 mm e velocidade de 3 HP. Essencial para a fabricação de peças de precisão.
- Torno Mecânico de Alta Precisão (Modelo 100): Com diâmetro de 300 mm e distância entre pontas de 700 mm, este torno é o coração da oficina mecânica. Produz peças com tolerâncias mínimas, garantindo a qualidade dos produtos finais.
- Vagão Correto para Transporte de Mercadorias: Com capacidade de 10 toneladas, este vagão é projetado para resistir às duras condições do transporte ferroviário.
- Caixa Acústica: Um item curioso, que parece ser um produto secundário, talvez para uso em teatros ou cinemas. Mostra que a empresa não se limita apenas à indústria pesada.
A página termina com um parágrafo sobre a visita da imprensa à fábrica, que ocorreu em junho de 1949. Os jornalistas foram recebidos pelo diretor geral, Sr. João Paranhos, e puderam ver de perto a linha de produção, as máquinas e os produtos acabados. A reportagem finaliza com um elogio à empresa: “As fotografias servem para dar uma idéia aproximada da linha de produção da METALÚRGICA NACIONAL.”
PÁGINA 21: BAR E RESTAURANTE NINO — UM TOQUE DE CIVILIZAÇÃO EM MEIO À INDÚSTRIA
A última página do suplemento é uma surpresa. Em vez de continuar com máquinas e metalurgia, a Empresa Metalúrgica Nacional dedica espaço a um estabelecimento comercial: o Bar e Restaurante Nino, localizado em Curitiba.
A foto em preto e branco mostra a fachada do estabelecimento, com letras grandes e elegantes. O texto explica que o Bar Nino é um dos pontos mais representativos da cidade, conhecido por seu ambiente agradável e pela qualidade da comida.
O restaurante, fundado em janeiro de 1949, é descrito como um lugar onde se pode encontrar “a melhor patrícia, boa e inspiração típica de bom, saudável apetite”. O cardápio varia entre pratos tradicionais e modernos, com ênfase na cozinha italiana-brasileira.
O texto faz uma ligação sutil entre a indústria e o lazer: “A Metalúrgica Nacional, ao mesmo tempo honra a indústria brasileira e constitui uma prova de nossa aptidão para as mais altas formas de progresso.” Ou seja, a prosperidade industrial permite também o florescimento da cultura e do lazer.
O preço médio de uma refeição no Bar Nino é de Cr$ 20,00 por pessoa, o que, em 1949, era considerado acessível para a classe média urbana.
CONCLUSÃO: UMA VISÃO COMPLETA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA EM 1949
Este suplemento da Empresa Metalúrgica Nacional é muito mais do que um anúncio. É um documento histórico que captura o espírito da época: um Brasil em ascensão, confiante em sua capacidade de produzir tudo o que precisa, desde automotores e caldeiras até máquinas de precisão e restaurantes elegantes.
Cada página revela uma faceta diferente da indústria nacional: a força da produção, a precisão da engenharia, a diversidade dos produtos e, finalmente, o fruto desse progresso — a vida urbana e cultural.
Em 1949, a Metalúrgica Nacional não era apenas uma fábrica; era um símbolo de esperança, de autossuficiência e de orgulho nacional. E, ao publicar este suplemento no Jornal de Curitiba, a empresa estava dizendo ao Brasil: “Estamos aqui. Estamos prontos. E estamos crescendo.”
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