Denominação inicial: Projecto de uma casa nova e mudança da velha, para o Snr. Benedicto Ogg
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica
Endereço: Rua Marechal Deodoro, nº 122
Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 60,00 m²
Área Total: 60,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos
Data do Projeto Arquitetônico: 20/02/1929
Alvará de Construção: Talão Nº 119; Nº 147/1929
Descrição: Projeto Arquitetônico para a construção de nova casa.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico.
Referências:
1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de uma casa nova e mudança da velha casa para o Snr. Benedicto Ogg. Plantas do pavimento térreo e de implantação, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
1 - Projeto Arquitetônico.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.
Benedicto Ogg e Sua Casa de 60 m²: Uma Memória Arquitetônica Perdida na Rua Marechal Deodoro
Na Curitiba de 1929, entre bonde elétrico e o perfume dos pinheirais recém-cortados para dar lugar a novas ruas, um homem chamado Benedicto Ogg sonhou com uma casa nova. Modesta, funcional, econômica — mas sua. Hoje, embora o edifício tenha desaparecido, seu projeto permanece como testemunho sensível de uma era em que a cidade crescia tijolo por tijolo, sonho por sonho.
O Projeto de Reinvenção: “Casa Nova e Mudança da Velha”
Em 20 de fevereiro de 1929, o escritório Gastão Chaves & Cia. — um dos mais ativos na elaboração de projetos residenciais da primeira metade do século XX em Curitiba — assinou o Projecto de uma casa nova e mudança da velha, para o Snr. Benedicto Ogg. O título do projeto, em si, já carrega uma narrativa: não se tratava apenas de construir, mas de substituir, melhorar, recomeçar.
Localizada no número 122 da Rua Marechal Deodoro — uma das vias mais centrais e históricas da capital paranaense —, a nova residência ocuparia um terreno urbano estratégico, próximo ao comércio, à igreja matriz e aos escritórios públicos. Era um endereço de conveniência, ideal para uma família da classe média emergente.
Com apenas um pavimento e 60,00 m² de área construída, a planta era compacta, mas inteligente. A prancha do projeto (única imagem preservada, referência 1) incluía:
- Planta do pavimento térreo, com distribuição racional de espaços;
- Implantação no lote, respeitando recuos urbanísticos da época;
- Corte arquitetônico, revelando pé-direito modesto, mas suficiente para conforto térmico;
- Fachada frontal, simples, com simetria equilibrada, portas e janelas funcionais, sem ornamentos supérfluos.
Construída em alvenaria de tijolos, técnica dominante na época, a casa refletia o ideal da residência econômica: solidez, durabilidade e custo acessível. O telhado provavelmente era de telha cerâmica, e a ventilação natural era garantida por aberturas bem posicionadas — soluções práticas, mas eficazes.
Benedicto Ogg: Um Cidadão Anônimo com um Sonho Comum
Pouco ou nada se sabe sobre a vida pessoal de Benedicto Ogg. Seu sobrenome sugere ascendência germânica, comum entre os imigrantes que chegaram ao Paraná no final do século XIX e início do XX — muitos dos quais se estabeleceram como comerciantes, artesãos ou pequenos proprietários urbanos. O fato de encomendar um projeto arquitetônico — mesmo modesto — indica certo grau de estabilidade financeira e consciência da importância de um lar bem planejado.
O Alvará de Construção, registrado sob o Talão nº 119, nº 147/1929, confirma que a obra foi legalizada junto à Prefeitura de Curitiba, demonstrando que até as residências mais simples estavam sujeitas a normas urbanísticas — um sinal do esforço da cidade em organizar seu crescimento acelerado.
Desaparecimento Silencioso: A Perda de um Patrimônio Cotidiano
Infelizmente, em 2012, a casa de Benedicto Ogg já havia sido demolida. Seu lugar na Rua Marechal Deodoro provavelmente foi ocupado por um edifício comercial, um estacionamento ou um novo empreendimento imobiliário — sinais de uma cidade que avança, mas frequentemente apaga suas memórias mais sutis.
Ao contrário dos palacetes ou das mansões preservadas como museus, as residências econômicas raramente são protegidas. E ainda assim, são elas que formam a espinha dorsal da identidade urbana: são as casas onde nasceram gerações, onde se cozinhava o barreado, onde as crianças iam à escola a pé, onde os vizinhos se cumprimentavam pelas janelas.
A demolição da casa de Ogg não é apenas a perda de um tijolo ou de uma laje — é a apagamento de uma história cotidiana, de um modo de viver que já não existe.
O Projeto como Último Testemunho
Felizmente, o projeto arquitetônico original sobreviveu, preservado em microfilme digitalizado nos arquivos públicos. Essa prancha é agora o único vestígio material da casa. Nela, podemos sentir a intenção do arquiteto: criar um lar digno, com o mínimo necessário para uma vida plena. Cada linha desenhada foi um gesto de cuidado com quem habitaria aquele espaço.
Gastão Chaves & Cia., ao projetar essa residência, não buscava fama, mas serviço — e nisso reside sua grandeza. Eles construíram a Curitiba real, não a idealizada.
Epílogo: Lembrar o que Não Está Mais
A casa de Benedicto Ogg não existe mais. Mas seu projeto nos lembra que a história urbana não pertence apenas aos grandes nomes, mas também aos Benedictos anônimos — homens e mulheres que, com esforço e esperança, ergueram suas vidas em casas pequenas, mas cheias de significado.
Que este artigo seja um ato de memória. Porque, mesmo sem paredes, algumas casas continuam de pé na lembrança.
“Demolir um edifício é fácil. O difícil é apagar o que nele viveu.”
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