sábado, 28 de janeiro de 2023

Palácio Garibaldi: o palácio do Centro Histórico de Curitiba

 Palácio Garibaldi: o palácio do Centro Histórico de Curitiba

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Ao caminhar pelas ruas do Centro Histórico, você já se deparou com essa construção que impressiona, enche os olhos e aguça a curiosidade de saber como, desde quando e por que está ali?


Pois neste texto, o Turistória vai contar a história de um palácio que leva o nome de Giuseppe Garibaldi, e que fica em frente à Praça Garibaldi, no Alto São Francisco (ali em frente, todo domingo, há a Feirinha do Largo).


Quem foi Giuseppe Garibaldi?


Giuseppe Garibaldi nasceu no dia 4 de Julho de 1807 na cidade de Nizza, principal porto do reino da Sardenha (atual cidade de Nice, na França). De uma família de marinheiros, ainda jovem começou a trabalhar como aprendiz e depois como marinheiro em navios comerciais que navegavam no Mar Mediterrâneo e no Mar Negro.


Em uma dessas viagens, em 1833, o navio em que Garibaldi estava fez uma parada em Constantinopla - cidade em que muitos exilados políticos europeus se refugiavam e onde desembarcaram treze passageiros, seguidores das ideias socialistas do filósofo Henri de Saint-Simon. Na viagem, o líder desse grupo, Emile Barrault, explicou a Garibaldi os ideiais que defendiam, entre eles o pacifismo, o igualitarismo e a equidade entre homens e mulheres.


Em reportagem publicada na BBC News, intitulada A vida de Giuseppe Garibaldi, ‘herói de dois mundos’ que unificou a Itália e lutou no Brasil, Angelo Attanasio explica um pouco da formação política de Garibaldi:


Anos depois, Garibaldi explicaria ao escritor francês Alexandre Dumas, que escreveria as memórias do general italiano, como um conceito de Barrault foi particularmente decisivo para sua formação política.


"O homem que defende seu país ou que ataca outro não passa de um soldado", disse Garibaldi ao autor do romance O Conde de Monte Cristo.


"Por outro lado, o homem que, ao se tornar cosmopolita, adota a humanidade como sua pátria e vai oferecer sua espada e seu sangue a todos os que lutam contra a tirania, é mais que um soldado: é um herói", afirmou.

Esse pensamento nos ajuda a entender o motivo pelo qual, além de lutar pela unificação de sua terra natal, a Itália, Garibaldi também se envolveu em outros conflitos e causas no continente americano, a milhares de quilômetros de distância de sua cidade de origem, como foi o caso da Revolução Farroupilha e da Guerra Civil Uruguaia.


Esse é um dos motivos pelos quais existem monumentos e homenagens a Giuseppe Garibaldi não apenas na Itália mas em diversas outras regiões do mundo. No caso de Curitiba, a memória de Garibaldi se mantém viva, entre outras coisas, através do palácio e da sociedade fundada por imigrantes italianos, que levam seu nome.

Sociedade Garibaldi


Antes de falar sobre o Palácio Garibaldi em si, precisamos falar sobre o que lhe deu origem e o que motivou sua construção. Tudo começou com os imigrantes italianos que chegaram ao Brasil e ao Paraná no final do século XIX. No contexto da abolição da escravidão (1888), o governo brasileiro promoveu uma política de incentivo à imigração, que tinha como objetivos suprir a mão de obra - já que negros não poderiam mais ser escravizados -, e também "embranquecer" a população, sob influência de ideias eugenistas em voga no período.


Vários desses italianos, juntando-se a outros que já estavam aqui há mais tempo, se instalaram em Curitiba formando colônias. Unidos pelo mesmo ideal, os imigrantes fundaram uma sociedade - que inicialmente levava o nome de Società Italiana di Mutuo Soccorso Giuseppe Garibaldi - a fim de estabelecer um espaço de ajuda mútua e, principalmente, preservar a cultura dos seus membros. Um dos meios para atingir esse objetivo era a educação de crianças, para que a língua materna não se perdesse. Era julho de 1883 e a homenagem a Giuseppe Garibaldi foi unanimidade entre os fundadores, principalmente pela sua participação  nas lutas pela unificação do território da Itália.


Para isso, membros da Sociedade, em 1887, enviaram um requerimento à Câmara Municipal de Curitiba solicitando um terreno para abrigar a escola e a sede da associação:


O Conselho Administrativo da Sociedade Italiana de Beneficencia Giuseppe Garibaldi requer uma área do terreno no Alto São Francisco para a fundação de uma casa escolar – brasileira e italiana – servindo ao mesmo tempo de sede da referida sociedade. É altamente nobre a resolução tomada por aquelle digno conselho; por quanto a criação de uma escola attestando aos vindouros o espírito alevantado daquela sociedade, também honra e muito o logar em que se acha installada – assim, a commissão do quadro urbano, é de parecer que se conceda o terreno requerido. (Jornal Dezenove de Dezembro, 18 de abril de 1887)

 

O Palácio


Para a construção da sede, os sócios receberam do município, conforme requerido, um terreno localizado no bairro São Francisco, na praça que hoje também se chama Garibaldi, entre a Avenida Jaime Reis e a Alameda Dr. Murici, no canto mais alto do Centro Histórico.

 

A pedra fundamental do Palácio foi lançada em 24 de julho de 1887. Na ata da cerimônia, consta a presença de importantes personalidades como o Presidente da Província do Paraná, Joaquim de Almeida Faria Sobrinho, e o Barão do Serro Azul (Ildefonso Pereira Correa).


As obras só foram concluídas anos depois, no início do século seguinte, em 1904. O projeto de construção foi encabeçado pelo engenheiro italiano Ernesto Guaita, cônsul italiano, também responsável por outras obras na cidade como o prédio da atual Câmara Municipal e o prédio do atual Museu da Imagem e do Som do Paraná.


A imponente fachada do prédio, com características da arquitetura neoclássica, foi finalizada apenas 32 anos depois, pelo também arquiteto italiano João de Mio, responsável por outras construções em Curitiba, como o prédio do Círculo de Estudos Bandeirantes. A escadaria de pedras e o portão frontal foram um trabalho a parte, esculpidos e moldados pelas mãos de artistas italianos.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1945), o Brasil colocou-se ao lado dos chamados Aliados e rompeu relações diplomáticas com os países do Eixo (Itália, Japão e Alemanha). A partir disso, houve diversos episódios de hostilidade a locais, estabelecimentos, associações, etc, identificados com estes três países. Essa hostilidade se materializou através de muitos casos de depredações por parte de civis e repressão por parte das forças oficiais. Nesse contexto, o então chefe da Polícia do Paraná, Dr. Fausto Bittencourt, decretou a ocupação do Palácio Garibaldi, do Clube Concórdia, e da Sociedade Rio Branco, em Curitiba, para afirmar a posição contrária do Brasil em relação a esses países durante a Guerra. A Delegacia de Ordem Política e Social do Paraná (DOPS) chegou a elaborar dossiês que monitoraram a atuação da Sociedade Garibaldi, no fim da década de 1930 e início da década de 1940. Atualmente, os dossiês estão disponíveis para consulta e pesquisa no Arquivo Público do Paraná.


Em 1943, o governo desapropriou a sede do Palácio, que passou a abrigar a Liga da Defesa Nacional. O prédio só voltou à posse da Sociedade Garibaldi em 1962, após diversos processos judiciais e políticos. Durante esse tempo, o Palácio abrigou o Centro de Letras do Paraná, o Centro de Cultura Feminina, a Academia Paranaense de Letras e o Tribunal de Justiça do Estado.

Quando o prédio voltou a ser da Sociedade Garibaldi, no entanto, ele estava em mau estado de conservação e precisando de reparos. Logo que voltou a ser utilizado em bailes e festividades da Sociedade, já se notava a necessidade de reparos e melhorias. Foram feitas campanhas para angariar fundos para o restauro do prédio, o que veio a ocorrer na década de 1990.

Em 1999, poucos anos depois do restauro do prédio, o produtor de cinema Rubens Gennaro gravou o filme "Oriundi", do diretor Ricardo Bravo, tendo como palco locais da cidade de Curitiba e o próprio Palácio Garibaldi. O tema do filme possui relação com a identidade do Palácio Garibaldi: conta a história de um imigrante italiano que mora em Curitiba e recebe a visita de uma parente distante da Itália que ele acredita ser a reencarnação de sua falecida esposa.


Gennaro relata que, quando em jantar no próprio Palácio Garibaldi, contou a amigos que traria o famoso ator Anthony Quinn para ali gravar um filme, foi alvo de risadas por parte de seus colegas, que não acreditaram nessa possibilidade.   

Em um jardim externo em frente ao Palácio, destaca-se o busto de Monsenhor Celso (1849-1930), que foi Vigário da Diocese de Curitiba e importantíssimo para a história da cidade, como diz a mensagem impressa: “Foi bom para Todos”. Até os anos 90, o busto esteve no local onde hoje está a Fonte da Memória/Cavalo-Babão.


Na lateral do jardim externo, entrando pelo suntuoso portão frontal, há uma rocha de mais de 2 metros extraída do Monte Grappa, direto da região do Vêneto, na Itália, que simboliza um monumento em homenagem aos soldados italianos mortos na Primeira Guerra Mundial, na Batalha de Monte Grappa.

O lado de dentro do Palácio é cheio de detalhes imponentes. Na sala do acervo, tudo é cheio de memórias e de história. A Sociedade detém uma série de documentos e registros dos imigrantes, numa antiga adega que hoje nos mostra a estrutura feita em amarração de pedras e tijolos, em paredes de até 1 metro de largura. São 19 cômodos ao todo, distribuídos em dois pavimentos separados por uma impressionante escadarias, que ligam o salão principal da frente, ao grande salão do segundo andar.


Através das janelas em formato de arco, a paisagem é mais do que curitibana: as torres das igrejas, as araucárias ao redor, e uma vista privilegiada de todo o Largo da Ordem.

Atualmente, é reconhecido como uma Unidade de Interesse de Preservação (UIP) pelo município de Curitiba. A relevância arquitetônica do Palácio Garibaldi foi reconhecida também pelo governo estadual, quando foi tombado em janeiro de 1988.


Hoje, seus salões amplos e toda sua estrutura são palco de diversos eventos tanto de celebrações da comunidade italiana e de associados da Garibaldi quanto evento particulares. É difícil exprimir, com riqueza de detalhes, toda a beleza e imponência desse exemplar do patrimônio histórico de Curitiba, que por muitas vezes passa despercebido por nossos olhos. 



Texto e pesquisa de Driele Linhares e Gabriel Brum Perin


Fontes de pesquisa:


https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2019/08/quem-foi-giuseppe-garibaldi-o-herois-de-dois-mundos.html


https://www.bbc.com/portuguese/geral-56424296


MASCHIO, Elaine Cátia Falcade.
 
A escolarização dos imigrantes e de seus descendentes nas colônias italianas de Curitiba, entre táticas e estratégias (1875-1930) / Elaine Cátia Falcade Maschio. – Curitiba, 2012. 341 f. Orientador: Prof. Dr. Marcus Aurélio Taborda de Oliveira Tese (Doutorado em Educação) – Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/29795/R%20-%20T%20-%20ELAINE%20CATIA%20FALCADE%20MASCHIO.pdf?sequence=1


https://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/sites/patrimonio-cultural/arquivos_restritos/files/documento/2022-01/ctb5.pdf


https://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/Bem-Tombado/Palacio-Garibaldi-Curitiba


Documentário Palácio Garibaldi 132 anos
. Direção: Vinni Gennaro. Curitiba, 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QDFkKfDcS4s&t=1072s


https://pergamum.curitiba.pr.gov.br/pergamum/biblioteca/index.php


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