PARANAGUÁ E SUA HOMENAGEM POÉTICA AOS MORTOS
" Eis, ó paranagüenses, a tábua necrológica de vossos falecidos maiores, desses nobres avoengos de cujos troncos descendeis; desses que já foram ceifados pela mão da cruenta morte e suas cinzas jazem espargidas no mesmo solo que as fez reproduzir.
É lei invariável da natureza que todo vivente, chegando ao ponto do seu ocaso, tem de voltar ao oriente do nascimento; verdade demonstrada naquelas palavras que a santa religião nos faz recordar nossa frágil existência: "Lembra-te que és pó; e que em pó te hás te voltar" - Pulvis es, et in pulverem reverteris". O que é o homem? Um meio ente, um ser estropeado, posto entre o nada e o túmulo. Desabrocha como a débil flor o orvalho matutino, mas apenas o astro do dia dardeja seus raios, murcha, definha e seca. É a sombra fugitiva que não permanece no mesmo estudo. É a água que corre sobre a terra para mais não voltar. Omnis morimur et quase aqua dilabimur, in terram quo non revertetur. Assim a implacável morte pisa com igual pé o majestoso palácio dos reis e a humilde cabana do pobre.
Nem honras, ou prazeres, nem o viço valente da mocidade, nem a beleza e a delicadeza do sexo, ou a força atlética do homem robusto podem alongar a sua existência sobre a terra, embotando o fio da foice que corta seus dias.
Ó homem! Ó cinza soberba, quais são os títulos de tua grandeza, da tua glória? Omnes morimur et quasi aqua dilabimur in terram quo non revertetur.
Se a virtude á capaz de encher o vazio que a fama deixa nas ações dos heróis do século, só a religião pode fixar a inconstância e a estabilidade da glória, da fortuna e do mundo. O homem sem virtudes, sem religião, é a imagem do vácuo, é um cadáver ambulante, pasto da podridão e dos vermes.
Embora a fortuna, ou o acaso o tenham feito nascer no meio da pompa e das grandezas, embora conte na longa série de seus antepassados nomes ilustres que primaram entre os seus semelhantes por títulos ou dignidades, se ele não se enobrece a si mesmo pela prática das virtudes, ainda quando as vicissitudes das coisas humanas o elevem ao cúmulo das grandezas e da glória, esta glória não é mais que um fantasma.
Suas grandezas são como as lembranças de um sonho que não torna a existir, é a espuma leviana que a tempestade dispersa. Para que o homem seja digno da estima de seus contemporâneos, para que mereça as bênçãos das gerações futuras, para que seu nome ocupe uma página na história, cheia de glória, é mister que a humanidade, justiça e benevolência, o patriotismo e a beneficência brilhem nele como homem, como cidadão, e de mais a mais que a religião, que o Cristianismo purifiquem estas virtudes, dêem-lhe este toque sublime que só podem afiançara verdadeira felicidade.
Tais, ó paranagüenses, são as virtudes patrióticas que devereis ter para que vossos nomes possam ficar gloriosos nos séculos futuros. ...".
Paulo Grani.
Cortejo funerário puxado por cavalos, em 1913.
Paramentos de funeral em 1913.
Cemitério Municipal de Paranaguá.
Túmulos antigos, cemitério municipal de Paranaguá.
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