sábado, 28 de janeiro de 2023

Confeitaria das Famílias: a curitibana onde foi criada a Torta Martha Rocha

 Confeitaria das Famílias: a curitibana onde foi criada a Torta Martha Rocha

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No dia 11 de outubro de 1945, foi inaugurada a Confeitaria das Famílias, de propriedade do espanhol Jesus Alvarez Terzado. Desde então o empreendimento segue em funcionamento, sendo um dos mais antigos em atividade da histórica Rua XV de Novembro.


Jesus Alvarez Terzado passou por Cuba, Argentina, Portugal, França e Itália antes de chegar ao Brasil em 1936. Antes de morar em Curitiba, Terzado passou também por Campinas e pela cidade gaúcha de Rio Grande.


Antes de se tornar confeitaria, o prédio abrigou outros estabelecimentos (um salão de sinuca e um estúdio fotográfico). “Este era o único prédio que estava para vender, por isto foi o escolhido pelo meu marido. Ele estava bem velho e precisou ser reformado para receber a confeitaria”, conta Dair da Costa Terzado, esposa do fundador e confeiteiro Jesus Terzado. Dair e Jesus se casaram em 1951.


Ao longo das décadas, o espaço físico e a fama da Confeitaria foram crescendo. E um dos marcos que ajudou no aumento da fama do estabelecimento aconteceu em 1954. No concurso de Miss Universo daquele ano, a favorita era a baiana de 21 anos e Miss Brasil, Martha Rocha. O resultado final deixou o Brasil todo estarrecido - chegando a ser comparado à derrota da seleção brasileira para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950. Quem ganhou foi a estadunidense Miriam Stevenson.


Popularmente, ficou famosa a história de que Martha Rocha teria perdido o prêmio por conta de 2 polegadas a mais no quadril em relação à norte-americana. Esse motivo, no entanto, foi uma invenção do repórter João Martins, que cobrira o evento pela revista O Cruzeiro, para servir como “consolo” aos brasileiros.



O motivo real para a coroação de Stevenson em vez da brasileira foi a ameaça de rompimento dos patrocinadores do evento. Havia anos, o público dos EUA estava desinteressado pela competição, algo que colocava em cheque a sua continuidade. Coroar alguém do país norte-americano, assim, daria um novo fôlego ao espetáculo, e foi o que fizeram os juízes.


A própria Miriam Stevenson, eleita Miss Universo, também confessou que achava que a brasileira seria a vencedora em entrevista ao jornalista João Martins, da revista O Cruzeiro.


Vendo a tristeza de sua esposa Dair com o fato de Martha Rocha não ter ganhado o prêmio, Jesus Alvarez decidiu homenagear a Miss Brasil criando uma torta com o seu nome. Com isso, a Torta de Fondant, receita espanhola que leva massa de pão de ló recheada com creme de ovos, nozes e suspiros, passou a se chamar Torta Martha Rocha.


“Foi um consolo para mim, que estava inconformada com a injustiça da perda do título de Miss Universo, e um sucesso total para a confeitaria”, contou Dair após a morte do marido em 1984. A torta/bolo se popularizou em todo o país, principalmente na região Sul e Sudeste. Se você, leitor, é do Paraná, aposto que já conhecia o Bolo Martha Rocha, mas talvez não soubesse que ele foi criado aqui mesmo, em Curitiba, na Rua das Flores.


Com o crescimento da confeitaria, o balcão de madeira para o atendimento aos clientes, que hoje é apenas a entrada da confeitaria, “se tornou” dois amplos salões com mesas, mobiliário e decorações.


“Em 1985, o segundo piso foi transformado em salão de chá e o depósito, que funcionava ali, subiu para o terceiro pavimento. A cozinha sempre esteve no mesmo local, nos fundos do prédio”, é o que conta um dos gerentes da confeitaria, Waldir Franchetto.


Além da fiel clientela que já vem de anos e segue indo à Confeitaria das Famílias tanto pelos saborosos doces quanto pelo gostinho da memória afetiva, vários artistas também costumam passar pela confeitaria. “O próprio Jô Soares manda buscar roscas espanholas de vez em quando”, relata Franchetto.


De estilo eclético característico das construções do início do século XX da Rua XV, o prédio que abriga a Confeitaria das Famílias é uma Unidade de Interesse e Preservação por conta de sua importância para a história de Curitiba e para a memória dos curitibanos.

 
 
 
 

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