HISTÓRIA DA INVENÇÃO DA MÁQUINA DE CAFÉ "MOKA"
Quando tomei contato pela primeira vez com ela, fiquei fascinado com a singeleza e eficiência daquele pequeno invento e, particularmente, chamei-a de "italianinha". Como bom brasileiro, conhecia alguns modos tradicionais de fazer café no Brasil. O primeiro que conheci, modo feito pela minha mãe, era o café passado no coador de pano. Depois, aprendi com um árabe, o café cujo pó é lançado em água fervendo em uma panela; espera-se até que a espuma formada suba até quase transbordar a panela. Outro, corriqueiro, é semelhante ao processo do coador de pano, porém, usa-se um filtro de papel, Melita.
Há os cafés feitos por processos sofisticados, os quais utilizam máquinas a vapor, máquinas de alavanca e máquinas à bomba, porém, hoje, vamos falar da minha apelidada, a "italianinha", inventada por Luigi di Ponti e Alfonso Bialetti:
O italiano Alfonso Bialetti nasceu em Montebuglio, em 1888, um povoado do município de Casale Corte Cerro, na área de Cusio. Bialetti emigrou para a França ainda muito jovem, onde se tornou um trabalhador em fundição de metais. Na sua experiência de trabalho na França, Bialetti aprendeu a técnica de fundição de alumínio.
Em 1918 Alfonso regressou à sua terra natal onde no ano seguinte, na cidade vizinha Crusinallo, abriu uma fundição, e a batizou de Alfonso Bialetti & C. – Fonderia em Conchiglia. A fábrica era especializada em produtos semi-acabados de alumínio.
Bialetti trabalhou na indústria de alumínio por 10 anos, com a fabricação de utensílios domésticos de metal. Quando o ditador fascista Benito Mussolini colocou um embargo ao aço inoxidável, a Itália, então rica em bauxita (base do minério de alumínio), começou a empregá-lo em outros objetos. Assim, o alumínio tornou-se o metal nacional da Itália.
Na preparação de café em casa existia a "napoletana" (também conhecida como napolitana flip), um pequeno dispositivo de metal com três seções: uma câmara de água, um pequeno disco de café no meio e uma câmara na outra extremidade para o café coado. A água era aquecida com a câmara de água no fundo e, em seguida, todo o dispositivo era virado de cabeça para baixo, permitindo que a água quente goteje pelos grãos e se acumule como café na câmara previamente vazia. Observea-se que na napoletana, nenhuma pressão está envolvida.
Perto de sua fundição em Piemonte, Alfonso Bialetti observou mulheres lavando suas roupas em uma caldeira lacrada com um pequeno cano central. O cano puxava a água com sabão do fundo da caldeira e espalhava sobre a roupa molhada.
O método, de fato, usava um ancestral da máquina de lavar, ou seja, uma enorme panela onde a água com sabão saía por um cano central no meio. Esse método de lavagem fez com que Alfonso imaginasse a máquina de café mais inovadora que tornaria o preparo do café muito simples.
Bialetti decidiu tentar adaptar esta ideia para fazer uma máquina de café que permitisse aos italianos ter um verdadeiro expresso em casa. Assim, já conhecendo o funcionamento da máquina de café expresso La Pavoni que havia sido inventada em 1901, Bialetti apresentou a idéia a Luigi di Ponti que desenvolveu o projeto. Por algum tempo Luigi trabalhou fazendo algumas combinações, juntando os princípios utilizados na "napoletana" e os usados na "caldeira de lavar roupa", até que, em 1933, o invento foi patenteado com o nome "Bialetti Moka Express".
Como o fascismo durou de 1922 até 1943 na Itália, nesse período o país esteve fechado a qualquer intercâmbio de ideias e produtos. Explorando o sentimento de nacionalismo exaltado e os ressentimentos entre os italianos no pós-guerra, os produtos industriais italianos ficaram somente para o consumo dos italianos. Assim, no início, o Moka Express era vendido nos mercados locais da Itália, em especial no Piemonte. A produção começou em 1933 e até o pós-guerra manteve-se artesanal, com 70 mil peças produzidas a cada ano.
O nome Moka refere-se à cidade de Moca, cidade portuária do Iêmen, situada às margens do mar Vermelho, principal produtora do café arábico.
A Moka Express funciona assim: a câmara inferior é preenchida com água até a válvula de segurança. Em seguida, o filtro de metal em forma de funil coloca-se café finamente moído é inserido acima da câmara inferior. A parte superior é firmemente aparafusada na base e a cafeteira é colocada no fogo.
Quando aquecido, a pressão do vapor empurra a água através do filtro para a câmara de coleta. Quando a câmara inferior está quase vazia, ouve-se o ruído característico de um gorgolejo, acompanhado de um delicioso cheiro, que anuncia que o café está pronto.
Com a alta do preço tanto do café quanto do alumínio durante a guerra, a produção foi interrompida e retomada com o final da Segunda Guerra Mundial.
Renato, filho de Alfonso, assumiu os negócios da família em 1946 e decidiu parar de fabricar potes e frigideiras e passou a fabricar apenas as cafeteiras Bialetti Moka Express. Apostando em branding e publicidade, Renato fez com que as vendas da Moka Express crescesse a ponto de, em 1955, 65% das cafeteiras comercializadas no mundo todo fossem "Bialetti".
Anos mais tarde, em 1958, foi desenhado o icônico logotipo da empresa, “O homenzinho de bigode” (L’omino con I baffi), com o dedo indicador erguido como se pedisse um expresso em um bar italiano. O mascote é uma caricatura do filho de Afonso, Renato Bialetti, e feita pelo ilustrador Paolo Campani.
Segundo um levantamento feito na Itália em 1990, a Bialetti Moka Express podia ser encontrada em mais de 90% dos lares italianos em todo o mundo. Grandes populações italianas como Nova York, Chicago, Filadélfia, Buenos Aires, São Paulo, Austrália e Cuba.
A Bialetti Moka Express se tornou tão icônica que está até em exibição na coleção permanente do museu MoMA em Nova York. Seu design permaneceu praticamente o mesmo desde que foi inventada e é o único permitido pela patente Moka.
Renato Bialetti faleceu em 2016 e foi sepultado em um mausoléu feito uma grande réplica da Bialetti Moka Express com o logotipo “homenzinho de bigode”.
(Adaptado de: blogdescalada.com)
Paulo Grani
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