O Paraná, que havia se emancipado da Província de São Paulo em 1853, buscava atrair os imigrantes oferecendo o custeio da passagem de vinda e condições especiais de pagamento pelos lotes concedidos (até dez anos para pagar).
Como é que eles vieram parar no Brasil?
Como já abordamos em colunas passadas, Araucária foi formada por diferentes povos, e entre os símbolos locais que marcam essa diversidade vemos alguns que fazem referência aos poloneses, como o Portal Polonês e o Memorial da Imigração Polonesa, já que aqui se estabeleceram em grande número. Mas o que muita gente se pergunta é: como é que eles vieram parar no Brasil? Para buscar a resposta vamos voltar um pouco no tempo e analisar o contexto da época.
A economia do Brasil nos séculos XVIII e XIX caracterizava-se pelo resquício da produção açucareira no nordeste, exploração de ouro no sudeste e centro-oeste, criação de gado e atividade tropeira no sul, onde também ocorria a indústria extrativa de erva-mate e madeira, e no sudeste produção cafeeira latifundiária, atividades que, em sua maioria, eram voltadas para a exportação e utilizavam em larga escala a mão de obra escrava africana. Era, portanto, insignificante a produção agrícola voltada para a subsistência, o que levava à necessidade de importação de diferentes gêneros agrícolas.
A utilização de mão de obra escrava, por conta de pressões vindas da Inglaterra – potência industrial da época em busca de mercado consumidor - passava, ao longo do século XIX, por um processo de afrouxamento, que culminaria com a abolição, em 1888. Tal fato levou ao início da exploração de novas fontes de mão de obra, atraídas pela política imigratória empreendida pelo governo brasileiro.
Enquanto isso, no século XVIII a Polônia sofria invasões e acabaria dividida entre a Rússia, a Prússia e o Império Austro-Húngaro, sumindo do mapa como nação até o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918. Além desse cenário de dominação, as terras cultiváveis na Polônia estavam concentradas nas mãos da nobreza e latifundiários, tornando-se impossível ao pequeno agricultor a posse de terras e ascensão social. Os pequenos proprietários que tentavam resistir viam-se forçados a vender suas terras por conta dos altos impostos, tornando-se proletários rurais. Somado a isso, a Revolução Industrial, que teve início na Europa na segunda metade do século XVIII, mecanizava a agricultura e substituía muitos trabalhadores rurais, que migravam para as cidades levando uma vida de miséria.
Sendo assim, a política imigratória brasileira, que começou no início do século XIX, significou uma chance real de fuga da condição em que encontravam-se os poloneses, à qual agarraram-se com unhas e dentes, vindo aos milhares para o Brasil, ainda que
implicasse deixar tudo para trás, inclusive alguns familiares. Cartas eram enviadas aos seus entes queridos com relatos de dificuldades, misturadas a sonhos e esperança, a tristeza de algumas perdas, as maravilhas naturais que viam por aqui, a saudade e a promessa de levá-los para junto deles. Porém, muitas dessas correspondências foram interceptadas pelos governantes, sem nunca terem chegado ao seu destino, deixando uma lacuna de dúvidas e preocupações, que desligaram para sempre laços familiares.
No Brasil do início do século XIX existiram duas políticas imigratórias distintas. No sudeste brasileiro, especialmente São Paulo, o interesse em trazer mão de obra europeia visava substituir o trabalho escravo nas lavouras de café. Os imigrantes, em maior número os italianos, trabalhavam para os latifundiários em troca de salário e viviam em cortiços. Já na região sul como um todo os governantes atraíam imigrantes europeus diversos e mais tarde asiáticos, a fim de desbravar e colonizar áreas até então despovoadas, e produzir gêneros alimentícios com base na agricultura familiar para abastecer os centros urbanos, assentando-os em colônias onde teriam a posse da terra.
O Paraná, que havia se emancipado da Província de São Paulo em 1853, buscava atrair os imigrantes oferecendo o custeio da passagem de vinda e condições especiais de pagamento pelos lotes concedidos (até dez anos para pagar). Os lotes eram demarcados e distribuídos pelo governo do Estado, sendo estabelecidas colônias de acordo com cada etnia em torno da capital Curitiba, formando um “cinturão verde”, e, posteriormente, mais ao interior do estado, sendo os poloneses os que chegaram em maior número. Em Araucária foram criadas as colônias polonesas de Cristina e Thomaz Coelho, essa última fundada em 1876, caracterizou-se como a maior colônia polonesa do Brasil, sendo chamada de Nova Polska. Sendo assim, a maioria dos poloneses que vieram ao Brasil chegaram antes ainda das fugas proporcionadas pela Segunda Guerra Mundial, iniciada em 1939.
Nas colônias o trabalho era árduo, era preciso adaptar-se ao clima e desbravar a mata virgem para abrir espaço para as lavouras e construir estradas para escoar a produção. Por aqui as matas eram repletas de pinheiros araucária, que eram comercializados com as serrarias que já existiam na região. De início construíam casas com troncos encaixados, sem a utilização de pregos, depois passaram a usar ripas, mais leves, frescas, fáceis de manejar e econômicas, pois com um pinheiro era possível construir uma casa
inteira. O colorido começava a tomar conta das paredes das casas simples, mas enfeitadas com lambrequins nos beirais. Surgiam flores ao redor da casa. Os primeiros telhados, feitos de madeira falquejada, eram aos poucos substituídos pelos produzidos nas olarias, que surgiam às beiras do rio Passaúna. O trigo e o centeio
começavam a produzir bem, e era preciso construir moinhos para processar a farinha para a broa, e as palhas eram levadas até as fábricas de palhões para que fossem confeccionados invólucros para o transporte de garrafas de vidro. Aos poucos, essas pessoas de fala e sotaque estranhos eram incorporadas à economia local e começavam a influenciar a cultura da região.
(Texto escrito por Cristiane Perretto e Luciane Czelusniak Obrzut Ono - historiadoras)
(Legendas das fotografias:
1 - Família de Nicolau Makuch, estabelecida na colônia Thomaz Coelho, em pose no navio que a transportou em 1928 para o Brasil
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
2 - Malhação de centeio mecanizada no Instituto São Vicente de Paulo, em Thomaz Coelho, 1935, coleção da família de Estefano Jablonski
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
3 - João e Sophia Gawlak em plantação de batata doce em Thomaz Coelho, déc. 1940, coleção da família de Estefano Jablonski
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.)
Família de Nicolau Makuch, estabelecida na colônia Thomaz Coelho, em pose no navio que a transportou em 1928 para o Brasil
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Malhação de centeio mecanizada no Instituto São Vicente de Paulo, em Thomaz Coelho, 1935, coleção da família de Estefano Jablonski
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
João e Sophia Gawlak em plantação de batata doce em Thomaz Coelho, déc. 1940, coleção da família de Estefano Jablonski
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
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