domingo, 21 de dezembro de 2025

Projeto de Bungalow para o Senhor Alfredo Pfeiffer: Um Retrato da Vida Burguesa em Curitiba nos Anos 1930

 Denominação inicial: Projéto de Bungalow para o Snr. Alfredo Pfeiffer

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Rua João Manoel

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 146,50 m²
Área Total: 146,50 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 22/05/1935

Alvará de Construção: Nº 1228/1935

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de bangalô e muro e, Alvará de Construção.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow. Planta dos pavimentos térreos e superior, implantação, corte, fachada frontal e muro apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 1228

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

Projeto de Bungalow para o Senhor Alfredo Pfeiffer: Um Retrato da Vida Burguesa em Curitiba nos Anos 1930


Introdução: Quando um Bungalow Era Símbolo de Distinção

Em maio de 1935, em pleno auge do desenvolvimento urbano de Curitiba, o arquiteto Eduardo Fernando Chaves entregava um projeto discreto, porém revelador de seu tempo: o Bungalow do Senhor Alfredo Pfeiffer, localizado na Rua João Manoel. Concebido como uma residência de pequeno porte, mas com dois pavimentos e um muro delimitador, o projeto refletia tanto o gosto arquitetônico cosmopolita da elite curitibana quanto as transformações sociais e urbanas que marcavam a capital paranaense na primeira metade do século XX.

Embora o edifício tenha sido demolido antes de 2012, sua existência permanece documentada em uma prancha arquitetônica e em seu alvará original — testemunhos silenciosos de um modo de viver que valorizava a privacidade, a elegância doméstica e a integração entre forma e função.


O Morador: Alfredo Pfeiffer e Seu Lugar na Cidade

Pouco se sabe sobre Alfredo Pfeiffer além do que os documentos oficiais revelam: um cidadão que, em 1935, dispunha de recursos suficientes para encomendar um projeto arquitetônico completo, incluindo não só a casa, mas também o muro que a circundaria — elemento-chave na afirmação de propriedade privada e distinção social.

Seu sobrenome sugere ascendência alemã, comum entre famílias que se estabeleceram em Curitiba desde o século XIX. Muitos desses imigrantes e seus descendentes tornaram-se comerciantes, industriais ou profissionais liberais, integrando-se à elite urbana e contribuindo para a formação de um tecido social marcado pela diversidade étnica e pelo empreendedorismo.

Ao escolher a Rua João Manoel — via localizada em área residencial consolidada, próxima ao centro da cidade —, Pfeiffer demonstrava preferência por um endereço que equilibrava conveniência, tranquilidade e status.


O Projeto Arquitetônico: Simplicidade com Refinamento

O Projeto de Bungalow para o Senhor Alfredo Pfeiffer foi assinado em 22 de maio de 1935 por Eduardo Fernando Chaves, arquiteto atuante em Curitiba durante as décadas de 1930 e 1940, conhecido por projetos residenciais que mesclavam elementos tradicionais com traços de modernidade incipiente.

As principais características técnicas do projeto eram:

  • Categoria: Residência
  • Subcategoria: Residência de pequeno porte
  • Endereço: Rua João Manoel
  • Número de pavimentos: 2
  • Área do pavimento: 146,50 m²
  • Área total construída: 146,50 m² (registro típico da época, em que a área total era frequentemente computada com base no térreo, mesmo em edificações de múltiplos andares)
  • Material construtivo: Alvenaria de tijolos — padrão da construção civil curitibana, associado à durabilidade e ao prestígio
  • Alvará de Construção: nº 1228/1935

A prancha arquitetônica original, hoje preservada em microfilme digitalizado, inclui:

  • Planta do pavimento térreo
  • Planta do pavimento superior
  • Planta de implantação no terreno
  • Corte transversal
  • Fachada frontal
  • Projeto do muro perimetral

O termo “bungalow”, de origem indiana e popularizado nos Estados Unidos e na Europa no início do século XX, designava uma residência térrea ou de dois pavimentos, de planta aberta, com varandas e telhado inclinado. No contexto curitibano, o bungalow era reinterpretado com materiais locais e proporções adaptadas ao clima e ao terreno, mantendo, porém, o espírito de intimidade e conforto doméstico.

A inclusão do muro no projeto era significativa: não apenas delimitava a propriedade, mas também simbolizava a transição entre o espaço público e o privado — um conceito cada vez mais valorizado nas cidades modernas.


Contexto Histórico: Curitiba em Transformação

O ano de 1935 situava-se em um período de intensa modernização urbana em Curitiba. A cidade, que havia se tornado capital do Paraná em 1853, vivia um crescimento populacional e econômico impulsionado pela cafeicultura, pela indústria incipiente e pela chegada de novas levas de imigrantes.

Nesse cenário, a arquitetura residencial refletia uma busca por identidade moderna sem romper com o gosto tradicional. Projetos como o de Pfeiffer combinavam estruturas sólidas (alvenaria de tijolos), planta funcional e detalhes estilizados — sem ostentação, mas com clara intenção estética.

A Rua João Manoel, embora não fosse uma das vias mais aristocráticas como a Batel ou a Marechal Deodoro, integrava o conjunto de ruas residenciais que formavam o “miolo” urbano da cidade — lugar ideal para famílias de classe média alta que desejavam proximidade com o centro sem abrir mão do sossego.


O Desaparecimento: Uma Perda Silenciosa

Assim como muitas residências históricas de pequeno e médio porte em Curitiba, o bungalow de Alfredo Pfeiffer não resistiu à renovação imobiliária do século XXI. Demolido antes de 2012, provavelmente para dar lugar a um edifício de apartamentos ou a um empreendimento comercial, seu fim ilustra o desafio contínuo entre desenvolvimento urbano e preservação do patrimônio edificado comum — aquele que, embora não monumental, conta a história cotidiana da cidade.

Felizmente, seu projeto sobrevive nos arquivos. A prancha assinada por Eduardo Fernando Chaves e o alvará nº 1228/1935 permitem reconstruir, ainda que virtualmente, sua forma, proporção e intenção.


Conclusão: O Valor do Cotidiano Arquitetônico

O bungalow de Alfredo Pfeiffer nunca foi um monumento. Não abrigou eventos históricos nem figuras públicas. Mas foi lar. Foi o lugar onde refeições foram servidas, crianças cresceram, e decisões familiares foram tomadas. Sua arquitetura, aparentemente modesta, era parte de um tecido urbano onde cada casa contribuía para a identidade coletiva da cidade.

Preservar a memória de edifícios como este não é nostalgia — é reconhecer que a história de uma cidade está também nas casas que já não existem, mas que, por meio de documentos, continuam a ensinar sobre quem fomos e como vivemos.

Em cada planta arquitetônica esquecida, há uma vida que merece ser lembrada.


Fontes:

  1. CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow para o Snr. Alfredo Pfeiffer. Planta dos pavimentos térreo e superior, implantação, corte, fachada frontal e muro. Microfilme digitalizado.
  2. Alvará de Construção nº 1228/1935. Arquivo Municipal de Curitiba.
  3. Estudos sobre a arquitetura residencial em Curitiba (1920–1950). IPPUC – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba.

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