UM TEMPLO EM RUÍNAS NO LITORAL
Por João Baptista Groff
Revista Illustração Paranaense, número de julho de 1929.
No Município de Morretes, próximo a Estação Jacarehy, no lugar chamado Taperussú, próximo às margens do Rio Saquarema, em plena floresta virgem, existe uma notável construção.
Poucos conhecem no Paraná essas ruínas. Mesmo nos lugares circunvizinhos, ninguém menciona aquela maravilha dos primeiros habitantes do litoral. Um simples acaso nos levou a esse lugar. Apanhando vistas do Rio Saquarema, em companhia de Lange de Morretes, encontramos um morador daquelas paragens. Ao ser interpelado sobre as cousas interessantes das proximidades nos disse: “Ahi pertinho existe uma grande casa abandonada, dentro do mato”. Duvidamos. Mas o caboclo insistiu e então resolvemos segui-lo. Percorremos dois quilômetros pelo leito da ferrovia em direção a Morretes. Entramos pela direita por um caminho que atravessa a capoeira.
Tinhamos andado alguns quilômetros, talvez cinco, quando a mataria começou a ficar mais frondosa. Estamos num local que mais parece um grande parque do que um bosque.
Altíssimas árvores cujas copas se entrelaçam tornando o lugar permanentemente semi-escuro, apesar do céu límpido e o sol fortíssimo do meio dia...
Notamos alguns pés de bananeiras, laranjeiras, cafeeiros, cana de açúcar e até tabaco, tudo, porém em estado selvagem. De súbito, entre a mataria mais frondosa, divisamos um grande paredão. Aproximamos-nos. Uma porta e quatro janelas, na frente voltada para o norte como quase todas as construções dos jesuítas no Brasil. A porta por um capricho da natureza tinha a sua moldura natural, formada por raízes de figueira. Entramos no Templo. A vegetação luxuriante dominava em todos os recantos, até pelas muralhas se agarram as parasitas. No cimo dos paredões grandes árvores se erguiam majestosas, tendo as suas raízes descido até alcançarem a terra. Na parte interna ainda se erguia uma coluna quadrada com base granítica. Nas janelas existem grandes lajes de pedra que serviram de bancos quando eram habitadas as velhas ruínas.
Do lado esquerdo existe um nicho trabalhado em granito. Na parte traseira grandes cafeeiros em verdadeiro estado selvagem se agarram as muralhas como trepadeiras. Era época de frutos maduros, pequeninos como grãos de milho.
O chão está todo esburacado. Disse-nos o guia que estão procurando as panelas de ouro... deixadas pelos jesuítas.
Informou-nos mais que os seus avós tinham lhe transmitido que as ruínas pertenceram aos jesuítas e foram por eles abandonadas por ocasião da expulsão dos mesmos do Brasil. E que depois foram habitadas pelos locais, mas estes foram obrigados também a abandoná-la, devido a aparição de uma velha preta que gritava loucamente, deixando todos espavoridos,,,
Seria verdadeira a narração do caboclo?
Procuramos saber a origem daquele templo e ninguém soube nos informar ao certo.
O Dr. Ermelino de Leão nos disse: era a capela de Santa Isabel mas, que tendo verificado nos inventários de confisco de bens jesuítas, não figura semelhante propriedade da Companhia. Disse-nos que documentos antigos mencionam pertencer a capela de Santa Isabel ao paranaguense Sr. Matheus da Costa Rosa, que a obteve por herança e arrematação, tendo posteriormente obtido cartas de sesmaria passadas por Luiz de Mascarenhas, Governador de São Paulo, aos 14 de julho de 1759.
É fato conhecido, nos disse Ermelino de Leão, que a 19 de janeiro de 1759 foram os jesuítas banidos de Portugal e suas colônias e a 3 de setembro do mesmo ano banidos por traidores, rebeldes, adversários e agressores a pessoa de Dom José. As providencias tomadas pelo Marques de Pombal, para o bom e completo êxito da prisão e expulsão dos jesuítas, surtiram os desejados efeitos, e no mês de setembro de 1760, debaixo de todo sigilo, estavam encarcerados os sacerdotes daquela Companhia que residiam nas Capitanias do Sul do Brasil.
Como conseqüência dos atos de rebelião, foram os seus bens declarados vagantes e incorporados ao fisco a 15 de fevereiro de 1761. É natural que fossem posteriormente vendidos em hasta pública e que o sítio do Senábio, onde estão as ruínas, como propriedade dos jesuítas, igualmente passasse para o domínio particular como se constata da primitiva escritura.
Disse-nos ainda que o Dr. Matheus da Costa Rosa era homem de haveres: dono das lavras de ouro do Arraial Grande, possuindo numerosa escravatura, e que bem poderia construir, nos seus vastos domínios, a capela destinada ao culto divino, quanto mais não faltavam na sua família, sacerdotes para tal cura.
Resta saber por que o Dr. Matheus iria escolher o patrocínio de Santa Isabel para a capela ereta no seu sítio.
A biografia do opulento paranaguense fornece completo esclarecimento. O Dr. Matheus era casado com Dona Isabel Archangela do Pilar de Almeida Castello Branco. Pois, era natural que o referido senhor consagrasse como orago da Capela Santa Isabel, onomástica da sua esposa que pertencia à família fidalga
Informação do acervo bibliográfico de Eric Joubert Hunzicker - E-mail: eric.hunzicker@hotmail.com – cedido ao portal Nosso Litoral do Paraná em 06/1/2011.
Por João Baptista Groff
Revista Illustração Paranaense, número de julho de 1929.
No Município de Morretes, próximo a Estação Jacarehy, no lugar chamado Taperussú, próximo às margens do Rio Saquarema, em plena floresta virgem, existe uma notável construção.
Poucos conhecem no Paraná essas ruínas. Mesmo nos lugares circunvizinhos, ninguém menciona aquela maravilha dos primeiros habitantes do litoral. Um simples acaso nos levou a esse lugar. Apanhando vistas do Rio Saquarema, em companhia de Lange de Morretes, encontramos um morador daquelas paragens. Ao ser interpelado sobre as cousas interessantes das proximidades nos disse: “Ahi pertinho existe uma grande casa abandonada, dentro do mato”. Duvidamos. Mas o caboclo insistiu e então resolvemos segui-lo. Percorremos dois quilômetros pelo leito da ferrovia em direção a Morretes. Entramos pela direita por um caminho que atravessa a capoeira.
Tinhamos andado alguns quilômetros, talvez cinco, quando a mataria começou a ficar mais frondosa. Estamos num local que mais parece um grande parque do que um bosque.
Altíssimas árvores cujas copas se entrelaçam tornando o lugar permanentemente semi-escuro, apesar do céu límpido e o sol fortíssimo do meio dia...
Notamos alguns pés de bananeiras, laranjeiras, cafeeiros, cana de açúcar e até tabaco, tudo, porém em estado selvagem. De súbito, entre a mataria mais frondosa, divisamos um grande paredão. Aproximamos-nos. Uma porta e quatro janelas, na frente voltada para o norte como quase todas as construções dos jesuítas no Brasil. A porta por um capricho da natureza tinha a sua moldura natural, formada por raízes de figueira. Entramos no Templo. A vegetação luxuriante dominava em todos os recantos, até pelas muralhas se agarram as parasitas. No cimo dos paredões grandes árvores se erguiam majestosas, tendo as suas raízes descido até alcançarem a terra. Na parte interna ainda se erguia uma coluna quadrada com base granítica. Nas janelas existem grandes lajes de pedra que serviram de bancos quando eram habitadas as velhas ruínas.
Do lado esquerdo existe um nicho trabalhado em granito. Na parte traseira grandes cafeeiros em verdadeiro estado selvagem se agarram as muralhas como trepadeiras. Era época de frutos maduros, pequeninos como grãos de milho.
O chão está todo esburacado. Disse-nos o guia que estão procurando as panelas de ouro... deixadas pelos jesuítas.
Informou-nos mais que os seus avós tinham lhe transmitido que as ruínas pertenceram aos jesuítas e foram por eles abandonadas por ocasião da expulsão dos mesmos do Brasil. E que depois foram habitadas pelos locais, mas estes foram obrigados também a abandoná-la, devido a aparição de uma velha preta que gritava loucamente, deixando todos espavoridos,,,
Seria verdadeira a narração do caboclo?
Procuramos saber a origem daquele templo e ninguém soube nos informar ao certo.
O Dr. Ermelino de Leão nos disse: era a capela de Santa Isabel mas, que tendo verificado nos inventários de confisco de bens jesuítas, não figura semelhante propriedade da Companhia. Disse-nos que documentos antigos mencionam pertencer a capela de Santa Isabel ao paranaguense Sr. Matheus da Costa Rosa, que a obteve por herança e arrematação, tendo posteriormente obtido cartas de sesmaria passadas por Luiz de Mascarenhas, Governador de São Paulo, aos 14 de julho de 1759.
É fato conhecido, nos disse Ermelino de Leão, que a 19 de janeiro de 1759 foram os jesuítas banidos de Portugal e suas colônias e a 3 de setembro do mesmo ano banidos por traidores, rebeldes, adversários e agressores a pessoa de Dom José. As providencias tomadas pelo Marques de Pombal, para o bom e completo êxito da prisão e expulsão dos jesuítas, surtiram os desejados efeitos, e no mês de setembro de 1760, debaixo de todo sigilo, estavam encarcerados os sacerdotes daquela Companhia que residiam nas Capitanias do Sul do Brasil.
Como conseqüência dos atos de rebelião, foram os seus bens declarados vagantes e incorporados ao fisco a 15 de fevereiro de 1761. É natural que fossem posteriormente vendidos em hasta pública e que o sítio do Senábio, onde estão as ruínas, como propriedade dos jesuítas, igualmente passasse para o domínio particular como se constata da primitiva escritura.
Disse-nos ainda que o Dr. Matheus da Costa Rosa era homem de haveres: dono das lavras de ouro do Arraial Grande, possuindo numerosa escravatura, e que bem poderia construir, nos seus vastos domínios, a capela destinada ao culto divino, quanto mais não faltavam na sua família, sacerdotes para tal cura.
Resta saber por que o Dr. Matheus iria escolher o patrocínio de Santa Isabel para a capela ereta no seu sítio.
A biografia do opulento paranaguense fornece completo esclarecimento. O Dr. Matheus era casado com Dona Isabel Archangela do Pilar de Almeida Castello Branco. Pois, era natural que o referido senhor consagrasse como orago da Capela Santa Isabel, onomástica da sua esposa que pertencia à família fidalga
Informação do acervo bibliográfico de Eric Joubert Hunzicker - E-mail: eric.hunzicker@hotmail.com – cedido ao portal Nosso Litoral do Paraná em 06/1/2011.
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