quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

O Bungalow de Eduardo Vespasiano Ribas: Um Refúgio de Tijolos e Simplicidade na Curitiba dos Anos 1930

 Denominação inicial: Projeto de Bungalow e muro para o Snr. Eduardo Vespasiano Ribas

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Rua Duque de Caxias

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 117,00 m²
Área Total: 117,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 15/04/1935

Alvará de Construção: Nº 1156/1935

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de bangalô e muro; Alvará de Construção.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernandes. Projeto de Bungalow. Planta do pavimento térreo, implantação, corte, fachada frontal e lateral esquerda, e muro apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 1156

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

O Bungalow de Eduardo Vespasiano Ribas: Um Refúgio de Tijolos e Simplicidade na Curitiba dos Anos 1930
Elegia a uma residência efêmera, mas carregada de graça cotidiana


Na primavera de 1935, enquanto o mundo ainda buscava sair das sombras da Grande Depressão e o Brasil se preparava para novas transformações políticas, em meio às ruas de paralelepípedos e jardins bem cuidados do centro de Curitiba, nascia um projeto modesto, mas profundamente humano: o bungalow de Eduardo Vespasiano Ribas, na Rua Duque de Caxias.

Com apenas 117 m² em um único pavimento, erguido em alvenaria de tijolos e cercado por um muro projetado com atenção aos detalhes, essa residência de pequeno porte era mais do que uma casa — era um gesto de equilíbrio entre necessidade e beleza, entre funcionalidade e dignidade. Infelizmente, como tantas outras construções do mesmo porte e época, em 2012 ela já não existia mais — demolida, esquecida, ou engolida pela voracidade do desenvolvimento urbano. Resta-nos, porém, o traço preciso de seu projeto, guardado como relíquia em microfilme, e a oportunidade de homenagear não apenas um edifício, mas um modo de viver.


Um Nome com História: Eduardo Vespasiano Ribas

O nome Eduardo Vespasiano Ribas carrega ecos de uma elite intelectual e administrativa paranaense. Seu patronímico evoca Vespasiano Martins Ribas, renomado médico, professor e reitor da Universidade Federal do Paraná — homem de grande influência na vida cultural e científica da capital. É provável que Eduardo Vespasiano Ribas, proprietário deste bungalow, fosse parente próximo — talvez filho, sobrinho ou neto — integrando uma família que ajudou a moldar a identidade civilizada de Curitiba.

Escolher um bungalow — termo de origem indiana, popularizado no Ocidente como sinônimo de casa térrea, de planta aberta e integração com o jardim — revela um gosto moderno, mas contido. Não era a ostentação de uma mansão, mas a serenidade de quem valoriza o essencial: luz natural, ventilação cruzada, privacidade e um espaço para a vida simples.


Arquitetura com Propósito: O Projeto de 1935

Desenhado e assinado em 15 de abril de 1935, o projeto foi registrado sob a denominação “Projeto de Bungalow e muro para o Snr. Eduardo Vespasiano Ribas”. Desenvolvido com clareza técnica, reúne em uma única prancha:

  • Planta do pavimento térreo,
  • Implantação no terreno,
  • Corte arquitetônico,
  • Fachada frontal e fachada lateral esquerda,
  • Detalhamento do muro perimetral.

Essa última inclusão — o muro — é significativa. Em uma época em que a rua ainda era espaço de convivência, mas a privacidade começava a ser valorizada pela classe média urbana, o muro não era apenas barreira, mas enquadramento simbólico do lar: um limite suave entre o mundo público e o refúgio familiar.

A construção em alvenaria de tijolos garantia durabilidade e um acabamento que permitia tanto simplicidade rústica quanto toques de refinamento — talvez com revestimentos de cimento queimado, rodapés altos, ou janelas com caixilhos de madeira escura.


O Alvará e o Cotidiano Regulado

O Alvará de Construção nº 1156/1935 selou oficialmente o direito de existir daquela casa. Emitido pela prefeitura de Curitiba, ele refletia um momento em que a cidade, embora ainda pequena (com cerca de 90 mil habitantes na época), já regulamentava o espaço construído com rigor crescente. Cada alvará, mesmo para uma casa de 117 m², era um ato de reconhecimento: a cidade dizia “sim” àquele lar.

A localização na Rua Duque de Caxias, uma das vias mais tradicionais do centro histórico — próxima à Praça Tiradentes, à Catedral e aos principais órgãos públicos — reforça que o bungalow estava inserido no coração administrativo e simbólico da capital. Morar ali era estar no centro do mundo curitibano, sem precisar de grandiosidade.


A Perda Silenciosa: Demolido em 2012

Apesar de sua solidez e localização privilegiada, o bungalow não resistiu ao tempo. Em 2012, já havia sido demolido — provavelmente substituído por um edifício de apartamentos, um estacionamento ou um comércio de maior retorno financeiro. Nenhuma fotografia contemporânea foi registrada; só nos restam os documentos técnicos: o projeto arquitetônico e o alvará, ambos preservados em microfilme pelo pesquisador Eduardo Fernandes Chaves.

Essa ausência física é dolorosa, mas não apaga seu valor. Pelo contrário: torna ainda mais urgente a memória. Pois não são apenas os palacetes que contam a história de uma cidade, mas também — e talvez principalmente — as casas pequenas, onde viveram professores, médicos, servidores públicos, famílias comuns que amaram, criaram filhos e envelheceram sob tetos modestos.


Legado de Modéstia e Beleza

O bungalow de Eduardo Vespasiano Ribas é um exemplo raro de arquitetura doméstica de qualidade acessível. Mostra que, mesmo com área reduzida, era possível projetar com clareza espacial, proporção e respeito ao entorno. E seu desaparecimento serve como alerta silencioso: o patrimônio não é apenas o que é monumental, mas também o que é cotidiano, honesto e humano.

Que esta homenagem seja um farol para futuras gerações:
não subestimem as casas pequenas.
Nelas, muitas vezes, morou a alma verdadeira da cidade.


Ficha Técnica Resumida

  • Denominação inicial: Projeto de Bungalow e muro para o Snr. Eduardo Vespasiano Ribas
  • Denominação atual: Não registrada (residência demolida)
  • Endereço: RRua Duque de Caxias, Curitiba – PR
  • Data do projeto: 15/04/1935
  • Alvará: nº 1156/1935
  • Pavimentos: 1
  • Área total: 117 m²
  • Material: Alvenaria de tijolos
  • Situação em 2012: Demolido
  • Documentação: Projeto arquitetônico e Alvará de Construção (microfilme digitalizado, Eduardo Fernandes Chaves)

“Nem toda grandeza precisa de torres. Às vezes, basta uma porta aberta, um jardim pequeno e um teto que abrigue sonhos.” 🌿🏡

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